Diante do lamentável episódio ocorrido com o navio Carnival Triumph, que ficou à deriva por alguns dias no Golfo do México, foi inevitável pensar na Arca de Noé e considerar certas curiosidades entre as duas embarcações.
No caso do cruzeiro Triumph, por exemplo, a maioria dos passageiros está inserida na economia mais forte do mundo, e apresenta condições sócio-culturais acima da média; é gente acostumada ao conforto e modernidade. No caso da Arca de Noé, uma parte dos passageiros era de agricultores ou lavradores, gente muito simples e habituada às hostilidades e desafios da vida mais rústica. Diga-se de passagem, foi um desses homens do campo que construiu a embarcação, bem diferente do navio cruzeiro, que foi desenvolvido por especialistas de diversos setores. É importante lembrar que os demais passageiros da Arca, isto é, a grande maioria, eram animais de toda espécie que Noé encontrou na época, incluindo bichos de hábitos indesejáveis, ferozes e muito fedidos.
A segunda curiosidade é o tempo que as duas embarcações ficaram à deriva. Quatro dias para os turistas do cruzeiro, e várias semanas para Noé e seus companheiros. É uma diferença muito significativa, assim como é significativa a diferença entre o grau de satisfação dos passageiros. Mesmo quando o Carnival Triumph ainda estava ao mar, a mídia divulgou o quanto as pessoas a bordo estavam insatisfeitas e revoltadas, realidade que se avolumou bastante ao desembarcarem no Alabama. No episódio da Arca de Noé, não há relatos bíblicos sobre revolta, reclamações ou arrependimento de ter viajado. Ninguém moveu processos ou ações contra Noé após o desembarque, pelo contrário, a Bíblia afirma que os passageiros fizeram um culto de gratidão a Deus de tão satisfeitos que estavam.
Curiosidades à parte, naveguemos rumo ao que mais importa: Os passageiros do cruzeiro à deriva no Golfo do México buscavam prazer, turismo, comodidade e, quem sabe, status. Havia muito dinheiro envolvido, e a única segurança que tinham era a promessa de diversão garantida que o mundo dos negócios sempre faz – nada contra isso. Mas a turma da Arca, por outro lado, buscava a sobrevivência. A segurança que tinham eram a promessa e o plano de Deus sobre a preservação da vida – tudo a favor disso. Não havia em Noé e em seus companheiros nenhuma expectativa de diversão garantida nem de status nem de lucro financeiro. A Arca estava à deriva sim, porém, com propósitos bem mais valiosos do que os milhões de dólares a bordo do Carnival Triumph.
Deixo claro que considerei muito lamentável o que aconteceu com os passageiros do navio cruzeiro no Golfo do México – eu não gostaria de estar na pele deles. Mas isso não me impede de imaginar a seguinte questão: Será que a mesma pomba que saiu da Arca de Noé e depois voltou com um ramo de oliveira no bico voltaria para o Triunph Carnival caso fosse solta de lá? Bem, penso que se ela encontrasse a Arca no meio do oceano faria opção pela embarcação de Noé, pois talvez seja mais viável ficar várias semanas convivendo com animais de hábitos indesejáveis numa arca do que passar quatro dias à deriva naquele tipo de cruzeiro, mesmo sabendo que os tripulantes do Triumph são mais elitizados e que no barco de Noé falta energia elétrica, ar condicionado e sistema de esgoto a contento.
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