sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Matéria Prima

Uma das disciplinas escolares que eu mais gostava quando cursava o ensino fundamental era geografia. Naturalmente, é uma das matérias que eu mais gosto de estudar com meu filho de oito anos de idade que hoje está no terceiro ano. Sempre é bom estudar com ele, mas ontem foi ótimo.
Pesquisávamos sobre recursos naturais, agricultura, extrativismo etc. Discutimos de maneira mais detalhada o tema matéria prima, procurando identificar elementos da natureza que são usados na fabricação de outros produtos e que garantem o sucesso industrial, comercial e econômico do nosso pais. Falamos sobre o petróleo, de onde vem a gasolina; mencionamos o algodão, que é transformado em tecido; e falamos das árvores, que dão origem aos móveis que mobíliam o quarto onde estávamos estudando. Foi precisamente nessa hora que tivemos uma espécie de insight. Notamos que tudo o que estava no quarto era industrializado. Não havia nenhuma matéria prima bruta ali; e olha que a gente se esforçou pra encontrar, mas víamos apenas travesseiros, armários, calçados, cadernos, roupas, eletrônicos e assim por diante. Meu filho ficou empolgado e se divertiu com a descoberta, pois se sentiu completamente imergido no sucesso tecnológico e industrial dentro do seu próprio quarto, mas confesso que eu comecei a ficar meio triste e decepcionado por não encontrar ao nosso redor um elemento sequer autenticamente natural. Tudo que estava ali havia passado pelas engrenagens da tecnologia e das fábricas. Nesse contexto, em vez de sucesso, tive uma certa sensação de fracasso.
Embora eu quisesse disfarçar minha leve decepção para não estragar a empolgação do menino, não teve jeito, ele percebeu. Então, na tentativa de me animar um pouco, meu filho começou a vasculhar em cada canto do cômodo em busca de algo que fosse autenticamente natural. E quando parecia que sua dedicação seria em vão, ele olhou bem nos meus olhos e gritou: “Encontrei! Encontrei duas coisas totalmente naturais aqui no quarto; encontrei duas matérias primas genuínas”. No início, pensei que fosse alguma brincadeira dele, visto que seu senso de humor é bastante intenso. Mas fui surpreendido quando ele apontou para o espelho e disse: “Lá estão os elementos não industrializados desse quarto! Nós dois!”. Olhei e vi nossos rostos refletidos no espelho, e sorri. Finalmente algo natural!
Claro que fiquei aliviado, pois quando eu estava me sentindo uma ilha cercado de produtos tecnológicos por todos os lados, meu filho me fez lembrar que, na verdade, toda aquela industrialização está a nossa disposição, girando ao nosso redor, e que a centralidade da existência é nossa e sempre será! Em poucas palavras, ficamos convictos de que além de não sermos produtos manufaturados, somos a principal matéria prima que existe. Afinal, o sucesso de todas as coisas que existem no quarto do meu filho e em todo o planeta é feito através de nós mesmos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Bagunça de Luxo


Num passado não muito distante, quase todas as casas tinham um cômodo relativamente acanhado que recebia o nome de despensa, onde as famílias armazenavam alguns mantimentos da compra do mês, como sacos de arroz, latarias, pacotes de macarrão etc. Aos poucos, a despensa começou a ser usada para guardar ou esconder outras coisas, transformando-se numa espécie de depósito de ferramentas, objetos quebrados ou fora de uso, tralha de pescaria, skate, bicicleta, restos de fio elétrico, pedaços de mangueira, arame, enfim, coisas que não serviam mais ou que não ficavam bem em outro cômodo, mas que por algum motivo dava dó de jogar fora. Em função disso, a despensa também passou a ser chamada de quartinho da bagunça. Esta realidade se tornou comum e faz parte do dia a dia das famílias há muitos anos. Mas o que chama minha atenção é a quantidade de produtos sofisticados e caros que vêm tomando conta das despensas nos dias de hoje. São itens que, no passado, jamais estariam misturados com coisas velhas, empoeiradas, esquecidas e até enferrujadas num quartinho qualquer. Refiro-me a objetos que costumavam ocupar partes nobres da casa, com status de coisa importante e moderna, como é o caso dos eletrodomésticos, muitos deles considerados de luxo por causa de sua complexidade, tecnologia, função e preço. São eles os que mais me surpreendem numa despensa, fazendo que o local mais se pareça um museu de novidades. Para não delongar muito, quero destacar apenas os dois eletrodomésticos que lideram o ranking de objetos de luxo encontrados nos quartinhos da bagunça.
O primeiro lugar do ranking é ocupado pelo multiprocessador de alimentos, moderníssimo. Não há dúvida de que se trata de uma ótima invenção, e que sua finalidade é nobre: proporcionar uma alimentação mais saudável de maneira prática e rápida, excelente para enfrentarmos a correria do dia a dia sem perder a qualidade nutricional. É só colocar os alimentos dos mais variados tipos no aparelho, apertar o botão e pronto. Genial. Legumes e frutas viram suco ou fragmentos num piscar de olhos. Não precisamos ficar descascando, cortando ou ralando esses produtos com a mão. Que comodidade! “Valeu a pena ter comprado!”, é o que todos afirmam. Mas só nas primeiras semanas.  Passam-se alguns poucos meses e a lua de mel com o multiprocessador acaba, especialmente por causa do longo tempo que se gasta para montar suas várias peças antes de usar e para trocar suas lâminas dependendo do alimento que se está preparando. Tão desgastante e demorado quanto isso é ter que lavar e secar direitinho todas as peças e compartimentos do equipamento após o uso. É muito chato! O golpe fatal contra o multiprocessador acontece quando a gente percebe que ele é meio grande, um pouco desajeitado e ocupa muito espaço na cozinha, atrapalhando a acomodação do micro-ondas, do filtro de água, da cafeteira, da escorredeira de pratos, da lixeirinha e dos vasinhos. Nesta fase, decidimos usá-lo somente no final de semana, por isso ele já não precisa permanecer exposto na cozinha todos os dias, e como não cabe nos pequenos paneleiros dos móveis planejados, é mais conveniente colocá-lo na despensa mesmo, pelo menos provisoriamente, ao lado da máquina de lavar louça que já está lá há uns quatro anos. Genial! Resolvido!
O segundo aparelho de luxo presente em toda despensa moderna que se preza é a lavadora de alta pressão, aquela que nos comerciais de televisão parecem ser super práticas e eficazes para lavar carros e especialmente calçadas e quintais grandes. Não há dúvida de que o quintal realmente fica mais limpo quando usamos aqueles jatos d´água calibrados automaticamente em vez de ficarmos apertando a ponta das mangueiras tradicionais com nossos dedos, quando a água não sai direito e os dedos chegam a ficar marcados e doloridos. Mas além do bom resultado que estas lavadoras produzem, existe ainda outro fator que enobrece o uso destas máquinas: é a sensação de poder e superioridade em relação aos vizinhos que ainda usam mangueiras comuns ou baldes para lavar o quintal de suas casas. Mesmo que a gente não queira reparar, é inevitável notar o mal estar que eles sentem ao verem a força, a eficácia, a elegância e a modernidade com as quais nossa lavadora de alta pressão elimina a poeira, as folhas no chão e os pelos de cachorro amontoados nos cantos.  Tudo isso é muito bom, pena que dura pouco. O prazer de usar tais máquinas vai perdendo terreno para a chatice que é montar o equipamento. O tempo que a gente perde acoplando cabos, fios, roscas, extensões e tomando outras providências quase supera o tempo que gastamos lavando a área em questão. Isto fica ainda pior quando um dos encaixes escapa bem no meio da lavagem e o aparelho para de funcionar. Tão irritante quanto isso são seus cabos enroscando no pneu do carro ou num vaso de planta que não pode cair no chão de jeito nenhum. E mesmo que você supere todas essas inconveniências, ainda é necessário desmontar e proteger a máquina com todo cuidado após o uso a fim de garantir sua conservação e o bom funcionamento no futuro. Isso enche o saco! Sem contar que até você fazer todos os procedimentos necessários seu vizinho já lavou tudo o que tinha que lavar, já enrolou a mangueira no suporte pendurado na parede e está sentado na cadeira de área observando seu trabalho duro. É pra acabar, não é?! Então, considerando que nossa vida é meio corrida mesmo, e que fica bem economizarmos água para o bem do planeta, decidimos usar a lavadora de alta pressão apenas uma ou duas vezes por mês, o que justifica muito bem escondê-la no quartinho da bagunça, preferencialmente encima da esteira elétrica, que antes ficava no quarto do casal servindo de cabideiro para aquelas roupas que a gente usa só um pouco e reserva pra usar no dia seguinte. É nesta fase que a gente volta a usar aquela mangueirinha velha verde ou alaranjada só pra tirar o pó da varanda.
Diante desse breve relato sobre a história da despensa, temos duas alternativas. Ou nos alegramos porque as dispensas de hoje são cheias de novidades e muito mais elegantes, sofisticadas e valiosas que as despensas de antigamente. Ou devemos rever urgentemente nossos conceitos e valores pelo fato de termos tanto luxo e vaidade acumulados junto a coisas empoeiradas e enferrujadas numa espécie de museu doméstico. Recomendo que escolhamos a segunda alternativa.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Restauração

Encontramos uma cadeira toda quebrada e jogada na rua com alguns entulhos e outras coisas velhas descartadas. Descobrimos também uma mesinha bastante “cansada” e meio abandonada na casa de um de nossos familiares. Recolhemos a cadeira e a mesinha, restauramos e fizemos um "mosaico" com azulejos antigos, como estão nas fotos. É claro que minha esposa é responsável pela maior parte do talento e da dedicação. Os móveis ficaram muito bons. Melhor que esta técnica de restauração é aquela que Deus usa  em nossa vida quando nos alcança no meio de entulhos, do cansaço e do abandono, e se propõe a nos restaurar com paciência e amor, pedaço por pedaço, sempre com um propósito, até ficarmos bem novamente (e às vezes melhor do que éramos  no início).

O Desafio de Amar

"O Desafio de Amar" é um livro inspirado nos esforços que o personagem do filme "Prova de Fogo" vive na tentiva de superar conflitos pessoais e, especialmente, conjugais.    
Há aproximadamente quatro anos venho ministrando um curso baseado nos 40 desafios descritos no livro em questão. Os grupos de casais são muito edificados durante os encontros. Conhecer o material seria uma boa ideia, porém, melhor ainda e mais eficaz seria participar de um curso sobre ele e assim receber as ministrações acerca dos desafios apresentados. Na foto, um exemplar do livro. Recomendo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Eu Sei Quem Nasceu Primeiro

Ao longo da história humana, uma série de filósofos, teólogos e pensadores de maneira geral produziram reflexões importantes que se tornaram imortalizadas, como é o caso da célebre frase "penso logo existo", do filósofo francês René Descartes. Mas devemos considerar que pessoas comuns e não renomadas também dão sua contribuição todos os dias ao levantarem proposições do cotidiano que acabam se tornando bastante memoráveis. Um bom exemplo disso é a questão que meu filho de oito anos de idade apresentou para mim ontem à noite. Ele disse: “Pai, quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?” Claro que eu já me deparei com esta reflexão outras mil vezes, pois se trata de uma discussão antiga e muito conhecida, mas até ontem eu não havia chegado a uma boa conclusão sobre o assunto. A novidade é que, desta vez, ouvi do meu filho algumas considerações tão interessantes que, finalmente, posso afirmar: a galinha nasceu primeiro que o ovo!
O raciocínio é simples, muito simples. Para quem acredita que Deus criou a natureza como a conhecemos, a tese do meu filho é a seguinte: Deus criou animais de diferentes espécies, conforme está no livro do Gênesis; Deus formou criaturas que botam ovos e não ovos de criaturas. Portanto, Ele criou uma galinha e não um ovo de galinha. Simples, mas coerente. E para quem é adepto do evolucionismo, de Charles Darwin, eis a proposta: nenhuma espécie evoluiria e se transformaria em um ovo. Gostei dessa. Mas a última colocação do meu filho talvez tenha sido mais convincente que as outras: Se o ovo tivesse nascido primeiro que a galinha nada mais aconteceria; o ovo teria se desintegrado ou qualquer coisa parecida, pois ainda não haveria nenhuma galinha para chocá-lo. A partir daí tudo ficou claro em minha mente. Não há nenhuma sombra de dúvida nem qualquer outra consideração a fazer. A galinha nasceu primeiro.
Antes de encerrarmos a conversa, propus para o meu filho imaginarmos como seria se o ovo tivesse vindo ao mundo primeiro que a galinha. Trocamos uma ideia sobre isso e concluímos que teria sido muito frustrante e revoltante, especialmente para o ovo. Imaginamos o ovo no Jardim do Éden, no ato da criação, observando todas as espécies ao seu redor, todas elas já formadas, com design criativo, algumas pomposas e exuberantes, desfilando cores e habilidades pra lá e pra cá, correndo, saltando, deslizando, nadando, voando. E o ovo lá... sem nada pra fazer, sem nada a dizer, paradão... que sacanagem! Imaginamos também o ovo surgindo no decorrer dos tempos, assistindo a evolução das espécies, admirando as transformações, contemplando as adaptações, perplexo com a genialidade da natureza e perguntando a si mesmo: “E eu? Eu me transformei nisso? Só isso? Isso é evolução? Eu evolui? Que palhaçada é essa?”
Poucos minutos depois, fomos dormir satisfeitos por termos decifrado uma espécie de enigma e dado a nossa contribuição para a história do pensamento humano. Bem, talvez a reflexão que fizemos ontem à noite não teve abrangência tão universal assim, mas sei que demos boas risadas e falamos coisas que se tornaram célebres, memoráveis e imortalizadas pelo menos para nós. E mesmo se não tivéssemos decifrado o enigma, teria valido a pena.

domingo, 26 de agosto de 2012

Deus nos Salva de que???

Enquanto eu não conhecia certas realidades bíblicas e determinados conceitos teológicos, tinha preconceito e resistência em relação ao termo religioso salvação, especialmente da maneira como as pessoas o empregavam. Parecia-me um tanto distante, mitológico, meio platônico.  Dentre os questionamentos que eu fazia sobre o termo e o tema, destaco aquele que talvez seja o mais simples de todos: “Deus me salva de que? O que é  essa salvação?” Como eu não encontrava resposta, mesmo porque eu não a procurava com real interesse, passei muito tempo sem entender o propósito daquilo que os outros chamavam de salvação, semelhante ao que ainda acontece com muita gente.
Isso começou a mudar quando eu descobri que a expressão bíblica salvação nasceu no Antigo Testamento, no contexto cultural hebraico, relacionado essencialmente à experiência de alguém que é tirado de um perigo no qual corria risco de morrer. Dependendo da natureza do perigo, o ato de salvar poderia ter configurações distintas: proteger, libertar, curar, resgatar etc. (Vocabulário de Teologia Bíblica, Coord. Xavier Léon-Dufour, Ed. Vozes, 1992). Então percebi que a salvação de Deus tem a ver com sua proteção, libertação, cura, resgate e outras situações nas quais Ele promove vida em nós. Também descobri que, conforme as narrativas do Antigo Testamento, a salvação de Deus foi se identificando intensamente ao longo da história com a perspectiva de libertação. Assim, Deus foi se revelando e sendo conhecido como Deus Salvador ou Libertador, aquele que livra.
Meu entendimento sobre a salvação na perspectiva bíblica se completou quando conclui que, de acordo com o Novo Testamento, a salvação divina tem caráter não apenas histórico e finito, mas também espiritual e eterno. Deus tem propósitos de promover a vida nos libertando não apenas das opressões e perigos terrenos, mas também das adversidades e ameaças de natureza espiritual. É disso que Ele me salva.
Nesse contexto é que se evidencia a pessoa e a obra de Jesus Cristo. Segundo a Bíblia, é através de Cristo que Deus nos salva ou liberta oferendo vida diante dos males terrenos e espirituais, especialmente das consequências do pecado e da obra das trevas contra nós. Em última instância, Deus promove a vida, e escolheu fazer isso de maneira completa por meio de Jesus, com benefícios históricos e eternos. Por isso o evangelho de João menciona que Jesus veio para dar vida abundante, tão abundante que também é eterna. (João 3.36 e 10.10). Isso é salvação.
É claro que existem outras perspectivas importantes que não mencionei e muitas variantes nos aspectos apresentados, mas creio que compartilhei o suficiente para uma compreensão objetiva e essencial a respeito da salvação. Possivelmente, voltarei a tratar desse assunto em outra oportunidade, aprofundando um pouco mais algumas questões descritas aqui e, quem sabe, atendendo o interesse dos leitores que se manifestarem.
Fiquem com Deus!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sobre o blog

O blog “Feira Livre” é um espaço para troca de informações, reflexões e experiências diversificadas, onde o visitante pode oferecer e adquirir valores sociais e culturais de maneira livre e comunicativa, semelhante à dinâmica  das feiras que se dão ao ar livre nas vias públicas de quase todos os lugares do mundo. Vale destacar que o principal conteúdo do blog são textos com propostas bem variadas, que vão desde aspectos símplices do cotidiano a reflexões sobre atualidades, princípios teológicos etc.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Galos e Galinhas

Vou dizer uma coisa que poderá causar estranheza em algumas pessoas: Estou com muito sono! Imagino que não poucos leitores poderiam se perguntar: “Mas o que é que tem demais estar com muito sono?”. Acontece que agora são meio dia, e eu não trabalhei a noite toda nem estive na balada de madrugada, então talvez não houvesse razão para tanto sono assim. Bem, como essa sonolência vem acontecendo há vários anos, e como percebo que muita gente tem sentido a mesma coisa, comecei a me preocupar e refletir sobre o assunto, e hoje, quando o meu despertador com “som de galo cantando” tocou antes das seis horas da manhã, cheguei a uma conclusão: a maioria de nós vai dormir bem depois dos galos e galinhas e se levanta bem antes deles. Sendo um pouco mais sagaz: estamos violando ou atropelando leis básicas da natureza. Se alguém discorda disso, então observe como os galos se comportam ao meio dia. Eles estão expertos, ariscos, cheios de vigor. E as galinhas? Estão animadas, expeditas, quase saltitantes. Óbvio. Os galináceos foram dormir na hora de dormir, isto é, bem antes de nós, e foram para o terreiro na hora certa de levantar, ou seja, bem depois que o nosso despertador tocou. Então, enquanto eles passam o dia bem dispostos nós ficamos bocejando e procurando um lugar maneiro pra encostar.


Ora, se compararmos o estado físico e emocional da maioria das pessoas ao estado dos galos e galinhas em pleno meio dia, logo perceberemos que temos um problema profundo e gravíssimo diante dos nossos olhos, ou melhor, das nossas pálpebras cansadas. Pior é saber que a sonolência arrebatadora que sentimos à luz do dia é apenas um dos primeiros sintomas. O que virá depois da moleza e dos bocejos? Stress, problemas cardíacos, crises relacionais, filhos oprimidos, netos mais ainda etc. Precisamos por em ordem nossa agenda e nossos horários. Os galos estão com a razão! As galinhas estão certas! Ninguém e nenhuma humanidade podem atropelar as leis da natureza e ficar impune. Ninguém e nenhuma humanidade podem dormir bem mais tarde do que os galináceos, acordar mais cedo do que eles, e ainda achar que isso é super normal, que está tudo certo, que a vida é assim mesmo, que vai ficar tudo bem, que ninguém vai morrer por causa disso e outras desculpas esfarrapadas de uma sociedade que não consegue dormir na hora de dormir e despertar somente na hora de despertar. E se ainda há alguma dúvida de que estamos diante de um grave problema que destrói nossa saúde aos poucos, vejam como os galos e galinhas acordam. Eles acordam normalmente, isto é, não precisam de nenhum despertador “com som de seres humanos cantando”. Eles simplesmente acordam! Então tem alguma coisa errada com a gente! Geralmente estamos apressados, sobrecarregados, compromissados e, ainda que com as pálpebras cansadas, sempre arrumamos outras mil coisas pra fazer.


É claro que só apontar o problema também não resolve muita coisa, por isso devemos pensar em soluções que nos tornem mais descansados, dispostos e saudáveis, como por exemplo, começar a trabalhar só a partir das 9h, inventar lâmpadas que fiquem acesas somente até às 21h e fabricar computadores que funcionem apenas duas ou três horas por dia. E o mais importante de tudo: proibir o comércio e o porte de despertadores, especialmente aqueles que têm som de galo cantando. Mas ainda assim nossa jornada diária seria maior que a dos galináceos.


Bem, gostaria de sugerir outras soluções nesse sentido, mas confesso que não é fácil propor mudanças na rotina muito menos realizá-las. Além disso, continuo com muito sono e agora já é quase meia noite; preciso fazer mais algumas coisinhas antes de ir para a cama. Fui!


sábado, 11 de agosto de 2012

Fora de Área

Hoje pela manhã acordei com um desejo enorme de dar um alô para alguns amigos e leitores, mas não tive certeza se todos conseguiriam me ouvir ou entender bem o que eu tinha a dizer, afinal, além de eu estar meio afônico por causa de uma alergia típica de inverno, observei vários jornais noticiando sérios problemas com a telecomunicação no Brasil, particularmente nos serviços de telefonia móvel. Os serviços estão tão precários que a Anatel, agência que regula nossas telecomunicações, puniu várias operadoras de celulares com a proibição da venda de seus chips por vários dias. Considerando esta medida, fiquei me perguntando se realmente existe alguma operadora totalmente saudável que poderia ser recomendada sem contraindicações em nosso país, ou se todas sofrem de algum tipo de gripe ou outra virose daquelas que provocam muito ruído, chiadeira, rouquidão, afonia e, assim, atrapalham a gente a se comunicar uns com os outros. Embora o assunto seja muito sério, a decisão da Anatel me fez lembrar uma pegadinha que meu filho de oito anos gosta de fazer. Ele chega para seus amigos e diz assim: “A Vivo, a Tim, a Oi e a Claro viviam juntas num mesmo lugar. Num certo dia de muita chuva e frio, a Vivo, a Oi e a Claro saíram pra dar uma volta numa área descoberta sem guarda-chuva e sem agasalho”. Após uma pequena pausa, meu filho lança a pergunta todo faceiro: “Qual a única operadora que ficou protegida numa área coberta e não saiu de casa neste dia de chuva e frio?” Então seus amigos costumam responder rapidamente: ”A Tim”. Diante do efeito sonoro da resposta que os amigos lhe dão, sugerindo som de espirro (atchin), meu filho completa a pegadinha todo contente, dizendo: “Saúde!”.

Mesmo sendo uma típica piada de criança que nem sempre tem muita graça, confesso que achei bacaninha o uso da expressão “a Tim” no lugar de “atchim”, empregado como trocadilho para associar o nome de uma operadora de telefonia móvel à relação que existe entre chuva, frio e resfriado. Bem, a estas alturas, tendo muita graça ou não, a pegadinha do meu filho me remete às enfermidades que se manifestam na telefonia móvel brasileira, geralmente com os mesmo sintomas: uns não conseguem falar, outros não conseguem ouvir, há os que não conseguem entender direito, e todos reclamam de chiadeira e rouquidão nas linhas, como se houvesse uma espécie de resfriado, asma ou bronquite entre as torres de transmissão. Parece que as operadoras saíram de casa sem guarda-chuva e sem agasalho num dia de chuva e frio.

Enfermidades e piadinhas à parte, todos nós esperamos que o quadro clínico das operadoras de telefonia móvel melhore muito daqui para frente. E que todas elas sejam mais responsáveis e prudentes, evitando ficar fora de área especialmente nos dias de chuva, a fim de prevenir resfriados no sinal e, especialmente, dor de cabeça nos usuários. Saúde para todos!