A primeira coisa que fiz ao acordar pela manhã foi me perguntar: Será que hoje é o dia seguinte? Em outras palavras, comecei a ponderar sobre a possibilidade do mundo ter acabado na noite passada enquanto eu dormia. É claro que não dava pra ficar na cama o resto do dia com essa dúvida, então me levantei e abri a porta da cozinha bem devagarinho a fim de dar uma espiadinha. E, como acontece todas as manhãs, meu cachorro me sorriu latindo e abanando o rabinho: vapt-vupt, vapt-vupt, vapt-vupt. Nada demais. Sem novidades. O que não significava que o mundo não tivesse acabado.
Digo isso porque quando parte do Japão foi devastada por um tsunami em 2011, meu cachorro se comportou do mesmo jeito, isto é, abanando o rabinho no dia seguinte. Quando o México e o Haiti sofreram violentos terremotos há alguns anos, lá estava meu cachorro na porta da cozinha bem de manhãzinha: vapt-vupt. Até mesmo quando o Corinthians conquistou o Mundial de Clubes da FIFA recentemente, o cãozinho me saudou na porta da cozinha abanando o rabinho normalmente, como se aquele fosse um dia comum. Verdadeiramente, a gentileza deste animal de estimação não serve como sinal do fim dos tempos. Penso que nem a colisão de um meteoro poderia impedi-lo de abanar o rabo na porta da cozinha. Então eu precisava de algo mais. Por isso arrisquei ir até o quintal para sondar a vizinhança.
Conforme acontece todos os sábados de manhã, um dos vizinhos estava lavando seu carro como se nada tivesse acontecido. A mesma coisa de sempre. De duas, uma: ou o cara é tão obcecado por embelezar o carro a ponto de fazê-lo mesmo depois do fim do mundo ou a nova era prevista pelos Maias é igualzinha à era anterior, com vizinhos lavando o carro e cachorros abanando o rabinho. Mas e agora? O que fazer? Eu não podia me contentar com as cenas corriqueiras daquela manhã de sábado; eu tinha que extrapolar essas fronteiras para obter respostas mais esclarecedoras. E foi isso que eu fiz.
Voltei correndo para o quarto e entrei no portal que poderia me levar aos lugares mais remotos do planeta em poucos segundos, o Google. Eu precisava saber como os elefantes do litoral da Indonésia e outros países asiáticos se comportaram ontem, dia 20 de dezembro de 2012, véspera do hipotético fim do mundo previsto pelos Maias. Pra quem não sabe, estes elefantes costumam ficar agitados e procurar abrigo ao pressentirem algum tipo de catástrofe, como fizeram em 2004, quando um tsunami avassalador destruiu diversos lugares e matou muitos seres vivos, menos os elefantes, que se refugiaram com segurança antes das ondas gigantes invadirem as praias. Esquisito ou não, descobri que os paquidermes da Indonésia tiveram uma véspera de fim de mundo absolutamente normal. Tudo tranquilo, sem nenhuma intercorrência. Os grandalhões de tromba não ficaram agitados, não se afastaram assustados do litoral à procura de abrigo e não subiram no banquinho quando viram um ratinho correndo no chão e passando entre suas pernas. Desisti dos elefantes e fechei o notebook.
Após estas três tentativas frustradas, comecei a desconfiar que o mundo acabou e ninguém ficou sabendo, nem meu cachorrinho nem meu vizinho lavador de carros nem os elefantes sabidos da Ásia. Que pena! Ainda bem que, antes de eu ser tomado de profunda decepção, lembrei-me que a Bíblia afirma que somente Deus sabe como e quando se dará o fim dos tempos, e que, desta maneira, nem mesmo os Maias poderiam revelar ou explicar tais mistérios a respeito do dia final. Segundo a Bíblia, a nós nos cabe viver da melhor maneira possível o dia que se chama hoje. Então vamos lá! Que tal fazer isso antes que o mundo acabe de verdade?