segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Tres Razões para o Show das Poderosas

É a segunda vez que meu gosto musical surpreende meus amigos. Como eu tive enorme influência da MPB desde a pré-adolescência, quando eu já admirava e praticava Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso, Beto Guedes, 14 Bis e companhia, a galera ficou meio confusa quando eu curti a canção “Sonho de Ícaro”, com o Byafra, na década de 80. Isto sem contar alguns hits do Peninha, Fábio Jr, Chitãozinho e Chororó, Claudinho e Bochecha etc. Meus amigos diziam: "Isso é muito brega!". Pois bem, agora é a hora do Show das Poderosas, com a Annita. Curto muito esse som! Tal situação me motivou a apresentar três razões pra essa minha recaída. Prepara!

A primeira razão para curtir o Show das Poderosas tem a ver com o balanço mesmo. É um som descolado, swingado, irmão do funk e da ginga, primo do batuque-samba-funk, que mexe com nossas raízes, nossa história e nosso esqueleto. É a nossa mão batendo na mesa e o nosso pezinho no chão marcando o ritmo, ainda que discretamente, muitas vezes sem perceber, e até mesmo sem gostar do gênero musical em questão. Além disso, esse balanço tem mais métrica e poesia do que muitas músicas badaladíssimas que tocam exaustivamente por aí.

A segunda razão é de caráter sociológico. Gostaria de discorrer muitas coisas sobre isso, mas me restrinjo a dizer que é um som do povo, ou um show do povo. Sua alma popular se manifesta não só como expressão cultural, mas também como protesto diante de diversos preconceitos, repressões e monopólios. Isto se revela nas frases do tipo “Prepara! Agora é a hora!” e “Meu exército é pesado!”. São como gritos de guerra, só que sem violência. É como se fosse um movimento capaz de resistir e até combater “as invejosas” que, é óbvio, simbolizam os preconceitos, repressões e monopólios já citados. E mesmo que seja apenas “dançando”, o movimento é tão impactante que deixará muita gente “babando”.

O último motivo é uma mistura de questão política com questão pessoal. Prefiro o Show das Poderosas da Annita ao show dos poderosos. Cansei de sofrer as performances dos poderes terrenos que atuam no Brasil e no mundo, tanto no contexto político, econômico, militar e religioso quanto no contexto tecnológico, midiático e até mesmo cultural. São tiranias, oligarquias, cleros e absolutismos antigos e modernos que sempre tentaram manipular e monopolizar nossa opinião, nossa vida e nosso destino. São segmentos que se intitulam e agem como se fossem especialistas em tudo e autoridades em matéria de ideologia, saber, cultura e sucesso. É melhor dançar ao som do Show das Poderosas do que dançar conforme a música de certos poderes que fazem o povo “descer e rebolar” há muito tempo. Nesse sentido, vale destacar que a proposta da Annita talvez não traga solução sobre os preconceitos e tiranias do nosso mundo, mas pelo menos proporciona alívio e diversão no meio das pressões a que somos submetidos (já posso imaginar “as invejosas” de plantão censurando a expressão alívio e diversão).


Por fim, desejo boa sorte e juízo ao exército das poderosas. Que elas não sucumbam, não se vendam e não se rendam ao esquema manipulador e monopolizador que ronda ao derredor procurando a quem devorar, como aconteceu com alguns dos heróis da minha pré-adolescência, que ou se associaram ao show dos poderosos ou morreram de overdose.