De ontem pra hoje sonhei que houve eleições no Sítio do Pica-Pau Amarelo. E, semelhante ao que vejo na vida real, coisas muito interessantes também aconteceram na terra da Dona Benta, especialmente o debate entre os candidatos.
Havia muitos candidatos presentes no encontro, porém, os que mais chamaram minha atenção foram o Saci-Pererê, a Mula Sem Cabeça e o Rabicó, que compareceram ao único debate promovido pela TV Narizinho e se destacaram perante os demais candidatos. Quero repartir com o leitor os dois momentos mais importantes deste evento ímpar.
O primeiro destaque aconteceu quando o moderador do encontro perguntou aos candidatos: “Por que vocês querem concorrer à eleição?”. O Rabicó logo tomou a frente e respondeu: “Por que o povo do chiqueiro já está cansado de levar no traseiro com o descaso que há em nossa sociedade!”. Tinha que ser o Rabicó pra falar em “traseiro”. Penso que esta foi uma forma dele conquistar a atenção do eleitor, como muitos candidatos fazem no programa eleitoral gratuito, visto que, nas últimas pesquisas, o Rabicó sempre esteve atrás. Embora o seu palavreado tenha provocado risos na plateia, o programa seguiu normalmente, mesmo porque o moderador já sabia que o Rabicó tem a boca meio suja mesmo. Logo na sequência, a Mula respondeu ao moderador: “Eu me candidatei porque já tive muita enxaqueca com estes políticos de sempre!” (???). Todos ficaram em silêncio por alguns segundos; dava até pra ouvir os grilos do sítio neste momento. Como a Mula Sem Cabeça poderia ter enxaqueca? Mas ninguém a questionou por isso, pois todos tinham conhecimento de que a Mula sempre foi desmiolada e costuma ter essas ideias de jerico.
Constrangido com a situação, o moderador do debate se apressou para transferir a palavra para o Saci, que não deu nenhuma mancada diante das câmeras quando disse: “Mesmo eu sendo folclórico, decidi me candidatar porque talvez esta seja minha única chance de não ser mais ridicularizado ou marginalizado por causa da minha origem e dos meus hábitos; é a melhor oportunidade de ser alguém na vida. Penso que seu eu me tornar um político terei acesso a vários benefícios e direitos que os políticos atuais nunca conquistaram por mim e por outros que vivem em situação semelhante a minha, como é o caso da Mula e do Rabicó, por exemplo, que são meio desmiolados e nem sempre estão cheirosinhos e limpinhos como alguns engomados das Câmaras e Congressos”. Nem precisa dizer que todos ficaram admirados com essa resposta, não é mesmo?.
O outro momento de destaque se deu quando um jornalista perguntou ao Saci: “Você acha que tem alguma chance de ser eleito? E por quê?” O Saci se ajeitou na cadeira, cruzou a perna e, olhando nos olhos do repórter, disse: “É bem possível que eu seja eleito porque o povo já não acredita mais nas fábulas e lendas contadas por pessoas aparentemente verdadeiras e sérias que vivem fazendo traquinagem nos bastidores da política; gente que dá nó em pingo d’água e faz outras manobras tão inacreditáveis quanto os contos da carochinha. Além disso, os eleitores estão cansados de votar em pessoas aparentemente saudáveis ou perfeitas, mas que depois se mostram doentes e perigosas, sempre cheias de desculpas perante a opinião pública. E você sabe como são as coisas: Desculpa de aleijado é muleta”, disse o Saci.
Nesse ponto, que pena, eu acordei e conclui que aquilo só poderia ser sonho mesmo, pois não havia os vários montes de propaganda eleitoral jogados pelo sítio e ninguém fora preso no dia da eleição.
Bem, mesmo sabendo que se trata apenas de um sonho, passei o resto do dia me lembrando das respostas do Saci Pererê e então pensei: Pode ser que as coisas que o Saci disse ajudem a gente a entender porque muitos personagens folclóricos da nossa cidade se candidatam e são eleitos na vida real. (Depois dessa colocação, talvez a gente ouça os grilos do sítio novamente).
Nenhum comentário:
Postar um comentário