quinta-feira, 15 de maio de 2014

E se a Copa do Mundo não fosse no Brasil?

     Quanta coisa a dizer sobre a Copa do Mundo no Brasil! Questões que vão desde a importância e a magia do esporte propriamente dito até a irresponsabilidade e amadorismo dos governantes, passando pelas boas oportunidades que o país terá por causa do evento e também pelas malignas chances de desvio de dinheiro etc. Mas como já tem muita gente falando disso, vou refletir sobre outros aspectos.
            Ao ver um grande número de pessoas e entidades protestando e postando na net contra a realização desta Copa do Mundo em detrimento da construção de hospitais e investimentos na educação, por exemplo, fico pensando como seria útil e eficaz se tais mobilizações em favor da melhoria do sistema de saúde e educacional fossem feitas independentemente da Copa ser aqui ou não. Tivemos décadas e décadas para reivindicar de forma intensiva e midiática, mas não o fizemos, e tudo indica que não o teríamos feito se não fosse o campeonato mundial de futebol deste ano.
          Segundo, existem forças e interesses políticos demais sobre a mesa, e principalmente em baixo dela. Governo e oposição subestimam e hiperestimam valores e atitudes de acordo com suas conveniências e projetos que, em quase sua totalidade, não têm nenhuma relação com a justiça social, o desenvolvimento do país e a dignidade da população. E eu não tô afim de apostar nesse jogo de cartas marcadas.
       Por último, assim como tivemos muitas décadas para protestar e reivindicar, os governos e demais autoridades tiveram décadas e décadas para realizar os investimentos que o país e seu povo mais necessitam – e até agora isto não aconteceu. Pessimista ou não, tenho certeza que se a Copa do Mundo de Futebol não fosse realizada no Brasil o nosso sistema de saúde continuaria na UTI, a educação permaneceria nas trevas e o transporte público patinaria e atolaria do mesmo jeito de sempre e por tempo indeterminado.
          Concluindo, a não realização do evento em questão de modo algum seria garantia ou pré-requisito para a mudança do “nosso belo quadro social”. Se a Copa não fosse aqui, penso que continuaríamos sem hospitais, sem escolas e sem metrôs, assistindo aos jogos pela televisão, comendo pipoca e saindo pra comemorar as vitórias da seleção canarinho no meio do trânsito caótico e atrapalhando o funcionamento das escolas e dos hospitais que hoje temos. Uma série de internautas continuaria nas redes sociais falando sobre a Copa no Brasil, mas apenas para postarem “gooooooool”. Se a Copa não fosse no Brasil, a sociedade certamente ocuparia ruas e praças como está fazendo agora, porém não para protestar e reivindicar, mas sim pra ver o Neymar no telão e cantar uma música nova: “Noventa milhões sem ação, pra frente seleção, salve o Brasil”.


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