Imagino que muitos dos leitores já foram abordados num restaurante, loja ou outro estabelecimento por alguma pessoa desconhecida que
lhes fez a surpreendente pergunta: “Ei, aquele carro ali é seu?!”. Nestas horas costumamos sentir um friozinho
na barriga e pensar que algo muito ruim pode ter acontecido com nosso veículo
ou que estamos prestes a nos desentender com a pessoa que nos inquiriu. Então suspeitamos:
Será que alguém bateu no meu carro? Será que eu fechei a garagem desse cara? Por
que esse sujeito intrometido quer informações sobre meu carro? Dificilmente
consideramos que algum estranho perguntaria pelo nosso automóvel ou se interessaria
por qualquer outra questão da nossa vida com boas motivações ou com boas
notícias para nos dar, ainda mais se tal sujeito tiver aquela aparência e tom
de voz que consideramos sinal de encrenca. Mas, dias atrás, tive uma
experiência interessante que abriu minha visão sobre situações desse tipo.
Era tarde da noite e eu estava em casa prestes a me deitar.
Como eu não esperava nenhuma visita, fiquei surpreso e um pouco apreensivo
quando o interfone tocou tão fora de hora. Fui direto à janela da sala para ver
quem era. Ao olhar para o portão não tive a menor esperança de que se tratasse
de algo útil ou agradável para mim, pelo contrário, parecia que se tratava de um
estranho que viera pedir alguma coisa. Abri a janela meio azedo e vi um sujeito
com cara de encrenca. Pra piorar a impressão, o cara me fez a célebre e desconfortável
pergunta: “Aquele carro ali é seu?”, apontando para o meu veículo estacionado
do outro lado da rua. Senti o friozinho na barriga que eu mencionei há pouco. Permaneci
em silêncio alguns instantes. Pensamentos ruins foram se avolumando em minha
mente até que eu me enchi de coragem e respondi: “Aquele carro ali é meu, sim!
Por quê?”. Aí o sujeito com cara de encrenca, que em poucos segundos passou a
ter cara de anjo, me disse gentilmente: “É que eu estava passando por aqui e vi
o carro com os faróis acesos, então eu decidi procurar pelo dono a fim de
informá-lo e livrá-lo de uma grande dor de cabeça caso a bateria do veículo acabe”.
Então eu engoli a seco, fiquei completamente sem graça e agradeci umas dez
vezes ao sujeito que me livrara de uma encrenca de verdade. Assim, meu carro
não posou na rua nem ficou sem bateria ao amanhecer.
Entendi que ainda existem pessoas que perguntam pelo nosso
carro ou se interessam pela nossa vida com boas motivações e contribuições
importantes a dar. Compreendi a importância de abrir a janela da nossa mente quando
alguém toca o interfone da nossa alma mesmo que tal pessoa não seja do nosso
convívio e que pareça não ter nada de útil e agradável a nos oferecer. Aprendi
que nunca é tarde ou tão fora de hora para saber se aquela determinada pessoa que
parece se intrometer em nossa rotina é uma encrenca ou um anjo que pode nos
ajudar na caminhada e nos livrar de grandes dores de cabeça na profissão, na
carreira, nos negócios, enfim, nas mais variadas situações, incluindo os casos
em que esquecemos nosso carro na rua com os faróis acesos.
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