segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sou Mais Tecnológico que Você!

Num desses finais de semana, quando eu e minha família tomávamos uma breve refeição noturna, minha esposa se dirigiu à sala de TV e, dois minutinhos depois, exclamou: “Amor! O que aconteceu com a tela da televisão?! Vem dar uma olhadinha!”. Antes que eu me levantasse da mesa, meu filho de oito anos se levantou rapidamente e disse: “Pode deixar que eu vejo isso, pai. Eu sou mais tecnológico que você!”. Putz! Congelei por alguns segundos, fiquei off line e em stand by ao mesmo tempo. Posso dizer que esse foi o dia em que a terra parou. É meio difícil e meio engraçado tentar descrever o que senti. Parece que eu fiquei em coma ou em órbita enquanto aquela frase inusitada ecoava nas câmaras do meu coração: “Eu sou mais tecnológico que você (você, você, você)!” Graças a Deus, logo fui ressetado e comecei a processar o que havia acontecido. Fiz um back up da minha vida e um download do que estava por vir. Não dá pra negar que a minha primeira conclusão foi bem primitiva: “Buááááááá! Eu estou ficando ultrapassado e todo mundo já percebeu isso, até meu filhinho. Socorro! Eu quero minha placa mãe!”. Mas as avaliações seguintes foram bem mais racionais, otimistas e reconfortantes.
Bem, o mundo vive em constante transformação e meu filho está acompanhando isso. Ótimo! Ele não ficou excluído nem sentado à beira do caminho vendo o trem da história passar. Meu filho segue na direção do futuro, e eu, bem ou mal, estou pegando uma caroninha com ele. Ao vê-lo cheio de energia e visão, eu também me animo e corro atrás. E assim caminhamos juntos!
Outra alegria pós-trauma que eu tive foi o fato de saber que agora tem mais gente pra ajudar a resolver as coisas da casa, alguém com iniciativa e disposição. Eu e minha esposa já não precisamos ver tudo, providenciar tudo e consertar tudo. Lembra? Meu filho se levantou primeiro que eu e disse: “Pode deixar que eu vejo isso, pai”. Eu não precisei ir nem mandar ir! E o melhor de tudo: eu pude terminar de comer minha comidinha sossegado, numa boa, ahhh! Pra ilustrar melhor, dias atrás ele me disse que o seu lançador de beyblade estava quebrado, e eu falei que logo iria arrumar. Passaram-se três dias e lá estava o menino com duas chaves de fenda na mão, abrindo o brinquedo, corrigindo o defeito e resolvendo o problema. Vamo nessa, filhão! Tamo junto! Uhuuu!
Por último, ao fazer tais reflexões sobre o dia em que a terra parou, talvez eu tenha exagerado no download do futuro ao me vir assentado numa mesa tomando uma refeição noturna com meu filho e meu neto, quando minha esposa e minha nora foram pra sala de TV e, alguns minutinhos depois, exclamaram: “Ué, o que será que aconteceu com o painel do teletransporte? Vocês podem dar uma olhadinha?” E antes que eu e meu filho fôssemos ajudá-las, meu neto de 5 anos se levantou e disse: “Pode deixar que eu vejo isso... essa bosta é assim mesmo, é só dar umas batidinhas na lateral da máquina que ela volta a funcionar”. Aí sim! Gostei! Não poderia ser melhor! Ver meu neto plugado nas evoluções e saber que as batidinhas na lateral da máquina ainda funcionam como nos velhos tempos. Fiquei tão animado que saí correndo na frente dele gritando: “Deixa que eu bato nesta merda aí! Se for só isso eu sou mais tecnológico que vocês dois juntos”.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Aos Pés do Soldado

Uma das cenas bíblicas que mais mexem comigo é o apedrejamento de Estevão, um homem simples, decente e autenticamente cristão, que foi brutalmente assassinado por alguns de seus compatriotas porque pensava e agia um pouco diferente deles. Durante muito tempo, o seu linchamento e a visão dos céus abertos na hora de sua morte foram para mim os principais aspectos deste episódio, mas, de três anos pra cá, passei a notar a relevância de outra perspectiva considerada periférica pela maioria das pessoas. Refiro-me ao fato de Estevão ter sido assassinado mediante o consentimento de um soldado, Saulo, cuja responsabilidade era manter a ordem e garantir a segurança, entre outras coisas. Saulo presenciou a violência contra Estevão e nada fez para impedi-la (Atos 7.54-60). Caprichosamente, o texto bíblico registra que as roupas ensanguentadas da vítima inocente foram depositadas aos pés deste soldado, o que o torna testemunha da agressão e aponta para a sua omissão de socorro, o não cumprimento da função e a cumplicidade no crime em questão. Infelizmente, situações semelhantes a esta continuam acontecendo em nossos dias, quando pessoas são perseguidas, retaliadas, discriminada e violentadas injustamente sem que as autoridades responsáveis se posicionem publicamente para promover a justiça e a verdadeira paz. Pior do que isso só mesmo quando as autoridades tomam partido em favor do agressor, distorcendo o sentido dos fatos e transformando a vítima em culpada.
Bem, violência e retalição seguidas de indiferença e injustiça podem jorrar dos mais variados contextos, até mesmo  de onde normalmente se espera um pouco mais de lucidez, responsabilidade, discernimento, equidade, dignidade e bom testemunho, como escolas e igrejas, por exemplo. Porém, em alguns destes casos, o que se vê são as mesmas características lamentáveis presentes no apedrejamento de Estevão, sobre as quais quero tecer alguns breves comentários. Para fazê-lo, importa levantar a seguinte questão: Por quais razões o soldado Saulo consentiu no linchamento de um homem decente, inocente e autenticamente cristão?
Ora, Estevão não tinha nada para oferecer a Saulo; ele não era influente, não era bem sucedido financeiramente e não tinha parentes importantes. Pelo contrário, na condição de cristão, Estevão representava uma minoria marginalizada naquela sociedade, alguém que vivia e pregava uma nova ordem de vida, fato que incomodava as classes dominantes e a multidão manipulada por elas. Portanto, intervir no seu linchamento para defendê-lo significaria entrar em conflito com a elite e com a opinião pública, sem que houvesse qualquer lucro ou vantagem nisso. Nesse contexto é que Saulo, autoridade responsável por promover a ordem e a segurança, prefere se omitir e deixar que Estevão fosse visto como responsável pelo tumulto e culpado pelo seu próprio linchamento. Afinal, se Estevão tivesse calado a boca e ficado no seu canto nada daquilo teria acontecido e tudo seria evitado. Mas as suas roupas ensanguentadas aos pés do soldado falam por si mesmas, e, assim, revelam que Estevão foi uma vítima inocente e indefesa, molestada e assassinada covardemente por um grupo de pessoas sob a proteção e conivência de outras, o que poderia configurar, nos dias de hoje, formação de quadrilha, lobby ou cartel, facções que agridem os outros, enganam as pessoas e distorcem os fatos para mascarar suas próprias falências, coibir as possibilidades de mudanças e, a qualquer preço, preservar as vantagens pessoais, como emprego, lucratividade, proeminência, enfim, todo o status em vigor.

Bem, como essas coisas não mudam e nunca vão mudar, e uma vez que as portas da liberdade e da justiça parecem fechadas aqui na terra, resta aos inocentes que são apedrejados injustamente curtir a visão das portas abertas nos céus, como aconteceu na morte de Estevão. Ufa! Pelo menos isso! Ter a chance de subir aos céus e viver aos pés de Deus depois de sofrer e morrer aos pés de um soldado ou de qualquer outra autoridade. Ainda bem que as quadrilhas, lobbys e cartéis não estão no céu para apedrejar a gente!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Halloween à Brasileira

Sempre que nos aproximamos do Halloween ou outra festa semelhante, lembro-me das noites de lua cheia em que nos assentávamos em círculo para ouvir histórias de terror e suspense, incluindo os contos inusitados de um vizinho que um dia adoeceu e, conforme seu relato, teve que entrar na mansão mal assombrada da Previdência Social em busca  de  algum auxílio. Geralmente, tais histórias de terror vinham acompanhadas de uivos e gemidos a respeito das manifestações sombrias da Previdência na vida dos contribuintes, isto é, o modo macabro através do qual a instituição governamental lhes negava o benefício a que tinham direito. Um horror! Mesmo sem compreender muito bem o que se passava no casarão da Previdência Social, eu dizia: “Sinistro! Eu hein! Cruz Credo! Tomara que eu nunca precise entrar lá!” Pra quê eu fui abrir minha boca? Anos depois eu fiquei doente e tive que visitar o porão do INSS em busca de assistência. Foi assim que a maldição da Previdência Social passou a rondar a minha vida todas as noites e todos os dias. É apavorante! Em contrapartida, vi coisas de outro mundo que agora podem servir de inspiração para os leitores que querem se programar para o Halloween ou outro evento de caráter funesto. Então, preparem suas abóboras e curtam uma história de terror genuinamente brasileira.
O pavor começou quando percebi que a mansão da Previdência parecia um labirinto subterrâneo. A gente entra lá com um problema, vai pra um lado, segue por outro, dá mais umas três ou quatro voltas e, quando parece que vai encontrar a saída, tem que começar tudo de novo. Ficamos com a sensação de que estamos andando em círculos, arrastando correntes, documentos, exames, feridas, dores e muletas sem chegar a lugar algum. Como se isso não bastasse, a gente se sente perdido e completamente abandonado. É um labirinto escuro e deserto onde nem o Minotauro liga pra nós, muito menos o Governo. Dá medo e vontade de vomitar.
Minha situação ficou ainda mais sombria no momento em que virei num corredor estranho e dei de cara com uma múmia, isto é, uma pessoa toda enfaixada e imobilizada tentando provar para o INSS que ela estava sem condições de trabalhar. Pasmem! Mesmo sendo notório que tal contribuinte não conseguiria trabalhar nem mesmo no sarcófago de um museu egípcio, os técnicos da Previdência alegavam que sua condição não justificava a liberação do benefício. Eu até virei o rosto para não ver aquela cena horripilante, e isso foi a pior coisa que eu fiz, pois do outro lado do salão jazia uma multidão de mutilados que mais pareciam zumbis com os olhos vidrados no painel eletrônico esperando sua senha. Eram como mortos-vivos, mais mortos do que vivos, gemendo e suspirando por um serviço social decente. Pense no clip da música Triller, do Michael Jackson. Pensou? Agora multiplica por dez. Cemitério maldito. É daí pra pior.
Pouco antes de sair da casa mal assombrada da Previdência Social, e depois de ter visto muita coisa mórbida, confesso que senti falta dos vampiros. Olhei por todos os lados mas não os vi em lugar algum. Achei muito esquisito e fiquei um tanto apreensivo com isto. Então um senhor bem velhinho que frequenta a mansão há muitos anos me tranquilizou dizendo que os vampiros nunca aparecem. Eles costumam ficar de longe, atrás de suas mesas e de seus cargos, sugando o sangue da gente através dos impostos, taxas, contribuições, leis etc. Assim a gente vai secando e, sem defesa, vai perdendo a alegria, a esperança, a saúde, o emprego e a vida; até morrer sem o benefício.
Por essas e outras, sempre que nos aproximamos do Halloween, festa tipicamente norte-americana, eu penso no pânico que milhares de brasileiros enfrentam nas catacumbas do INSS, onde não há nada de travessuras muito menos gostosuras, sendo uma festa tipicamente nacional na qual só o governo se diverte. Buu!!!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ponto Cego

Foto: PONTO CEGO
Mesmo atentos ao retrovisor do nosso carro, corremos o risco de não perceber aquela motocicleta ao nosso lado porque alguma coisa encobriu a nossa visão naquele exato momento. O retrovisor não registra. A moto existe e está ali, bem pertinho, mas nós não a vemos. No trânsito, isso se chama "ponto cego". Situação semelhante acontece em vários aspectos da nossa vida, não só no trânsito. Volta e meia a gente se depara com algum "ponto cego", quando a gente não consegue discernir direito o que acontece ao nosso redor naquele momento. Mas, nessa hora, Deus pode nos dar livramente e ajudar a ver o que está encoberto.
Em breve, no blog Feira Livre:
Mesmo atentos ao retrovisor do carro que dirigimos, corremos o risco de não perceber aquele outro veículo em movimento bem ao nosso lado. O retrovisor não registra, mas o outro carro está ali, muito perto de nós, porém não o enxergamos. No trânsito, isso recebe o nome de “ponto cego”.
Situação semelhante pode acontecer em diversas perspectivas da nossa vida, não apenas ao dirigir um automóvel. Volta e meia a gente se depara com algum “ponto cego” na hora de tomar determinadas decisões. São momentos em que não discernimos bem o que está acontecendo ao nosso redor nem o rumo que devemos tomar. Muitas vezes, temos dificuldade para enxergar até o que se passa dentro de nós mesmos.
Existem diversos fatores que podem limitar nossa visão, confundir nossa mente e assim provocar algum tipo de acidente em nossa história pessoal, dentre os quais quero destacar apenas um, a ira. Quando estamos irados com alguma situação ou com determinada pessoa, nem sempre enxergamos com precisão os perigos e as possíveis consequências negativas dos nossos atos, o que naturalmente aumente a chance de nos envolvermos em uma colisão grave com muitas perdas e danos. Fato como este aconteceu com Davi alguns anos antes de se tornar rei de Israel, quando se sentiu ofendido por um homem chamado Nabal, que se negou a repartir da sua comida e ainda levantou suspeita sobre a origem e a dignidade de Davi. Ao se sentir desonrado por Nabal, Davi ficou muito irado e se propôs a atacar sua propriedade e matar as pessoas que ali viviam e trabalhavam, incluindo o próprio Nabal, é claro. O futuro rei de Israel fora cegado pelo seu ego ferido e pela consequente ira, e estava prestes a fazer uma grande besteira. Mas Deus levantou uma mulher chamada Abigail para ir ao seu encontro e mostrar o erro que ele cometeria se derramasse tanto sangue apenas porque ficou nervoso ao tomar conhecimento das palavras de um tolo, referindo-se a Nabal. Um dos auges deste episódio foi o que Davi disse a Abigail no final da conversa que tiveram: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que, hoje, te enviou ao meu encontro. Bendita seja a tua prudência, Abigail, e bendita seja tu mesma, que me poupaste de derramar sangue e que por minha própria mão me vingasse. Se Deus não te enviasse, e se tu não viesses ao meu encontro, não ficaria um só homem vivo na propriedade de Nabal até o amanhecer” 1 Samuel 25.32-35. Davi recobrou a lucidez, enxergou os perigos que estavam encobertos pela ira e então não cometeu a carnificina que estava planejando, fato que o credenciou ainda mais como rei de Israel.
Considerando que ninguém está imune ao “ponto cego”, sugiro que você, leitor, aproveite a ocasião para refletir se existe alguma situação ou sentimento te atrapalhando a enxergar as coisas de maneira clara e tomar as decisões que você precisa tomar de modo saudável e seguro. E, acima de tudo, considere que Deus pode te ajudar nessa hora, fazendo você enxergar os riscos e as possibilidades diante das circunstâncias. Se for o caso, peça pra Deus remover os obstáculos que impedem sua visão ou enviar alguma “Abigail” para abrir os olhos do seu coração e te livrar de grandes colisões.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eleições no Sítio do Pica-Pau

De ontem pra hoje sonhei que houve eleições no Sítio do Pica-Pau Amarelo. E, semelhante ao que vejo na vida real, coisas muito interessantes também aconteceram na terra da Dona Benta, especialmente o debate entre os candidatos.
Havia muitos candidatos presentes no encontro, porém, os que mais chamaram minha atenção foram o Saci-Pererê, a Mula Sem Cabeça e o Rabicó, que compareceram ao único debate promovido pela TV Narizinho e se destacaram perante os demais candidatos. Quero repartir com o leitor os dois momentos mais importantes deste evento ímpar.
O primeiro destaque aconteceu quando o moderador do encontro perguntou aos candidatos: “Por que vocês querem concorrer à eleição?”. O Rabicó logo tomou a frente e respondeu: “Por que o povo do chiqueiro já está cansado de levar no traseiro com o descaso que há em nossa sociedade!”. Tinha que ser o Rabicó pra falar em “traseiro”. Penso que esta foi uma forma dele conquistar a atenção do eleitor, como muitos candidatos fazem no programa eleitoral gratuito, visto que, nas últimas pesquisas, o Rabicó sempre esteve atrás. Embora o seu palavreado tenha provocado risos na plateia, o programa seguiu normalmente, mesmo porque o moderador já sabia que o Rabicó tem a boca meio suja mesmo. Logo na sequência, a Mula respondeu ao moderador: “Eu me candidatei porque já tive muita enxaqueca com estes políticos de sempre!” (???). Todos ficaram em silêncio por alguns segundos; dava até pra ouvir os grilos do sítio neste momento. Como a Mula Sem Cabeça poderia ter enxaqueca? Mas ninguém a questionou por isso, pois todos tinham conhecimento de que a Mula sempre foi desmiolada e costuma ter essas ideias de jerico.
Constrangido com a situação, o moderador do debate se apressou para transferir a palavra para o Saci, que não deu nenhuma mancada diante das câmeras quando disse: “Mesmo eu sendo folclórico, decidi me candidatar porque talvez esta seja minha única chance de não ser mais ridicularizado ou marginalizado por causa da minha origem e dos meus hábitos; é a melhor oportunidade de ser alguém na vida. Penso que seu eu me tornar um político terei acesso a vários benefícios e direitos que os políticos atuais nunca conquistaram por mim e por outros que vivem em situação semelhante a minha, como é o caso da Mula e do Rabicó, por exemplo, que são meio desmiolados e nem sempre estão cheirosinhos e limpinhos como alguns engomados das Câmaras e Congressos”. Nem precisa dizer que todos ficaram admirados com essa resposta, não é mesmo?.
O outro momento de destaque se deu quando um jornalista perguntou ao Saci: “Você acha que tem alguma chance de ser eleito? E por quê?” O Saci se ajeitou na cadeira, cruzou a perna e, olhando nos olhos do repórter, disse: “É bem possível que eu seja eleito porque o povo já não acredita mais nas fábulas e lendas contadas por pessoas aparentemente verdadeiras e sérias que vivem fazendo traquinagem nos bastidores da política; gente que dá nó em pingo d’água e faz outras manobras tão inacreditáveis quanto os contos da carochinha. Além disso, os eleitores estão cansados de votar em pessoas aparentemente saudáveis ou perfeitas, mas que depois se mostram doentes e perigosas, sempre cheias de desculpas perante a opinião pública. E você sabe como são as coisas: Desculpa de aleijado é muleta”, disse o Saci.
Nesse ponto, que pena, eu acordei e conclui que aquilo só poderia ser sonho mesmo, pois não havia os vários montes de propaganda eleitoral jogados pelo sítio e ninguém fora preso no dia da eleição.
Bem, mesmo sabendo que se trata apenas de um sonho, passei o resto do dia me lembrando das respostas do Saci Pererê e então pensei: Pode ser que as coisas que o Saci disse ajudem a gente a entender porque muitos personagens folclóricos da nossa cidade se candidatam e são eleitos na vida real. (Depois dessa colocação, talvez a gente ouça os grilos do sítio novamente).

sábado, 6 de outubro de 2012

Obsoleto e Fora de Linha

O destino dos tablets já está traçado: Eles ficarão obsoletos e fora de linha, é só uma questão de tempo. Mas ninguém precisa se inquietar por isso, afinal, situações como esta já aconteceram várias vezes ao longo da história humana. Foi assim com as tabuletas de argila que os sumérios usavam na época da escrita cuneiforme; foi assim com os papiros nos quais os hebreus e os babilônios registravam seus textos religiosos há centenas ou milhares de anos; e é o que está acontecendo agora com os bloquinhos de papel e cadernos onde meu filho ainda faz suas anotações, mas que já começam a cair em desuso inclusive nas escolas, dando lugar a sensação do momento, o tablet, que, por sua vez, será o próximo item a ficar ameaçado de extinção.
Faz- se necessário destacar que os apaixonados por tecnologia não precisam ficar com dó dos tablets, eles vão ficar bem. Aliás, eles ficarão ótimos. Depois que se tornarem obsoletos e fora de linha serão ainda mais reverenciados e valorizados. Se alguém duvida disso, é só observar como se encontram hoje as tabuletas de argila que os sumérios usavam. Algumas delas custam muito mais que um tablet. Na verdade, valem uma fortuna e vivem em museus luxuosos, cercadas de pompa e forte esquema de segurança. Portanto, se você possui um tablet saiba que você tem muito mais do que um simples tablet nas mãos, você tem uma relíquia valiosíssima. Então, quando ele cair em desuso, não o jogue fora, unte-o com formol e guarde a sete chaves.
É muito bom saber que não precisamos nos inquietar com o destino dos tablets tão pouco sentir pena deles pelo fato de ficarem obsoletos e fora de linha. Como já mencionei, eles ficarão bem. Precisamos, sim, nos preocupar com o destino da humanidade sem eles, especialmente se sofremos algum tipo de crise e caos mundial, como uma guerra nuclear, por exemplo, que pode deixar o planeta totalmente destruído, desolado e, portanto, caótico, sem as comodidades que temos hoje. Então me pergunto: Como as futuras gerações viverão ou sobreviverão sem os smartphones e sem a infinidade de coisas automáticas, virtuais e que funcionam com um simples comando da voz? Como viveremos ou sobreviveremos sem os tablets? Nós, que nos tornamos tão dependentes de todas essas coisas e que já não conseguimos ser tão naturais sem elas. E ainda assim, num eventual caos, se com um pouco de sorte a gente encontrar um bloquinho de papel no meio das ruínas, certamente vai dar um trabalhão pra gente aprender a escrever de novo e sermos alfabetizados outra vez. Neste caso, quem talvez fique obsoleto e fora de linha seja o ser humano. A menos que restem alguns analtabletizados que possam nos ajudar a reescrever a história.