segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Tres Razões para o Show das Poderosas

É a segunda vez que meu gosto musical surpreende meus amigos. Como eu tive enorme influência da MPB desde a pré-adolescência, quando eu já admirava e praticava Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso, Beto Guedes, 14 Bis e companhia, a galera ficou meio confusa quando eu curti a canção “Sonho de Ícaro”, com o Byafra, na década de 80. Isto sem contar alguns hits do Peninha, Fábio Jr, Chitãozinho e Chororó, Claudinho e Bochecha etc. Meus amigos diziam: "Isso é muito brega!". Pois bem, agora é a hora do Show das Poderosas, com a Annita. Curto muito esse som! Tal situação me motivou a apresentar três razões pra essa minha recaída. Prepara!

A primeira razão para curtir o Show das Poderosas tem a ver com o balanço mesmo. É um som descolado, swingado, irmão do funk e da ginga, primo do batuque-samba-funk, que mexe com nossas raízes, nossa história e nosso esqueleto. É a nossa mão batendo na mesa e o nosso pezinho no chão marcando o ritmo, ainda que discretamente, muitas vezes sem perceber, e até mesmo sem gostar do gênero musical em questão. Além disso, esse balanço tem mais métrica e poesia do que muitas músicas badaladíssimas que tocam exaustivamente por aí.

A segunda razão é de caráter sociológico. Gostaria de discorrer muitas coisas sobre isso, mas me restrinjo a dizer que é um som do povo, ou um show do povo. Sua alma popular se manifesta não só como expressão cultural, mas também como protesto diante de diversos preconceitos, repressões e monopólios. Isto se revela nas frases do tipo “Prepara! Agora é a hora!” e “Meu exército é pesado!”. São como gritos de guerra, só que sem violência. É como se fosse um movimento capaz de resistir e até combater “as invejosas” que, é óbvio, simbolizam os preconceitos, repressões e monopólios já citados. E mesmo que seja apenas “dançando”, o movimento é tão impactante que deixará muita gente “babando”.

O último motivo é uma mistura de questão política com questão pessoal. Prefiro o Show das Poderosas da Annita ao show dos poderosos. Cansei de sofrer as performances dos poderes terrenos que atuam no Brasil e no mundo, tanto no contexto político, econômico, militar e religioso quanto no contexto tecnológico, midiático e até mesmo cultural. São tiranias, oligarquias, cleros e absolutismos antigos e modernos que sempre tentaram manipular e monopolizar nossa opinião, nossa vida e nosso destino. São segmentos que se intitulam e agem como se fossem especialistas em tudo e autoridades em matéria de ideologia, saber, cultura e sucesso. É melhor dançar ao som do Show das Poderosas do que dançar conforme a música de certos poderes que fazem o povo “descer e rebolar” há muito tempo. Nesse sentido, vale destacar que a proposta da Annita talvez não traga solução sobre os preconceitos e tiranias do nosso mundo, mas pelo menos proporciona alívio e diversão no meio das pressões a que somos submetidos (já posso imaginar “as invejosas” de plantão censurando a expressão alívio e diversão).


Por fim, desejo boa sorte e juízo ao exército das poderosas. Que elas não sucumbam, não se vendam e não se rendam ao esquema manipulador e monopolizador que ronda ao derredor procurando a quem devorar, como aconteceu com alguns dos heróis da minha pré-adolescência, que ou se associaram ao show dos poderosos ou morreram de overdose.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Melhor Matéria Prima do Planeta

Uma das disciplinas escolares que eu mais curtia quando cursava o ensino fundamental era geografia. Naturalmente, é uma das matérias que eu mais gosto de estudar com meu filho de oito anos de idade. Sempre é bom estudar com ele, mas ontem foi ótimo.

Estávamos pesquisando sobre recursos naturais, agricultura, extrativismo etc. Discutimos de maneira mais detalhada sobre o tema matéria-prima, procurando identificar elementos da natureza que são usados na fabricação ou industrialização de outros produtos. Falamos sobre o algodão, que é transformado em tecido, e comentamos sobre as árvores, que dão origem aos móveis que mobíliam o quarto onde estudávamos. Foi precisamente nessa hora que tivemos uma espécie de insight. Notamos que tudo o que estava no quarto era industrializado. Não havia nenhuma matéria-prima bruta ali. E olha que a gente se esforçou pra encontrar, mas víamos apenas edredons, travesseiros, armários, roupas, eletrônicos, cadernos e assim por diante. Ao descobrir que estávamos cercados pela industrialização, meu filho ficou empolgado e se divertiu muito, mas confesso que eu comecei a ficar meio triste e decepcionado por não encontrar ao nosso redor um elemento sequer autenticamente natural.

Embora eu quisesse disfarçar minha decepção para não estragar a empolgação do menino, não teve jeito, ele percebeu. Então, na tentativa de me agradar, meu filho começou a procurar em cada parte do cômodo algo que revelasse a natureza em sua forma original. E quando parecia que sua dedicação seria em vão, ele olhou bem nos meus olhos e gritou: “Encontrei! Encontrei duas coisas bem naturais aqui no quarto... Encontrei duas matérias-primas originais!” No início, pensei que fosse brincadeira dele, visto que seu senso de humor é bastante intenso. Mas fui surpreendido quando ele apontou para o espelho e me disse: “Lá estão os elementos não industrializados desse quarto: Nós dois, pai!”.

Foi emocionante, legal e animador ver nossos rostos revelados no espelho, pois quando eu começava a me sentir uma ilha cercado de produtos manufaturados por todos os lados, meu filho me fez lembrar que, na verdade, toda aquela industrialização girava ao nosso redor porque a centralidade da existência é nossa e sempre será! Mais do que isso, fiquei convicto de que a melhor matéria prima que existe no planeta somos nós mesmos, pois é a partir de nós e através de nós que as transformações acontecem. Nós existimos e vivemos sem edredons, armários e eletrônicos, por exemplo. Mas eles não existem nem vivem sem nós. No fundo, somos matéria-prima conduzindo e transformando outras matérias-primas; isto é um grande privilégio. Mas é urgente lembrar que não podemos conduzir e transformar as coisas de qualquer jeito, pois nossa responsabilidade também é grande. No final das contas, nossa responsabilidade dever ser do tamanho do nosso privilégio.


Essas foram as principais lições que meu filho e eu aprendemos ao estudar para sua prova de Geografia. São questões vitais que precisamos saber de cor, isto é, de coração. Espero que não mais precisemos de um espelho para lembrar que nós não nos criamos a nós mesmos, mas fomos criados na natureza com o poder de transformá-la de modo útil e saudável para todos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Primeiro Pedaço do Bolo

As crianças puseram o chapeuzinho na cabeça, tiraram fotos, cantaram o “parabéns pra você”, e o Bruninho se preparou para cortar o bolo. Como já é um costume antigo, todos ficaram na expectativa sobre quem seria contemplado com o primeiro pedaço, especialmente a avó, a mãe e uma super tia do aniversariante, que eram as candidatas mais fortes por serem as pessoas mais presentes e importantes na vida do pequeno Bruno. Por isso mesmo ele cortou o bolo solenemente, colocou o primeiro pedaço no pratinho com certa cerimônia, olhou com carinho para as mulheres da sua vida, mas, meio trêmulo, e com um sorriso novo no rosto, voltou-se para o outro lado e entregou o primeiro pedaço do bolo para o João, o Joãozinho, um garoto que mora ali no bairro e que conhecera o Bruninho há apenas dois meses. Subitamente, o clima de frustração e reprovação tomou conta dos parentes, afinal, uma tradição importante fora quebrada: o primeiro pedaço do bolo de aniversário do Bruno foi para alguém que não pertence à família. Isso nunca aconteceu antes! É a primeira vez em 9 anos. E agora? Quais serão os desdobramentos desse incidente? O que pode acontecer quando se quebra uma espécie de tradição numa família, numa empresa ou na maneira de fazer e ver as coisas?

Aproveito esta história real apenas para dizer que aquilo que geralmente consideramos “quebra de tradição” nem sempre o é. O Bruninho não quebrou tradição alguma naquela noite, ele apenas atualizou a maneira de cumpri-la. O costume antigo de entregar o primeiro pedaço de bolo a uma pessoa como forma de homenageá-la foi preservado. A única coisa que provavelmente tenha sido ferida ou arranhada na ocasião foi o ego de pessoas que gostariam de manter o status de sempre ganharem o primeiro pedaço do bolo e, assim, manterem sua primazia, seu destaque, seu reconhecimento público etc. No mesmo sentido, o que talvez tenha sido quebrado ou maculado naquela festa foi o monopólio que alguns familiares tinham sobre os relacionamentos e os sentimentos do Bruninho até o momento. Então importa reconhecer que o pequeno aniversariante não quis roubar ou diminuir a importância de ninguém. Ele só queria expressar sua gratidão e apoio ao João, o único amigo do bairro que aceitou o convite para ir a sua festa, mesmo tendo sido convidado apenas duas horas antes. O Bruno se sentiu honrado com a presença do novo amigo e decidiu retribuir honra com honra. Faz sentido! Pois mesmo sem ser da família, e jamais imaginando ganhar o primeiro pedaço do bolo, o Joãozinho tava lá.

Em poucas palavras, o Bruno não quebrou nem desprezou a tradição, pelo contrário, ele a cumpriu, inovou e ampliou. O Bruninho não quebrou relacionamentos, ele acrescentou e fortaleceu laços, incluindo agora a comunidade onde mora, representada pelo Joãozinho. Houve amadurecimento, novas perspectivas, novos horizontes, novo sorriso no rosto, novas pessoas presentes e importantes em sua vida etc. Mas nem todo mundo gosta disso!

Infelizmente, é assim que costuma nascer o ciúme, a inveja e a frustração quando alguém atualiza uma tradição inovando costumes numa família, numa empresa ou em outro contexto. Isso pode estar acontecendo com você nestes dias: Ou pessoas estão te censurando e retaliando porque você “deu o primeiro pedaço do bolo” de maneira inovadora. Ou você pode estar muito incomodado e até enciumado porque o primeiro pedaço do bolo, a honra e o reconhecimento público não pertencem mais somente a você e a sua patota. Pense nisso! E lembre que muita gente merece o primeiro pedaço do bolo e que, de qualquer forma, tem bolo pra todo mundo. (Desconsidere os casos em que o primeiro pedaço de bolo é dado a alguém por mera puxação de saco, demagogia, vingança, politicagem, hipocrisia etc).







segunda-feira, 2 de setembro de 2013

"Aquele Carro ali é Seu?"

Imagino que muitos dos leitores já foram abordados num restaurante, loja ou outro estabelecimento por alguma pessoa desconhecida que lhes fez a surpreendente pergunta: “Ei, aquele carro ali é seu?!”.  Nestas horas costumamos sentir um friozinho na barriga e pensar que algo muito ruim pode ter acontecido com nosso veículo ou que estamos prestes a nos desentender com a pessoa que nos inquiriu. Então suspeitamos: Será que alguém bateu no meu carro? Será que eu fechei a garagem desse cara? Por que esse sujeito intrometido quer informações sobre meu carro? Dificilmente consideramos que algum estranho perguntaria pelo nosso automóvel ou se interessaria por qualquer outra questão da nossa vida com boas motivações ou com boas notícias para nos dar, ainda mais se tal sujeito tiver aquela aparência e tom de voz que consideramos sinal de encrenca. Mas, dias atrás, tive uma experiência interessante que abriu minha visão sobre situações desse tipo.

Era tarde da noite e eu estava em casa prestes a me deitar. Como eu não esperava nenhuma visita, fiquei surpreso e um pouco apreensivo quando o interfone tocou tão fora de hora. Fui direto à janela da sala para ver quem era. Ao olhar para o portão não tive a menor esperança de que se tratasse de algo útil ou agradável para mim, pelo contrário, parecia que se tratava de um estranho que viera pedir alguma coisa. Abri a janela meio azedo e vi um sujeito com cara de encrenca. Pra piorar a impressão, o cara me fez a célebre e desconfortável pergunta: “Aquele carro ali é seu?”, apontando para o meu veículo estacionado do outro lado da rua. Senti o friozinho na barriga que eu mencionei há pouco. Permaneci em silêncio alguns instantes. Pensamentos ruins foram se avolumando em minha mente até que eu me enchi de coragem e respondi: “Aquele carro ali é meu, sim! Por quê?”. Aí o sujeito com cara de encrenca, que em poucos segundos passou a ter cara de anjo, me disse gentilmente: “É que eu estava passando por aqui e vi o carro com os faróis acesos, então eu decidi procurar pelo dono a fim de informá-lo e livrá-lo de uma grande dor de cabeça caso a bateria do veículo acabe”. Então eu engoli a seco, fiquei completamente sem graça e agradeci umas dez vezes ao sujeito que me livrara de uma encrenca de verdade. Assim, meu carro não posou na rua nem ficou sem bateria ao amanhecer.


Entendi que ainda existem pessoas que perguntam pelo nosso carro ou se interessam pela nossa vida com boas motivações e contribuições importantes a dar. Compreendi a importância de abrir a janela da nossa mente quando alguém toca o interfone da nossa alma mesmo que tal pessoa não seja do nosso convívio e que pareça não ter nada de útil e agradável a nos oferecer. Aprendi que nunca é tarde ou tão fora de hora para saber se aquela determinada pessoa que parece se intrometer em nossa rotina é uma encrenca ou um anjo que pode nos ajudar na caminhada e nos livrar de grandes dores de cabeça na profissão, na carreira, nos negócios, enfim, nas mais variadas situações, incluindo os casos em que esquecemos nosso carro na rua com os faróis acesos.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O ABC DA GERAÇÃO Z

Alguns sociólogos definem o grupo de pessoas nascidas a partir da década de 90 como sendo a Geração Z, termo inspirado na primeira letra da onomatopeia zap, que remete a algo feito instantaneamente e em constante mudança. Segundo a enciclopédia livre Wickpédia, zapear é o ato de mudar rápida e repetidamente de canal de televisão, websites ou frequência de rádio, de forma a encontrar algo interessante para ver ou ouvir. Tais atitudes e princípios se tornaram uma das principais marcas da Geração Z, que passa boa parte do tempo zapeando nos notebooks, tablets etc. Esse é o padrão ou o abc da nova geração. Mas, em minha opinião, há outros aspectos que também favorecem o emprego da letra Z para classificar sociologicamente este grupo de pessoas.

O primeiro aspecto é básico e previsível, pois se trata de simples coerência e respeito para com nosso alfabeto. Ora, considerando que a sociologia define como Geração X os que nasceram entre 1960 e 1980, e Geração Y os nascidos entre 1980 e meados da década de 90, nenhuma outra letra poderia representar melhor a sequencia de X e Y do que a letra Z, não é mesmo? É simples mas é verdadeiro.

O segundo aspecto reside no fato da letra Z ser a primeira letra de um dos modismos e conceitos mais usados nestes últimos tempos: zumbis. São filmes, revistas, propagandas, desenhos animados, games, festas, estereótipos e uma série de coisas que, direta ou indiretamente, passam pela letra Z, de zumbi (aquele mesmo Z que antigamente era de zabumba e de Zorro). E a maioria da galera curte muito esses mortos-vivos que, é óbvio, são apenas de mentirinha ou ficção.

Por último, o que mais fortalece a candidatura da letra Z para caracterizar as novas gerações é o uso constante, incondicional e quase compulsivo dos smartiphones e similares. Aí você pode me questionar, dizendo: “Peraí! Smartiphones e similares começam com a letra S e não com Z. É verdade. Mas já notou a infinidade de jovens e adolescentes que andam pela cidade e atravessam as ruas sem tirar os olhos dos smartiphones e similares? Essa é a questão. Eles ficam vidrados na telinha, com os músculos enrijecidos, tesos, hipnotizados, como se tivessem se transformado em zumbis de verdade. Aí, ó! Viu? Olha o Z de Zumbi outra vez! Semana passada eu quase atropelei uns cinco desses de uma só vez numa avenida perto de casa, mas eles nem perceberam. Seguiram em frente sem olhar pros lados, quase catatônicos, zapeando e zumbizando no celular. E isso não é mentirinha nem ficção.


Considerando que depois da letra Z não existe mais nada, e que o as mudanças tem acontecido num zap, é bom a gente começar a pensar logo em qual será a letra do alfabeto mais apropriada para caracterizar a próxima geração. Ou teremos que escolher o abc de outro alfabeto?

sábado, 20 de julho de 2013

Amanhã Será Diferente de Oje?

Durante a aula de Português, a garotinha de 8 anos de idade perguntou à professora: “Tia! Por que a palavra “hoje” começa com a letra “h”?... Não deveria começar com a letra “O” pra ficar igual ao jeito que a gente fala?” Dentre algumas considerações importantes, a professora explicou que o “h” não tem um efeito sonoro propriamente dito, como também acontece na pronúncia das palavras “hora”, “haver”, “honra”, “honestidade”, “hediondo” etc. A pequena aluna entendeu os argumentos expostos mas não escondeu sua frustração. Minutos depois, quase indignada, retomou o assunto: “Mas é ridículo! Onde já se viu? A palavra “hoje” não pode nem precisa começar com “h”. Não faz o menor sentido! É desnecessário! Só atrapalha! Será que um dia isso vai mudar, tia?”

Bem, quando eu soube desse fato, fiquei com vontade de escrever uma cartinha pra nossa garota prodígio, dizendo mais ou menos assim: “Concordo com você, meu amor. A palavra oje não precisa nem poderia começar com a letra “   “. E eu também não vejo a ora dessa istória mudar. Digo isso não apenas em relação ao “   “, pois penso que oje precisam aver muitas outras mudanças em nosso país, e não somente na língua portuguesa. Crimes como a corrupção precisam ser considerados ediondos; os políticos, as autoridades e a população como um todo deveriam agir com mais onestidade; e as pessoas menos favorecidas devem ser tratadas com mais dignidade e onra. Por isso, minha pequena aluna  brilhante, eu vivo fazendo a mesma pergunta que você fez a sua professora: Será que um dia isso vai mudar? Amanhã será diferente de oje? Considerando que “amanhã” não começa com “h”, espero que tenhamos menos problemas e muita chance de viver com mais armonia e umanidade do que vivemos oje em dia".

Na verdade, apesar da minha singela esperança, reconheço que enquanto tivermos contradições ridículas como o "h" sem efeito no início da palavra "hoje', será muito difícil resolver os grandes problemas e impasses do presente e do amanhã em nossa nação. Em sentido semelhante, enquanto o "h" maiúsculo exposto no prédio do Congresso Nacional for apenas uma letra e também não tiver efeito propriamente dito, permanecerá a dúvida se amanhã será diferente de oje. Em ambos os casos, isto é, tanto na língua portuguesa quanto no prédio do Congresso, a letra "    " soa mais como ipocrisia.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Os 10 Mandamentos dos Protestos no Brasil

Os protestos populares que vivenciamos em nosso país neste mês de junho e os motivos que se apresentam como justificativa para tais manifestações merecem atenção, reflexão e contribuições da sociedade como um todo. Nesse sentido, propus-me a relacionar 10 princípios que podem nos ajudar a atravessar esse momento e chegar a uma realidade melhor ou menos problemática do que a que temos no Brasil há décadas e décadas.
Faço isso inspirado nos mandamentos que Moisés apresentou aos hebreus quando estes atravessavam o deserto rumo à terra prometida, momento em que se fez necessário um norte ético e moral para que o povo fosse preservado da injustiça e da violência durante a caminhada e após o deserto (Êxodo 20).
 
Minha motivação não se fundamenta em militância partidária nem religiosa, mas, sim, no desejo de que nosso povo e nação se achem preservados ao final desse deserto ético, moral, social e político que atravessamos. “Os 10 mandamentos dos Protestos no Brasil” podem favorecer nosso êxodo para uma realidade melhor:
1.      Não te calarás diante da injustiça e da corrupção.
2.      Não cometerás atos de vandalismo.
3.      Não reprimirás as manifestações democráticas, legítimas e pacíficas.
4.      Reprovarás a violência e o vandalismo do Estado e da população.
5.      Fortalecerás tua consciência ética, política, social e humanitária.
6.      Estarás aberto ao diálogo, à justiça e à paz.
7.      Não te aproveitarás da situação de forma oportunista e interesseira.
8.      Lutarás pelos teus direitos e pelos direitos do teu próximo.
9.      Protestarás e reivindicarás também, e especialmente, através do voto nas eleições.
10. Apresentarás propostas e compromissos na construção de um país melhor.




terça-feira, 28 de maio de 2013

DUAS VIDAS

num POEMA-DIÁRIO


SÃO DUAS VIDAS:
A VIDA QUE SOFRO DE DOIS ANOS PRA CÁ
E A QUE CELEBREI ANTES DISSO
NEM PAREÇO A MESMA PESSOA
NÃO PARECE A MESMA HISTÓRIA
SINTO-ME EXILADO, EM ÓRBITA
FEITO AS MENSAGENS NÃO LIDAS
ESTOU ALI, MAS TANTO FAZ
REAL COMO UM PENSAMENTO
PODE SER TRÁGICO
PODE SER LIBERTADOR
DEPENDE
TALVEZ EU ESCOLHA
TALVEZ EU SEJA ESCOLHIDO
ESTOU COM PRESSA, MAS NÃO HÁ PASSAGEM
ESTOU SOZINHO, ENTÃO NÃO TENHO MEDO
PRIMEIRO, SINTO QUE NÃO ACABA
DEPOIS, PENSO QUE CHEGOU A HORA
E DE REPENTE ME PEGUEI MAIS LEVE
PERCEBI QUE A MORTE É PASSAGEIRA
FAZ UMA SEMANA QUE EU NÃO MORRO
FUI RECICLADO
PARECE UMA RESSURREIÇÃO:
O QUE VIVI ATÉ DOIS ANOS ATRÁS
E O QUE ESTOU VIVENDO HÁ SETE DIAS
DUAS VIDAS QUE SE ENCONTRAM NOVAMENTE
PARECE A MESMA HISTÓRIA
PAREÇO A MESMA PESSOA
A VIDA TAMBÉM É PASSAGEIRA
RESSUSCITEI MAS PERDI A HORA
NÃO SEI SE VOU ATRÁS
OU ESPERO OUTRA CHANCE
GOSTARIA DE NASCER DE NOVO
QUERO VOLTAR DO COMA
PRECISO DESFIBRILAR
PASSARAM-SE DUAS SEMANAS
AS IMAGENS DO PASSADO SÃO VAGAS
AS LEMBRANÇAS DO FUTURO CONFUSAS
FIQUEI SOZINHO QUANDO FUI CERCADO – ESTA É A MINHA DOR
DEUS ME AJUDOU QUANDO FUI FERIDO – ESTA É A MINHA FORÇA
MAS E AGORA?
VIVO PARA PERDER OU MORRO PARA VENCER?
DEUS PRESERVOU MINHA VIDA E MINHA MORTE
PAREÇO UM PÊNDULO
SÃO DUAS VIDAS
QUINZE DIAS PARA UMA, QUINZE DIAS PARA A OUTRA.
UM MÊS APÓS O OUTRO
PENSEI QUE A NOITE FOSSE MAIS CURTA
QUASE ACREDITEI QUE DARIA TEMPO
MAS DEMOROU PRA AMANHECER
OS FANTASMAS VOLTARAM
É O TOQUE DE RECOLHER OUTRA VEZ.
PARECE A ESTACA ZERO.
ESTACA ZERO DO PASSADO OU DO FUTURO?
E OS FANTASMAS? VOLTARAM DE ONDE? DO PASSADO OU DO FUTURO?
HÁ DEZ MESES NÃO ME LEMBRAVA DO FUTURO
AGORA EU LEMBREI E FOI BOM
PARECE QUE POSSO RECOMEÇAR
PAREI DE FAZER PLANOS PELO RETROVISOR
PERDI ALGUNS AMIGOS
AMIGOS ME PERDERAM
FIZ NOVAS AMIZADES
O ANO AINDA NÃO ACABOU
MAS JÁ ESTOU NO REVEILLION
QUASE TROCANDO DE ROUPA
A BRANCA NO LUGAR DA PRETA
PORÉM AS COSTAS DOEM
PRECISO DE AJUDA
É DIFÍCIL SE VESTIR COM DOR
TARDE DEMAIS
DEPOIS DO RELÂMPAGO, A LUZ ACABOU
VOU TATEAR DE NOVO
É A ESCURIDÃO!
AS ROUPAS BRANCAS SÃO IGUAIS ÀS PRETAS
SÓ ENXERGO AQUILO QUE PENSO
UM ANO SEM SOLUÇÃO
ENTÃO ESTÁ RESOLVIDO
ESTOU PRONTO...
MAS RESTA UMA DÚVIDA:
SONHO E ME TORNO LOUCO?
OU ACORDO E ENLOUQUEÇO?
DUAS VIDAS E UMA LOUCURA
TEM QUE HAVER OUTRO JEITO
ESPERO EM DEUS!
POIS É CADA VEZ MAIS DIFÍCIL SABER A DIFERENÇA ENTRE A ESPERANÇA E A ILUSÃO
A FÉ E A LOUCURA, A PAZ E A COVARDIA
A HUMILDADE E A DEPRESSÃO
UMA VIDA E A OUTRA.

                                                Por Flávio Rolo

Obs: Este diário em forma de poema foi escrito em exatamente 12 meses, ainda que a ideia original fosse fazê-lo em 1 mês.
                                           

domingo, 26 de maio de 2013

CONCURSO PARA IDIOTA DO INSS

Sempre ouvi falar em concurso público do INSS, especialmente nas muitas vezes em que precisei ir à agência da Previdência Social obter alguma informação ou passar por perícias médicas, como aconteceu na semana passada, ocasião em que tive a impressão de que havia um concurso público para idiotas bem na hora em que eu estava lá, na sala do perito. Veja como foi.
Embora seja meio esquisito, suspeitei que o concurso para idiotas tivesse apenas uma vaga para dois concorrentes, eu e o médico que me atendeu, fato que se confirmou quando apresentei o laudo do meu ortopedista pedindo a prorrogação do auxílio doença que eu vinha recebendo há alguns meses. Ao olhar o laudo, o perito, como se estivesse me examinando de verdade, pediu para eu levantar os braços, caminhar até a porta e voltar até a sua mesa. Percebi então que meu concorrente era muito forte e tinha tudo para ficar com a vaga de idiota, pois até a recém falecida Margareth Tatcher conseguia levantar os braços tranquilamente apesar da idade avançada e do Alzhaimer.
 No mesmo sentido, meu cachorro também consegue levantar a patinha, caminhar até a porta do corredor e voltar sem problema algum; isto não quer dizer que ele tem condições de exercer uma atividade laborativa normalmente.






E pra garantir a vaga de uma vez por todas, meu concorrente pediu para eu juntar as mãos e levantá-las até a altura do meu nariz, igualzinho a minha vizinha fazia nos testes de labirintite que o seu neurologista aplicava. Mas eu não estou com labirintite, pensei. Foi aí que eu desisti de concorrer, pois concluí que o perito do INSS ficaria com a vaga de idiota mesmo se houvessem mais de mil candidatos concorrendo com ele.
Dias depois, fui totalmente surpreendido quando recebi uma cartinha da Previdência Social comunicando que a vaga de idiota era minha, isto é, meu pedido de prorrogação do benefício fora negado, significando que, baseado nos procedimentos amadores que mencionei anteriormente, o perito que me atendeu jogou o laudo do meu ortopedista no lixo e julgou que eu estou em condições de trabalhar normalmente e que, portanto, não tenho mais direito a receber o auxílio doença (mas só porque eu consigo levantar os braços e caminhar até a porta?!).
Por último, mesmo tendo conquistado a vaga de idiota, fiquei com duas dúvidas perturbadoras.  A primeira é esta: Por que o perito receberá o salário do governo sendo que fui eu quem passou no concurso para idiota do INSS? A segunda: Por que o perito continuará recebendo salário do governo sendo que ele também consegue levantar os braços, caminhar até a porta e colocar as mãos na altura do nariz igual a mim? Pode ser idiotice minha, mas se a minha renda foi cortada porque eu consigo caminhar até a porta e levantar os braços, penso que a renda do perito também deveria ser cortada, não é mesmo?
É... Talvez eu e milhões de contribuintes do INSS mereçamos mesmo o cargo de idiota da Previdência Social.

domingo, 31 de março de 2013

O ARCO-ÍRIS DE 9 CORES

De alguns anos para cá, tornaram-se muito comuns discussões sobre homofobia. Porém, tenho percebido que o mais adequado seria pensarmos em homofobias. Digo isto porque, em minha opinião, hoje temos a homofobia ativa ou direta e a permissiva ou indireta.
O homofóbico ativo, que chamarei de Tipo 1, é aquela pessoa que sempre teve raiva e exerceu militância contra homossexuais. É o que, combate, ofende e agride o homossexual apenas porque este é homossexual. Trata-se da homofobia direta, fundamentada no ódio. O homofóbico do Tipo 1 é capaz de mudar de calçada só para agredir um gay que está passando do outro lado da rua. “Qual a maldade que eu posso cometer contra esse gayzinho agora?!”, pensa o homofóbico ativo.
O homofóbico permisso, que denomino como Tipo 2, é aquela pessoa que, ao contrário do Tipo 1, sempre teve boa amizade e convívio saudável com gays. É o que sempre defendeu os direitos da pessoa gay assim como faz com o direito de todas as pessoas, mas que de uns tempos para cá passou a ver o movimento gay e seus desdobramentos com certa desconfiança, isto é, não consegue confiar nas motivações dos homossexuais como confiava antes. Assim, a pessoa que passou a ter receio dos interesses homossexuais é capaz de mudar de calçada porque está com receio de um gay que está andando do mesmo lado da rua. É a homofobia indireta, inspirada na falta de confiança, no descrédito e até no medo, e não no ódio. “O que será que este gay pode fazer contra mim agora?!”, pensa o homofóbico permissivo. E eu fico aqui pensando: “O que faz com que alguém comece a permitir tais suspeitas e cismas onde antes não havia? ”
Sem me delongar, creio que um dos fatores que mais contribuíram para o surgimento da homofobia permissiva ou indireta é o fato da imagem dos movimentos gays estar cada vez mais associada às estratégias políticas e ao comportamento midiático. Ora, sabemos que grande parte dos brasileiros não confia nos políticos profissionais tão pouco nas performances da nossa mídia. Por isso, quanto mais a causa homossexual se identificar com os palanques, plataformas partidárias, palcos e auditórios, mais homofóbicos do Tipo 2 surgirão, pois, como já mencionei, aquilo que eu chamo de homofobia permissiva acontece naturalmente pela falta de confiança, medo e descrédito, aspectos muito presentes no relacionamento da população com a política brasileira e com os meios de comunicação como um todo. É lamentável! Pois os dois tipos de homofobia são prejudiciais.
Bem, mesmo se eu não estiver certo quanto às homofobias que descrevi, gosto de lembrar do mundo que eu conheci quando era mais jovem, onde gays e héteros conviviam fraternalmente, sem ódio e sem desconfiança. Um mundo onde nem gays nem héteros conheciam a homofobia. Um tempo em que os gays eram gays e os héteros eram héteros, simplesmente. Um tempo em que um gay podia dizer ao amigo hétero: “Sou gay e quero me casar”. E o amigo hétero podia responder: “Eu não concordo com o casamento gay”. Em seguida os dois iam tomar um chopp e se divertir com outros amigos. Era uma época em que não havia nem ódio nem medo ao escrever um artigo simples e despretencioso como este.
Chego a ter a impressão que, naquela época, o preto e o branco também faziam parte do arco-íris. É isso mesmo... o arco-íris tinha pelo menos 9 cores naquele tempo. Às vezes sinto que esse mundo ainda existe dentro de algumas pessoas. Ainda bem!

Pena que, por outro lado, parece aumentar o número de pessoas que tentam reduzir o arco-íris a apenas duas faixas, a dos homofóbicos e a dos antihomofóbicos.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Epicondilite Benígna

Sempre ouvi falar de um problema que costuma se manifestar no cotovelo da gente provocando muita dor e comprometendo bastante a realização dos movimentos – é a tal da Epicondilite. Nunca dei muita bola pra isso, até que certa manhã tive uma desagradável surpresa: acordei com um desconforto irritante no braço direito, bem no cotovelo, e, quando conversei com meu médico sobre o caso, não deu outra: “É Epicondilite!”, disse o doutor. Olha, se realmente existir aquela famosa “dor de cotovelo” que o povo costuma dizer por aí, tenho praticamente certeza que a Epicondilite dói mais do que ela.
Bem, para poupar seu trabalho de ir ao Google pesquisar sobre o assunto, posso adiantar que a Epicondilite se caracteriza pelo aumento da sensibilidade na região do epicôndilo, que é uma das saliências ósseas da articulação do cotovelo onde ficam inseridos os tendões de vários músculos do braço. Então, quando esse negócio dói, dói pra valer, especialmente se for por inflamação ou algum trauma. E eu posso afirmar que tava doendo pra caramba no dia em que fui ao médico. Era tudo de ruim.

Por outro lado, foi por causa Epicondilite que eu consegui realizar um sonho antigo: exercitar ainda mais o meu cérebro ao usar a mão esquerda para fazer uma série de coisas que até então eu só fazia com a direita. Assim, pra evitar a dor e poupar o desgaste do cotovelo comprometido, passei a usar o outro braço para abrir tampa de garrafa pet, dar descarga no vaso sanitário, puxar a gaveta do armário, abrir a porta do carro, utilizar o mouse do computador, apertar a ponta da mangueira para aguar as plantas, lavar as costas etc, atitudes diferentes que inclusive ajudam a evitar o mal de Alzheimer. Além disso, em função da Epicondilite, já não preciso jogar 5 partidas de futebol seguidas com meu filho em seu vídeo game. Ora, eu gosto muito de jogar com ele, mas, na boa, 5 partidas seguidas grudado no sofá é muita  coisa prum cara nas minhas condições físicas. Dá dor nas costas, no pescoço, na bunda e, agora, no epicôndilo. Resultado: jogamos uma ou duas partidas e pronto! Vem a dor no cotovelo! É hora de parar! Nem dá tempo de sentir dor em outros lugares. Que alivio! "Beleza, filhão! Amanhã a gente brinca mais".
Essas coisas me fazem pensar que, em muitas ocasiões, a vida permite que passemos por algumas “epicondilites” a fim de nos revelar e oferecer novas oportunidades que até então não conseguíamos ver ou não tínhamos coragem de ousar. Em outras palavras, diante de algumas dores ou limitações do nosso dia a dia descobrimos que temos outros potenciais que estavam esquecidos ou desprezados e que agora podem e precisam ser usados. Diante de alguma porta que se fechou e nos deixou muito entristecidos, percebemos outras portas que já estavam abertas há muito tempo esperando por nós, isto é, caminhos que nos podem proporcionar as mesmas alegrias ou alegrias até maiores do que aquelas que tínhamos anteriormente, quando vivíamos exageradamente bitolados nisso ou naquilo. Por isso digo que as “epicondilites” podem ser benignas, ainda que este termo não exista nos compêndios médicos nem no linguajar clínico.
Portanto, descubra e aproveite o lado útil das “epicondilites” que se manifestam nas articulações da sua alma. Quem sabe você experimente coisas novas, maiores e mais incríveis do que as realizações rotineiras que você tá tão acostumado a viver. Isto é possível! Tente, e não pare de tentar!
No meu caso, penso que se a “Epicondilite” do meu cotovelo direito piorar, meu próximo alvo será tentar usar o papel higiênico com a mão esquerda.  Putz... acho que meu cérebro nem precisava de tanta novidade assim pra evitar o Alzheimer, mas, tudo bem... tá valendo! Já pensou se eu conseguir? Se for necessário, vou tentar!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Embarcações à Deriva

Diante do lamentável episódio ocorrido com o navio Carnival Triumph, que ficou à deriva por alguns dias no Golfo do México, foi inevitável pensar na Arca de Noé e considerar certas curiosidades entre as duas embarcações.
No caso do cruzeiro Triumph, por exemplo, a maioria dos passageiros está inserida na economia mais forte do mundo, e apresenta condições sócio-culturais acima da média; é gente acostumada ao conforto e modernidade. No caso da Arca de Noé, uma parte dos passageiros era de agricultores ou lavradores, gente muito simples e habituada às hostilidades e desafios da vida mais rústica. Diga-se de passagem, foi um desses homens do campo que construiu a embarcação, bem diferente do navio cruzeiro, que foi desenvolvido por especialistas de diversos setores. É importante lembrar que os demais passageiros da Arca, isto é, a grande maioria, eram animais de toda espécie que Noé encontrou na época, incluindo bichos de hábitos indesejáveis, ferozes e muito fedidos.
A segunda curiosidade é o tempo que as duas embarcações ficaram à deriva. Quatro dias para os turistas do cruzeiro, e várias semanas para Noé e seus companheiros. É uma diferença muito significativa, assim como é significativa a diferença entre o grau de satisfação dos passageiros. Mesmo quando o Carnival Triumph ainda estava ao mar, a mídia divulgou o quanto as pessoas a bordo estavam insatisfeitas e revoltadas, realidade que se avolumou bastante ao desembarcarem no Alabama. No episódio da Arca de Noé, não há relatos bíblicos sobre revolta, reclamações ou arrependimento de ter viajado. Ninguém moveu processos ou ações contra Noé após o desembarque, pelo contrário, a Bíblia afirma que os passageiros fizeram um culto de gratidão a Deus de tão satisfeitos que estavam.
Curiosidades à parte, naveguemos rumo ao que mais importa: Os passageiros do cruzeiro à deriva no Golfo do México buscavam prazer, turismo, comodidade e, quem sabe, status. Havia muito dinheiro envolvido, e a única segurança que tinham era a promessa de diversão garantida que o mundo dos negócios sempre faz – nada contra isso. Mas a turma da Arca, por outro lado, buscava a sobrevivência. A segurança que tinham eram a promessa e o plano de Deus sobre a preservação da vida – tudo a favor disso. Não havia em Noé e em seus companheiros nenhuma expectativa de diversão garantida nem de status nem de lucro financeiro. A Arca estava à deriva sim, porém, com propósitos bem mais valiosos do que os milhões de dólares a bordo do Carnival Triumph.
Deixo claro que considerei muito lamentável o que aconteceu com os passageiros do navio cruzeiro no Golfo do México – eu não gostaria de estar na pele deles.  Mas isso não me impede de imaginar a seguinte questão: Será que a mesma pomba que saiu da Arca de Noé e depois voltou com um ramo de oliveira no bico voltaria para o Triunph Carnival caso fosse solta de lá? Bem, penso que se ela encontrasse a Arca no meio do oceano faria opção pela embarcação de Noé, pois talvez seja mais viável ficar várias semanas convivendo com animais de hábitos indesejáveis numa arca do que passar quatro dias à deriva naquele tipo de cruzeiro, mesmo sabendo que os tripulantes do Triumph são mais elitizados e que no barco de Noé falta energia elétrica, ar condicionado e sistema de esgoto a contento.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

2013: O Ano que Terminou Antes.


Não, não, não... Mil vezes não! Não é possível! O ano de 2013 mal começou e já tá quase acabando. Tanto é verdade que as redes de televisão poderiam fazer uma super retrospectiva sobre os 365 dias mais curtos da história ainda em fevereiro, até porque o Carnaval já se foi e assunto é o que não falta. 

Nesse sentido, tivemos o retorno do Renan à presidência do Senado brasileiro e o adulterado aumento no preço do combustível, passando pela tragédia da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, e a crescente onda de atentados em Santa Catarina.
Além disso, baseada em estimativas e cruzamento de dados, a comunidade científica divulgou ontem que o ancestral mais antigo do ser humano é um ratão, quase uma capivara. Já pensou?
E pra sacramentar o fim prematuro de 2013, incluo as três notícias mais comentadas aqui em casa: a renúncia do Papa, o agravamento da minha artrite e o asteroide aí ao lado. É mole?! Era só o que faltava! Um asteróide ou meteoro tirando tinta do nosso planeta! A Terra nunca passou tão perto de um negócio deste tipo antes e vice-versa. Gran finale, hein?! Com fatos deste calibre nem se faz necessária a Copa das Confederações.
Por outro lado, que venha 2014! Sem tragédias, sem atentados, sem asteroides e, de preferência, sem Renan na presidência do Senado.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

As Andorinhas


Espero que esse texto bata à porta do seu coração assim como bate à porta da minha casa dia e noite. São elas, as várias andorinhas que se assentam todas as manhãs defronte a nossa varanda, sobrevoam a vizinhança por alguns minutos, desaparecem durante o dia e, no horário marcado, em torno das 18h30m, voltam e pousam novamente nos mesmos fios de alta tensão. Mas quando voltam, é diferente, são apenas duas; sempre. E então começa a cerimônia que,  com certo exagero, mais parece uma estratégia.

Após permanecerem nos fios por vários minutos, uma das andorinhas sobrevoa nosso quintal e logo retorna para junto da outra. Passam-se mais uns minutinhos e a mesma andorinha faz o segundo voo, este bem mais curto, somente até o beiral da nossa varanda, enquanto a outra aguarda pacientemente no fio. Como acontece em todo anoitecer, a andorinha que está no beiral invade a varanda de modo arrebatador, faz uma espécie de reconhecimento relâmpago e volta para o fio. Sempre assim! Se estiver tudo tranquilo no local, sem movimento ou barulho, aí então ela se lança no ar rumo a nossa varanda pela última vez e se abriga rapidamente entre uma viga de madeira e as telhas de barro. Não demora muito, a andorinha que ficara assistindo a tudo lá do alto do fio vem direto e reto, sem rodeios, sem escalas, e se junta ao seu par entre a viga e as telhas, bem na porta da nossa cozinha, onde passam a noite.Todas as noites! Que cerimônia linda!

Simultaneamente, eu também faço meu ritual dentro de casa. Quando a noite começa a cair, vou até a janela da sala para ver se as duas andorinhas já pousaram nos fios. Depois de certo tempo, dirijo-me à porta da cozinha a fim de conferir se uma delas já se deslocou para o beiral da varanda. É curioso: muitas vezes eu chego ali bem na hora em que a andorinha está fazendo o voo relâmpago de reconhecimento, e assim dou de cara com ela. Que susto! Quando isso acontece, é o clímax. Volto correndo pra dentro de casa e fico quietinho, me movendo suavemente, espiando por alguma fresta e com os ouvidos bem atentos ao som das andorinhas se aproximando e se acomodando entre a viga e as telhas. Como se isso não bastasse, pouco antes de eu dormir, lá pelas 23h, dou um pulinho na porta da cozinha para ver se as andorinhas estão bem; e elas sempre estão. Fico com a impressão de que o principal alvo desta aves e descansar em paz e segurança, pois é isso que vai lhes garantir os voos mais longos e mais altos do dia seguinte.
Ontem à noite, ao ver o casalzinho dormindo sobre a viga de madeira, eu disse ao meu filho: “Que bom que estas andorinhas encontraram um lugar especial pra descansar!” Meu filho respondeu: “É verdade, pai! Nossa casa é uma bênção até para as andorinhas!”. Aquilo chamou minha atenção! Confirmei o quanto um lar pode ser importante na vida das aves e, especialmente, na vida das pessoas. Inevitavelmente, lembrei-medo Salmo 84.3: “O pardal encontrou casa e a andorinha encontrou ninho para si... e eu encontrei paz e segurança no convívio com Deus”. Percebi que assim como nós oferecemos nossa varanda para as andorinhas se abrigarem, Deus também nos acolhe entre as vigas e as telhas do seu amor, onde podemos descansar em paz e nos preparar para novas conquistas e voos mais altos. E assim podemos concluir que viver com Deus é uma bênção! E além de significar paz e segurança, é o que nos capacita para novas conquistas e voos mais altos no dia seguinte.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

"Nossa Galera" no SPTV



A TV Fronteira, afiliada da Rede Globo, exibiu no SPTV deste sábado, dia 02/02, a matéria completa sobre os amigos de Presidente Prudente, SP, que compuseram e publicaram uma música em homenagem e solidariedade às vítimas da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, RS, tanto às pessoas que morreram quanto às que sobreviveram, constituindo também uma manifestação de apoio e carinho para com os seus familiares. A canção se chama "Nossa Galera", e procura retratar a importância das boas lembranças e da saudade que os universitários carregam consigo em relação aos amigos e à experiência universitária como um todo.
A matéria que foi ao ar pode ser vista num dos links da emissora: http://www.ifronteira.com/noticia-presidenteprudente-45306
Para assistir e ouvir apenas a música gravada pela equipe de jornalismo, acesse http://www.ifronteira.com/noticia-presidenteprudente-45307
E para conhecer a música como tem sido divulgada na net desde o dia 31, visite http://www.ferasdanoite.com.br/baladas-atuais/16/NOSSA-GALERA

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Histórico sobre a "Nossa Galera"

Tenho boas lembranças e muita saudade das amizades e experiências da minha vida universitária. Em função destes sentimentos, comecei a compor uma canção dias antes da tragédia ocorrida numa casa noturna em Santa Maria, RS, na madrugada de 27 de janeiro deste ano. Então, no dia posterior à tragédia, fiquei sensibilizado com os fatos e me vi inspirado a atualizar e finalizar a referida música em solidariedade às vítimas de Santa Maria, especialmente às pessoas ligadas ao contexto estudantil, expressando as boas lembranças que trago comigo ao longo dos anos e, ao mesmo tempo, a saudade de amigos que eram tão estimados na época da faculdade. Alguns destes meus amigos deixaram os estudos por motivos pessoais, outros faleceram em acidentes ou foram assassinados durante o curso, e os demais seguiram cada um o seu próprio rumo após a formatura, o que, neste último caso, é extremamente comum e natural. Portanto, guardadas as devidas proporções, sei o que é ter coisas boas de para lembrar e o quanto pode ser impactante os dramas vividos no ambiente universitário. Penso que muita gente entende o que é isso e compartilha dos mesmos sentimentos.
Nessa perspectiva é que nasceu a música “Nossa Galera”, a qual oferecemos às vítimas e familiares envolvidos na tragédia do último dia 27, em homenagem, carinho e solidariedade para com estes. Com a canção, não pretendemos questionar nem explicar nada. Nosso único propósito é inclinar nosso coração na direção dos jovens que morreram e dos que sobreviveram nesta batalha, mesmo porque todos nós, de um jeito ou de outro, fazemos parte da mesma galera. Quem sabe esta música sirva tanto para os estudantes e familiares de Santa Maria quanto para muitos outros universitários e ex-universitários que têm boas lembranças e saudades da “faculdade e dos barzinhos”, como sugere a letra da canção, daí então as postagens que estão sendo feitas na net utilizando a foto ao lado.
Bem, ao concluir a música, convidei uma jovem caloura universitária para interpretá-la, a Rachel, e com a ajuda dos amigos do Stúdio Águia, trabalhamos e gravamos “Nossa Galera” no dia 30 de janeiro, que, por coincidência ou não, é o Dia da Saudade. Nossa comoção é sincera e, sinceramente, gostaríamos de ter feito mais e melhor pelas vítimas e seus familiares. Não somos profissionais da arte ou da música, mas gostamos de senti-las e usá-las em momentos como estes.
Quem quiser conhecer ou ouvir novamente a canção gravada no Dia da Saudade em homenagem e solidariedade às vítimas da tragédia da boate de Santa Maria, pode acessar o link http://www.ferasdanoite.com.br/baladas-atuais/16/NOSSA-GALERA
Grande abraço a todos! Que Deus fortaleça com graça e poder a cada um!