Uma das disciplinas escolares que eu mais gostava quando cursava o ensino fundamental era geografia. Naturalmente, é uma das matérias que eu mais gosto de estudar com meu filho de oito anos de idade que hoje está no terceiro ano. Sempre é bom estudar com ele, mas ontem foi ótimo.
Pesquisávamos sobre recursos naturais, agricultura, extrativismo etc. Discutimos de maneira mais detalhada o tema matéria prima, procurando identificar elementos da natureza que são usados na fabricação de outros produtos e que garantem o sucesso industrial, comercial e econômico do nosso pais. Falamos sobre o petróleo, de onde vem a gasolina; mencionamos o algodão, que é transformado em tecido; e falamos das árvores, que dão origem aos móveis que mobíliam o quarto onde estávamos estudando. Foi precisamente nessa hora que tivemos uma espécie de insight. Notamos que tudo o que estava no quarto era industrializado. Não havia nenhuma matéria prima bruta ali; e olha que a gente se esforçou pra encontrar, mas víamos apenas travesseiros, armários, calçados, cadernos, roupas, eletrônicos e assim por diante. Meu filho ficou empolgado e se divertiu com a descoberta, pois se sentiu completamente imergido no sucesso tecnológico e industrial dentro do seu próprio quarto, mas confesso que eu comecei a ficar meio triste e decepcionado por não encontrar ao nosso redor um elemento sequer autenticamente natural. Tudo que estava ali havia passado pelas engrenagens da tecnologia e das fábricas. Nesse contexto, em vez de sucesso, tive uma certa sensação de fracasso.
Embora eu quisesse disfarçar minha leve decepção para não estragar a empolgação do menino, não teve jeito, ele percebeu. Então, na tentativa de me animar um pouco, meu filho começou a vasculhar em cada canto do cômodo em busca de algo que fosse autenticamente natural. E quando parecia que sua dedicação seria em vão, ele olhou bem nos meus olhos e gritou: “Encontrei! Encontrei duas coisas totalmente naturais aqui no quarto; encontrei duas matérias primas genuínas”. No início, pensei que fosse alguma brincadeira dele, visto que seu senso de humor é bastante intenso. Mas fui surpreendido quando ele apontou para o espelho e disse: “Lá estão os elementos não industrializados desse quarto! Nós dois!”. Olhei e vi nossos rostos refletidos no espelho, e sorri. Finalmente algo natural!
Claro que fiquei aliviado, pois quando eu estava me sentindo uma ilha cercado de produtos tecnológicos por todos os lados, meu filho me fez lembrar que, na verdade, toda aquela industrialização está a nossa disposição, girando ao nosso redor, e que a centralidade da existência é nossa e sempre será! Em poucas palavras, ficamos convictos de que além de não sermos produtos manufaturados, somos a principal matéria prima que existe. Afinal, o sucesso de todas as coisas que existem no quarto do meu filho e em todo o planeta é feito através de nós mesmos.
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