Num desses finais de semana, quando eu e minha família tomávamos uma breve refeição noturna, minha esposa se dirigiu à sala de TV e, dois minutinhos depois, exclamou: “Amor! O que aconteceu com a tela da televisão?! Vem dar uma olhadinha!”. Antes que eu me levantasse da mesa, meu filho de oito anos se levantou rapidamente e disse: “Pode deixar que eu vejo isso, pai. Eu sou mais tecnológico que você!”. Putz! Congelei por alguns segundos, fiquei off line e em stand by ao mesmo tempo. Posso dizer que esse foi o dia em que a terra parou. É meio difícil e meio engraçado tentar descrever o que senti. Parece que eu fiquei em coma ou em órbita enquanto aquela frase inusitada ecoava nas câmaras do meu coração: “Eu sou mais tecnológico que você (você, você, você)!” Graças a Deus, logo fui ressetado e comecei a processar o que havia acontecido. Fiz um back up da minha vida e um download do que estava por vir. Não dá pra negar que a minha primeira conclusão foi bem primitiva: “Buááááááá! Eu estou ficando ultrapassado e todo mundo já percebeu isso, até meu filhinho. Socorro! Eu quero minha placa mãe!”. Mas as avaliações seguintes foram bem mais racionais, otimistas e reconfortantes.
Bem, o mundo vive em constante transformação e meu filho está acompanhando isso. Ótimo! Ele não ficou excluído nem sentado à beira do caminho vendo o trem da história passar. Meu filho segue na direção do futuro, e eu, bem ou mal, estou pegando uma caroninha com ele. Ao vê-lo cheio de energia e visão, eu também me animo e corro atrás. E assim caminhamos juntos!
Outra alegria pós-trauma que eu tive foi o fato de saber que agora tem mais gente pra ajudar a resolver as coisas da casa, alguém com iniciativa e disposição. Eu e minha esposa já não precisamos ver tudo, providenciar tudo e consertar tudo. Lembra? Meu filho se levantou primeiro que eu e disse: “Pode deixar que eu vejo isso, pai”. Eu não precisei ir nem mandar ir! E o melhor de tudo: eu pude terminar de comer minha comidinha sossegado, numa boa, ahhh! Pra ilustrar melhor, dias atrás ele me disse que o seu lançador de beyblade estava quebrado, e eu falei que logo iria arrumar. Passaram-se três dias e lá estava o menino com duas chaves de fenda na mão, abrindo o brinquedo, corrigindo o defeito e resolvendo o problema. Vamo nessa, filhão! Tamo junto! Uhuuu!
Por último, ao fazer tais reflexões sobre o dia em que a terra parou, talvez eu tenha exagerado no download do futuro ao me vir assentado numa mesa tomando uma refeição noturna com meu filho e meu neto, quando minha esposa e minha nora foram pra sala de TV e, alguns minutinhos depois, exclamaram: “Ué, o que será que aconteceu com o painel do teletransporte? Vocês podem dar uma olhadinha?” E antes que eu e meu filho fôssemos ajudá-las, meu neto de 5 anos se levantou e disse: “Pode deixar que eu vejo isso... essa bosta é assim mesmo, é só dar umas batidinhas na lateral da máquina que ela volta a funcionar”. Aí sim! Gostei! Não poderia ser melhor! Ver meu neto plugado nas evoluções e saber que as batidinhas na lateral da máquina ainda funcionam como nos velhos tempos. Fiquei tão animado que saí correndo na frente dele gritando: “Deixa que eu bato nesta merda aí! Se for só isso eu sou mais tecnológico que vocês dois juntos”.