Ao longo da história humana, uma série de filósofos, teólogos e pensadores de maneira geral produziram reflexões importantes que se tornaram imortalizadas, como é o caso da célebre frase "penso logo existo", do filósofo francês René Descartes. Mas devemos considerar que pessoas comuns e não renomadas também dão sua contribuição todos os dias ao levantarem proposições do cotidiano que acabam se tornando bastante memoráveis. Um bom exemplo disso é a questão que meu filho de oito anos de idade apresentou para mim ontem à noite. Ele disse: “Pai, quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?” Claro que eu já me deparei com esta reflexão outras mil vezes, pois se trata de uma discussão antiga e muito conhecida, mas até ontem eu não havia chegado a uma boa conclusão sobre o assunto. A novidade é que, desta vez, ouvi do meu filho algumas considerações tão interessantes que, finalmente, posso afirmar: a galinha nasceu primeiro que o ovo!
O raciocínio é simples, muito simples. Para quem acredita que Deus criou a natureza como a conhecemos, a tese do meu filho é a seguinte: Deus criou animais de diferentes espécies, conforme está no livro do Gênesis; Deus formou criaturas que botam ovos e não ovos de criaturas. Portanto, Ele criou uma galinha e não um ovo de galinha. Simples, mas coerente. E para quem é adepto do evolucionismo, de Charles Darwin, eis a proposta: nenhuma espécie evoluiria e se transformaria em um ovo. Gostei dessa. Mas a última colocação do meu filho talvez tenha sido mais convincente que as outras: Se o ovo tivesse nascido primeiro que a galinha nada mais aconteceria; o ovo teria se desintegrado ou qualquer coisa parecida, pois ainda não haveria nenhuma galinha para chocá-lo. A partir daí tudo ficou claro em minha mente. Não há nenhuma sombra de dúvida nem qualquer outra consideração a fazer. A galinha nasceu primeiro.
Antes de encerrarmos a conversa, propus para o meu filho imaginarmos como seria se o ovo tivesse vindo ao mundo primeiro que a galinha. Trocamos uma ideia sobre isso e concluímos que teria sido muito frustrante e revoltante, especialmente para o ovo. Imaginamos o ovo no Jardim do Éden, no ato da criação, observando todas as espécies ao seu redor, todas elas já formadas, com design criativo, algumas pomposas e exuberantes, desfilando cores e habilidades pra lá e pra cá, correndo, saltando, deslizando, nadando, voando. E o ovo lá... sem nada pra fazer, sem nada a dizer, paradão... que sacanagem! Imaginamos também o ovo surgindo no decorrer dos tempos, assistindo a evolução das espécies, admirando as transformações, contemplando as adaptações, perplexo com a genialidade da natureza e perguntando a si mesmo: “E eu? Eu me transformei nisso? Só isso? Isso é evolução? Eu evolui? Que palhaçada é essa?”
Poucos minutos depois, fomos dormir satisfeitos por termos decifrado uma espécie de enigma e dado a nossa contribuição para a história do pensamento humano. Bem, talvez a reflexão que fizemos ontem à noite não teve abrangência tão universal assim, mas sei que demos boas risadas e falamos coisas que se tornaram célebres, memoráveis e imortalizadas pelo menos para nós. E mesmo se não tivéssemos decifrado o enigma, teria valido a pena.
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