De alguns anos para cá, tornaram-se muito comuns discussões sobre homofobia. Porém, tenho percebido que o mais adequado seria pensarmos em homofobias. Digo isto porque, em minha opinião, hoje temos a homofobia ativa ou direta e a permissiva ou indireta.
O homofóbico ativo, que chamarei de Tipo 1, é aquela pessoa que sempre teve raiva e exerceu militância contra homossexuais. É o que, combate, ofende e agride o homossexual apenas porque este é homossexual. Trata-se da homofobia direta, fundamentada no ódio. O homofóbico do Tipo 1 é capaz de mudar de calçada só para agredir um gay que está passando do outro lado da rua. “Qual a maldade que eu posso cometer contra esse gayzinho agora?!”, pensa o homofóbico ativo.
O homofóbico permisso, que denomino como Tipo 2, é aquela pessoa que, ao contrário do Tipo 1, sempre teve boa amizade e convívio saudável com gays. É o que sempre defendeu os direitos da pessoa gay assim como faz com o direito de todas as pessoas, mas que de uns tempos para cá passou a ver o movimento gay e seus desdobramentos com certa desconfiança, isto é, não consegue confiar nas motivações dos homossexuais como confiava antes. Assim, a pessoa que passou a ter receio dos interesses homossexuais é capaz de mudar de calçada porque está com receio de um gay que está andando do mesmo lado da rua. É a homofobia indireta, inspirada na falta de confiança, no descrédito e até no medo, e não no ódio. “O que será que este gay pode fazer contra mim agora?!”, pensa o homofóbico permissivo. E eu fico aqui pensando: “O que faz com que alguém comece a permitir tais suspeitas e cismas onde antes não havia? ”
Sem me delongar, creio que um dos fatores que mais contribuíram para o surgimento da homofobia permissiva ou indireta é o fato da imagem dos movimentos gays estar cada vez mais associada às estratégias políticas e ao comportamento midiático. Ora, sabemos que grande parte dos brasileiros não confia nos políticos profissionais tão pouco nas performances da nossa mídia. Por isso, quanto mais a causa homossexual se identificar com os palanques, plataformas partidárias, palcos e auditórios, mais homofóbicos do Tipo 2 surgirão, pois, como já mencionei, aquilo que eu chamo de homofobia permissiva acontece naturalmente pela falta de confiança, medo e descrédito, aspectos muito presentes no relacionamento da população com a política brasileira e com os meios de comunicação como um todo. É lamentável! Pois os dois tipos de homofobia são prejudiciais.
Bem, mesmo se eu não estiver certo quanto às homofobias que descrevi, gosto de lembrar do mundo que eu conheci quando era mais jovem, onde gays e héteros conviviam fraternalmente, sem ódio e sem desconfiança. Um mundo onde nem gays nem héteros conheciam a homofobia. Um tempo em que os gays eram gays e os héteros eram héteros, simplesmente. Um tempo em que um gay podia dizer ao amigo hétero: “Sou gay e quero me casar”. E o amigo hétero podia responder: “Eu não concordo com o casamento gay”. Em seguida os dois iam tomar um chopp e se divertir com outros amigos. Era uma época em que não havia nem ódio nem medo ao escrever um artigo simples e despretencioso como este.
Chego a ter a impressão que, naquela época, o preto e o branco também faziam parte do arco-íris. É isso mesmo... o arco-íris tinha pelo menos 9 cores naquele tempo. Às vezes sinto que esse mundo ainda existe dentro de algumas pessoas. Ainda bem!
Pena que, por outro lado, parece aumentar o número de pessoas que tentam reduzir o arco-íris a apenas duas faixas, a dos homofóbicos e a dos antihomofóbicos.
Pena que, por outro lado, parece aumentar o número de pessoas que tentam reduzir o arco-íris a apenas duas faixas, a dos homofóbicos e a dos antihomofóbicos.