sábado, 22 de dezembro de 2012

O Mundo Acabou e Ninguém Ficou Sabendo

A primeira coisa que fiz ao acordar pela manhã foi me perguntar: Será que hoje é o dia seguinte? Em outras palavras, comecei a ponderar sobre a possibilidade do mundo ter acabado na noite passada enquanto eu dormia. É claro que não dava pra ficar na cama o resto do dia com essa dúvida, então me levantei e abri a porta da cozinha bem devagarinho a fim de dar uma espiadinha. E, como acontece todas as manhãs, meu cachorro me sorriu latindo e abanando o rabinho: vapt-vupt, vapt-vupt, vapt-vupt. Nada demais. Sem novidades. O que não significava que o mundo não tivesse acabado.
Digo isso porque quando parte do Japão foi devastada por um tsunami em 2011, meu cachorro se comportou do mesmo jeito, isto é, abanando o rabinho no dia seguinte. Quando o México e o Haiti sofreram violentos terremotos há alguns anos, lá estava meu cachorro na porta da cozinha bem de manhãzinha: vapt-vupt. Até mesmo quando o Corinthians conquistou o Mundial de Clubes da FIFA recentemente, o cãozinho me saudou na porta da cozinha abanando o rabinho normalmente, como se aquele fosse um dia comum. Verdadeiramente, a gentileza deste animal de estimação não serve como sinal do fim dos tempos. Penso que nem a colisão de um meteoro poderia impedi-lo de abanar o rabo na porta da cozinha. Então eu precisava de algo mais. Por isso arrisquei ir até o quintal para sondar a vizinhança.
Conforme acontece todos os sábados de manhã, um dos vizinhos estava lavando seu carro como se nada tivesse acontecido. A mesma coisa de sempre. De duas, uma: ou o cara é tão obcecado por embelezar o carro a ponto de fazê-lo mesmo depois do fim do mundo ou a nova era prevista pelos Maias é igualzinha à era anterior, com vizinhos lavando o carro e cachorros abanando o rabinho. Mas e agora? O que fazer? Eu não podia me contentar com as cenas corriqueiras daquela manhã de sábado; eu tinha que extrapolar essas fronteiras para obter respostas mais esclarecedoras. E foi isso que eu fiz.
Voltei correndo para o quarto e entrei no portal que poderia me levar aos lugares mais remotos do planeta em poucos segundos, o Google. Eu precisava saber como os elefantes do litoral da Indonésia e outros países asiáticos se comportaram ontem, dia 20 de dezembro de 2012, véspera do hipotético fim do mundo previsto pelos Maias. Pra quem não sabe, estes elefantes costumam ficar agitados e procurar abrigo ao pressentirem algum tipo de catástrofe, como fizeram em 2004, quando um tsunami avassalador destruiu diversos lugares e matou muitos seres vivos, menos os elefantes, que se refugiaram com segurança antes das ondas gigantes invadirem as praias. Esquisito ou não, descobri que os paquidermes da Indonésia tiveram uma véspera de fim de mundo absolutamente normal. Tudo  tranquilo, sem nenhuma intercorrência. Os grandalhões de tromba não ficaram agitados, não se afastaram assustados do litoral à procura de abrigo e não subiram no banquinho quando viram um ratinho correndo no chão e passando entre suas pernas. Desisti dos elefantes e fechei o notebook.
Após estas três tentativas frustradas, comecei a desconfiar que o mundo acabou e ninguém ficou sabendo, nem meu cachorrinho nem meu vizinho lavador de carros nem os elefantes sabidos da Ásia. Que pena! Ainda bem que, antes de eu ser tomado de profunda decepção, lembrei-me que a Bíblia afirma que somente Deus sabe como e quando se dará o fim dos tempos, e que, desta maneira, nem mesmo os Maias poderiam revelar ou explicar tais mistérios a respeito do dia final. Segundo a Bíblia, a nós nos cabe viver da melhor maneira possível o dia que se chama hoje. Então vamos lá! Que tal fazer isso antes que o mundo acabe de verdade?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Melhor Fim do Mundo de Todos os Tempos

De acordo com previsões da antiga civilização Maia, o mundo acabará em 2012, no dia 21 de dezembro. Não torço por isso tão pouco acredito que tal previsão vá se confirmar. Mas tenho ponderado que se o mundo realmente acabasse nesta data nem tudo estaria perdido, isto é, existem algumas vantagens que nos permitem ver o hipotético fim do mundo com certo otimismo.
Para os brasileiros, por exemplo, seria o fim das taxas, impostos e juros apocalíticos. Além disso, não mais teríamos que aguentar a corrupção, a falta de segurança pública e a maldade de algumas bestas que oprimem a nação.
Para os sudaneses, palestinos, judeus e outros povos, seria o ponto final definitivo dos conflitos armados, guerra civil, estupros, genocídios e diversas violências que acontecem há meses, anos e décadas em suas terras, levando tais regiões à ruína, como se estivessem devastadas pela guerra nuclear ou pela colisão de algum meteoro.
As crianças etíopes que vivem em completa miséria finalmente ficariam livres da fome e daquela pegadinha sarcástica: “Sabe por que o Papai Noel não vai à Etiópia?... Porque criança que não come direito não ganha presente no Natal.” Seria o fim dos altos índices da mortalidade infantil nos países pobres e das piadinhas politicamente incorretas como a que eu mencionei.
E por falar em Natal, outras pessoas que seriam muito beneficiadas com o fim do mundo nesta época do ano são os Papais Noéis, especialmente aqueles que teriam que deixar o clima fresquinho do Polo Norte no dia 24 de dezembro e, com suas roupas grossas e pesadas, enfrentar os 40 graus que tem feito na região onde moro. Adeus à barba branca, comprida e encharcada de suor! Papai Noel fedendo nunca mais!
Com o hipotético fim do mundo no dia 21, um dos segmentos que mais vantagens teriam é a torcida do Corinthians, time que, neste caso, se tornaria o campeão da última edição da Taça Libertadores da existência humana. Isto quer dizer que os corintianos passariam a eternidade comemorando o título e zoando dos torcedores do Palmeiras que, por outro lado, teriam que passar a eternidade na 2ª divisão do Campeonato Brasileiro. Mas passar a eternidade na Segundona também não é o fim do mundo, né? Existem aspectos favoráveis até nisso. Não haveria chance alguma do time cair para a Série C do Brasileirão. Sorte dos palmeirenses, pois passar a eternidade na Terceirona seria um inferno. Além disso, se o Timão não for campeão do Mundial de Clubes da FIFA que está sendo disputado no Japão, os palmeirenses terão mais motivos para descansar em paz. Neste sentido, todos levam alguma vantagem e podem comemorar alguma coisa.
Comentários, especulações e brincadeiras à parte, penso que o melhor benefício que o eventual fim do mundo traz consigo é a oportunidade que agora temos de nos preparar melhor para quando o fim chegar de verdade. Então, a previsão do calendário Maia pode servir como uma espécie de simulação do fim do mundo, semelhante ao que o Corpo de Bombeiros faz ao simular um incêndio em um edifício a fim de capacitar as pessoas daquele local a reagirem de modo adequado, tomarem as melhores decisões, preservarem sua vida e minimizarem os danos da melhor maneira possível diante daquele momento crítico. Neste sentido, todos nós podemos aproveitar a ocasião para por em ordem algumas coisas em nossos sentimentos e atitudes, tomando decisões que cooperem para uma vida de qualidade no restante de tempo que temos, sejam alguns dias ou milhares de anos. Portanto, se estivermos bem preparados e semeando coisas boas poderemos ter o melhor fim de mundo de todos os tempos.
Em poucas palavras, considerando o que descrevi acima, se o mundo acabasse agora teríamos encerrado nossa existência em grande estilo; se o mundo não acabar desta vez, então colheremos grandes resultados da boa semeadura que fizemos. De um jeito ou do outro, estaremos preparados para a eternidade a qualquer momento, quando Deus decidir que é a hora.


sábado, 8 de dezembro de 2012

Alerta Máximo no Japão

Como se  não bastassem os comentários sobre o fim do mundo e as reincidentes catástrofes que aconteceram no Japão nos últimos cem anos, como a bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial, e o tsunami ocorrido em 2011, parece que o temor de uma nova ameaça toma conta do país.
Rumores indicam que, por conta do Mundial de Clubes da FIFA, um bando de loucos começa a invadir o território japonês. Boato ou não, existem pessoas afirmando que viram vários containers preto e branco sendo desembarcados ao longo do litoral. Segundo testemunhas, os containers estão parados em atitude suspeita despertando curiosidade e receio em muita gente, principalmente por causa da fumaça que sai por suas frestas e do cheiro peculiar que exalam. Um grupo de trabalhadores das docas de um dos portos contou que, na madrugada de ontem, ouviram uma grande batucada e gritos de “Vai Culíntia!” que vinham de dentro dos containers.
Bem, pode ser que isto não tenha nada a ver com o final do mundo nem com catástrofes naturais, mas o governo de lá já recomendou à população que fique de olhos bem abertos e que, se perceberem alguém gritando “Gol do Culíntia”, todos devem evacuar casas e prédios rapidamente para comemorar e festejar à vontade nas ruas, sem preocupação alguma. Por outro lado, estudiosos dos calendários Asteca, Maia e Inca declaram que se não sair gol do Culintia, aí sim será o fim do mundo e uma grande catástrofe pra muita gente. Vamos torcer para que isto não aconteça! Vai Culintia!!!

sábado, 1 de dezembro de 2012

A Cobra de Plástico

Três dias seguidos, a mesma história. Um grupo de turistas daquele camping preparou as guloseimas do café da manhã ao ar livre, debaixo de árvores com sombras bem convidativas. Mas enquanto se distraíam tirando algumas fotos e terminando os preparativos do lanche, lá estavam os pequenos macacos sobre a mesa mexendo em tudo e, especialmente, comendo as guloseimas.
No quarto dia, os turistas prepararam a mesa do café debaixo das mesmas árvores e com as mesmas guloseimas. Em poucos minutos, os mesmos macacos apareceram, porém, não subiram na mesa nem mexeram em nada desta vez. Opa! Que estranho! Os bichinhos pulavam entre as cadeiras e rodeavam o banquete como se estivessem cismados e preocupados, e não surrupiaram uma geleia sequer. Cinco minutos depois, sem tocar na comida, os animais foram embora. Eu fiquei muito curioso com o que se passou ali. Então, quando o cinegrafista se aproximou da mesa, as lentes de sua câmera revelaram que havia uma cobra de plástico entre as gostosuras do café da manhã, fato que assustou, confundiu e intimidou os macaquinhos, fazendo com que os mesmos abrissem mão do banquete que estava tão perto deles, mas que, ao mesmo tempo, acabou ficando tão longe. É claro que, nas manhãs seguintes, os turistas colocaram a imitação de cobra na mesa do café novamente.
Este trecho do documentário que eu assisti me fez pensar que todos nós podemos passar por situações semelhantes a que os macacos daquele camping passaram. Isto é, corremos o risco de desperdiçar oportunidades reais e verdadeiras por causa de certos medos que tomam nossa alma diante de ameaças irreais. Embora pareçam de verdade, são ameaças de plástico. Assim, nos tornamos incapazes e desistimos de aproveitar alguns banquetes que estão a nossa disposição do mesmo modo que os macaquinhos se tornaram incapazes e desistiram de tocar nas gostosuras daquele café da manhã por causa de um perigo que não era real, a cobra de plástico. Estudiosos afirmam que os macacos ficaram com medo de se apropriar da mesa do café em função das experiências negativas que tiveram com cobras de verdade na floresta que cerca aquele camping.
Certamente, você e eu já tivemos experiências negativas com ameaças, riscos, inimigos e perigos reais e cruéis em nossa vida. E muito provavelmente, carregamos lembranças fortes, marcas, ferimentos, ressentimentos e outras coisas que podem despertar em nós o medo, a resistência e diversas reações que nos tornam incapazes de enfrentar um novo momento que, de alguma forma, se pareça ou lembre aquelas experiências negativas que tivemos. Desta forma, sendo o perigo real ou não, costumamos nos proteger atrás do nosso medo, ainda que isso implique desperdiçar oportunidades e desistir de banquetes que, em alguns casos, são preparados por Deus com o propósito de nos abençoar. Nestes casos, ficamos muito perto da bênção e, ao mesmo tempo, muito longe dela. É como se a cobra de plástico que há no meio do banquete despertasse a serpente real que um dia enfrentamos, e isto nos assusta, confunde, intimida e, por fim, nos separa das guloseimas que estão sobre a mesa. Ora, nós já temos tantas serpentes reais para enfrentar e vencer que não podemos nos render às imitações de cobra sempre que nos depararmos com elas.
Minha sugestão é esta: procure discernir se há cobras de plástico atrapalhando você a desfrutar de realizações e conquistas em sua vida. Compartilhe isso com pessoas de confiança; peça a ajuda de Deus; e, se necessário, procure ajuda de um profissional apto para auxiliar você a conhecer e enfrentar os impedimentos que as cobras de plástico e outras imitações provocam em sua alma.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Enquanto Isso...

Como era empolgante ver a legião de super heróis reunida na Sala da Justiça elaborando ideias e projetos para o bem da sociedade. Mesmo sabendo que se tratava apenas de um desenho animado, meus coleguinhas e eu ficávamos curiosíssimos para saber quais seriam as argumentações que o Batman e o Super Homem apresentariam para resolver as crises que se apresentavam a cada episódio. Aliás, independente de suas teses, já nos era satisfatório ver as capas de super herói que eles vestiam e o ambiente de poder que predominava naquela sala que mais se parecia com um tribunal do bem, dos quais também participavam o Aquaman, a Mulher Maravilha e outros. É interessante lembrar o quanto a oratória que os nossos justiceiros apresentavam na Sala da Justiça sempre nos convencia de que eles realmente eram corajosos, justos e muito preocupados com o bem estar da sociedade.
Mas quando eu adolesci, passei a levantar alguns questionamentos sobre este contexto que tanto me fascinava. A primeira dúvida se deu quando percebi o quanto aqueles heróis viviam distantes do povo, dando até a impressão de que pertenciam a uma elite social e humana mais elevada, meio que acima do bem e do mal, tipo “semideuses”. Tanto é verdade que passavam a maior parte do tempo confinados numa sala muito confortável e totalmente isolada da ralé, discutindo os assuntos e medindo seus poderes de persuasão sem conhecer a real opinião dos cidadãos. Lembro que eles só se tornavam acessíveis à população no momento em que faziam suas performances diante das câmeras de TV na captura de algum delinquente pelas ruas da cidade. Aí eles davam um show. E mesmo assim algumas pessoas tinham certa dificuldade em reconhecê-los como parte integrante da comunidade, como costumava acontecer com o Super Homem, por exemplo. Não sei se você se lembra disso: “É um pássaro? Não, não parece um pássaro. Será que é um avião? Não, também não parece um avião. Pô, então que treco é esse voando em nossa direção? Bem, se não é um pássaro nem um avião deve ser o Super Homem”. Outra estranheza da minha parte foi notar que a atividade da Liga da Justiça se resumia apenas a prender criminosos, deixando de cumprir sua principal finalidade: promover a justiça propriamente dita. Logo, embora os membros da Liga agissem como uma tropa de elite combatendo marginais, continuavam convivendo numa boa com a corrupção, a injustiça e a opressão presentes nos bastidores da sociedade. Em outras palavras, enquanto o esquadrão Marvel se dedicava a enfrentar maníacos e vândalos malucos pelas ruas, deixava as máfias, os cartéis, o crime organizado e o governo à vontade para explorar a população; estes últimos vilões nem apareciam nos episódios. Isso foi me desiludindo a cada dia até que não mais me encantei com a célebre frase: “Enquanto isso... na Sala da Justiça”.
Infelizmente, minha maior decepção foi descobrir que coisas semelhantes às que eu mencionei também acontecem na vida real. Após ouvir relatos e mais relatos sobre escandalosos descasos da justiça brasileira, e diante da constante cobertura que os canais de televisão vêm dando ao julgamento do mensalão, não tenho dúvida alguma: A Sala da Justiça existe de verdade! Eles estão lá, como se fossem “semideuses”, vestidos com suas capas de herói, parecendo até, de relance, uma convenção de Batmans numa sala confortável e isolada da ralé, dando um show na frente das câmeras de TV ao discutirem e desfilarem suas vaidades, retóricas, oratórias e poderes, sem realmente conhecer as dores do povo nem se importar com as injustiças que sofremos.
Enquanto isso... do lado de fora da Sala da Justiça brasileira, dezenas de pessoas são sacrificas todos os dias nas grandes cidades, longe das câmeras de televisão. Enquanto isso... bem distante da Sala da Justiça, milhões de aposentados, pensionistas e contribuintes do INSS são humilhados pelos cartéis do Governo, longe das câmeras, é claro. Enquanto isso... nas escolas, nos canaviais, nos bancos, nos hospitais, nas corporações e em diversos outros lugares semelhantes a estes, trabalhadores honestos são explorados e tratados como marginais, delinquentes e foras da lei. Nas Salas da Justiça brasileira, e diante das câmeras de TV, até podemos ser convencidos de que os nossos pretensos heróis realmente são destemidos, justos e muito preocupados com o bem estar da sociedade. Mas enquanto isso, fora da Sala, quem dá o show e bota pra quebrar mesmo no Brasil é a legião de Pinguins, Charadas e Coringas, que estão detonando nosso povo e nosso país; e nem sinal dos nossos heróis nessas situações.
Dias atrás, parei ao lado de um cidadão que estava olhando pro céu e esperando ansioso por alguma intervenção da Justiça brasileira. De repente ele avistou algo e me perguntou exclamando: “É um pássaro?!” Aí eu respondi prontamente: “Claro que é um pássaro, seu tonto! Ou você pensou que fosse algum herói de capa preta sobrevoando você para defender os seus direitos?”. Antes de me despedir daquele sujeito ingênuo, eu ainda recomendei: “Se eu fosse você sairia logo daí antes que este pássaro dê uma cagada na sua cabeça, como geralmente acontece com os cidadãos comuns fora da Sala da Justiça: a gente espera pelos nossos direitos e acaba recebendo outra coisa dos tribunais”.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Carrinho Ajeitado


No início da fase adulta, tornei-me proprietário de um Fusca amarelo, bem amarelo, diga-se de passagem. Tratava-se de um veículo simples e muito limitado em matéria de conforto, potência e beleza, de modo que se tornava motivo de piadinhas em diversas ocasiões. Mas era ele que nos levava ao trabalho e à escola nos dias de chuva que, outrora, causavam-nos tanto transtorno. Era o Fusca que facilitava nossa locomoção na cidade grande em que morávamos, permitindo-nos cumprir os horários e aproveitar bem o tempo, livrando-nos das longas esperas nos pontos de ônibus. E, apesar dos seus mais de vinte anos de uso, era o “canarinho”, um de seus codinomes, que nos conduzia nas viagens realizadas uma ou duas vezes mensais num raio de até duzentos quilômetros. Estas e outras coisas fizeram com que o já cansado e limitado Fusquinha amarelo fosse muito querido e tivesse grande valor para nós, fato que nos motivava a mantê-lo sempre limpinho e, dentro do possível, em bom estado, usando ainda de bastante paciência para com ele quando não atendia a todas as nossas expectativas. É interessante notar que o apreço que tínhamos pelo carro era tão marcante que parecia inspirar outras pessoas a terem a mesma afinidade por ele, fazendo com que várias delas, sem mais nem menos, chegassem perto do Fusca, colocassem a mão em sua lataria e dissessem: “Carrinho ajeitado, hein?!”. Pra nossa surpresa, foram muitas as ofertas que pessoas conhecidas e desconhecidas fizeram para comprá-lo, apesar das críticas e zombarias de alguns. Ficávamos bem contentes com esta demonstração de apreço. Até que um dia a gente vendeu o “canarinho”.
Bem, muito tempo se passou e não faço ideia por onde ele anda agora, mas sei que sua imagem rodou bastante em meus pensamentos nestes últimos meses, especialmente quando eu mesmo me senti como um Fusquinha amarelo com mais de quarenta anos de uso, cansado e muito limitado em matéria de conforto, potência e beleza. Minha lataria já não brilha como antes, aliás, parece que já está enferrujando. Meu motor não rende como rendia no início. E se eu aumentar a velocidade ou o peso, minha estrutura range e estala. Assim, a sensação é de que estou  desvalorizando a cada dia, especialmente diante de algumas situações recentes nas quais também  fui motivo de piadinhas e risos, como acontecia com o "canarinho". Porém, mesmo com tais características desfavoráveis, ainda tenho sido útil para, com a graça de Deus, abrigar pessoas nas tempestades e transportar vidas de situações adversas para realidades melhores. Mesmo devagar e sem conforto, coopero para que corações e famílias cheguem ao seu destino, favorecendo a viajem de muita gente, semelhante ao que meu Fusca fazia. Além disso, percebo que, para minha surpresa, ainda há pessoas que se aproximam de mim, colocam a mão em meu ombro e proporcionam uma relação de apreço muito especial, usando de muita paciência para comigo quando não atendo às suas expectativas e necessidades.  Elas sabem que eu não posso lhes oferecer muita coisa como antes, mas é como se tocassem a minha lataria e dissessem a meu respeito: “Carrinho ajeitado, hein?!”. Eu fico contente. Puxa! Que legal! Tô na estrada! Tô rodando! Bi-bi!!!!
Coisas assim podem acontecer com qualquer um de nós. Então, mesmo que você se sinta como um carro limitado e desvalorizado, procure se manter em ordem e, na medida do possível, em bom estado. Ainda tem muito chão pra você rodar e muita gente pra ir com você. Lembre-se que o mais importante não é ser super potente, belíssimo e confortável, mas sim andar na estrada certa e chegar ao seu destino em paz e segurança. Isso pode fazer com que um carro velho, limitado e cansado se torne um carrinho ajeitado e turbinado com o apreço e o carinho de muita gente.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sou Mais Tecnológico que Você!

Num desses finais de semana, quando eu e minha família tomávamos uma breve refeição noturna, minha esposa se dirigiu à sala de TV e, dois minutinhos depois, exclamou: “Amor! O que aconteceu com a tela da televisão?! Vem dar uma olhadinha!”. Antes que eu me levantasse da mesa, meu filho de oito anos se levantou rapidamente e disse: “Pode deixar que eu vejo isso, pai. Eu sou mais tecnológico que você!”. Putz! Congelei por alguns segundos, fiquei off line e em stand by ao mesmo tempo. Posso dizer que esse foi o dia em que a terra parou. É meio difícil e meio engraçado tentar descrever o que senti. Parece que eu fiquei em coma ou em órbita enquanto aquela frase inusitada ecoava nas câmaras do meu coração: “Eu sou mais tecnológico que você (você, você, você)!” Graças a Deus, logo fui ressetado e comecei a processar o que havia acontecido. Fiz um back up da minha vida e um download do que estava por vir. Não dá pra negar que a minha primeira conclusão foi bem primitiva: “Buááááááá! Eu estou ficando ultrapassado e todo mundo já percebeu isso, até meu filhinho. Socorro! Eu quero minha placa mãe!”. Mas as avaliações seguintes foram bem mais racionais, otimistas e reconfortantes.
Bem, o mundo vive em constante transformação e meu filho está acompanhando isso. Ótimo! Ele não ficou excluído nem sentado à beira do caminho vendo o trem da história passar. Meu filho segue na direção do futuro, e eu, bem ou mal, estou pegando uma caroninha com ele. Ao vê-lo cheio de energia e visão, eu também me animo e corro atrás. E assim caminhamos juntos!
Outra alegria pós-trauma que eu tive foi o fato de saber que agora tem mais gente pra ajudar a resolver as coisas da casa, alguém com iniciativa e disposição. Eu e minha esposa já não precisamos ver tudo, providenciar tudo e consertar tudo. Lembra? Meu filho se levantou primeiro que eu e disse: “Pode deixar que eu vejo isso, pai”. Eu não precisei ir nem mandar ir! E o melhor de tudo: eu pude terminar de comer minha comidinha sossegado, numa boa, ahhh! Pra ilustrar melhor, dias atrás ele me disse que o seu lançador de beyblade estava quebrado, e eu falei que logo iria arrumar. Passaram-se três dias e lá estava o menino com duas chaves de fenda na mão, abrindo o brinquedo, corrigindo o defeito e resolvendo o problema. Vamo nessa, filhão! Tamo junto! Uhuuu!
Por último, ao fazer tais reflexões sobre o dia em que a terra parou, talvez eu tenha exagerado no download do futuro ao me vir assentado numa mesa tomando uma refeição noturna com meu filho e meu neto, quando minha esposa e minha nora foram pra sala de TV e, alguns minutinhos depois, exclamaram: “Ué, o que será que aconteceu com o painel do teletransporte? Vocês podem dar uma olhadinha?” E antes que eu e meu filho fôssemos ajudá-las, meu neto de 5 anos se levantou e disse: “Pode deixar que eu vejo isso... essa bosta é assim mesmo, é só dar umas batidinhas na lateral da máquina que ela volta a funcionar”. Aí sim! Gostei! Não poderia ser melhor! Ver meu neto plugado nas evoluções e saber que as batidinhas na lateral da máquina ainda funcionam como nos velhos tempos. Fiquei tão animado que saí correndo na frente dele gritando: “Deixa que eu bato nesta merda aí! Se for só isso eu sou mais tecnológico que vocês dois juntos”.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Aos Pés do Soldado

Uma das cenas bíblicas que mais mexem comigo é o apedrejamento de Estevão, um homem simples, decente e autenticamente cristão, que foi brutalmente assassinado por alguns de seus compatriotas porque pensava e agia um pouco diferente deles. Durante muito tempo, o seu linchamento e a visão dos céus abertos na hora de sua morte foram para mim os principais aspectos deste episódio, mas, de três anos pra cá, passei a notar a relevância de outra perspectiva considerada periférica pela maioria das pessoas. Refiro-me ao fato de Estevão ter sido assassinado mediante o consentimento de um soldado, Saulo, cuja responsabilidade era manter a ordem e garantir a segurança, entre outras coisas. Saulo presenciou a violência contra Estevão e nada fez para impedi-la (Atos 7.54-60). Caprichosamente, o texto bíblico registra que as roupas ensanguentadas da vítima inocente foram depositadas aos pés deste soldado, o que o torna testemunha da agressão e aponta para a sua omissão de socorro, o não cumprimento da função e a cumplicidade no crime em questão. Infelizmente, situações semelhantes a esta continuam acontecendo em nossos dias, quando pessoas são perseguidas, retaliadas, discriminada e violentadas injustamente sem que as autoridades responsáveis se posicionem publicamente para promover a justiça e a verdadeira paz. Pior do que isso só mesmo quando as autoridades tomam partido em favor do agressor, distorcendo o sentido dos fatos e transformando a vítima em culpada.
Bem, violência e retalição seguidas de indiferença e injustiça podem jorrar dos mais variados contextos, até mesmo  de onde normalmente se espera um pouco mais de lucidez, responsabilidade, discernimento, equidade, dignidade e bom testemunho, como escolas e igrejas, por exemplo. Porém, em alguns destes casos, o que se vê são as mesmas características lamentáveis presentes no apedrejamento de Estevão, sobre as quais quero tecer alguns breves comentários. Para fazê-lo, importa levantar a seguinte questão: Por quais razões o soldado Saulo consentiu no linchamento de um homem decente, inocente e autenticamente cristão?
Ora, Estevão não tinha nada para oferecer a Saulo; ele não era influente, não era bem sucedido financeiramente e não tinha parentes importantes. Pelo contrário, na condição de cristão, Estevão representava uma minoria marginalizada naquela sociedade, alguém que vivia e pregava uma nova ordem de vida, fato que incomodava as classes dominantes e a multidão manipulada por elas. Portanto, intervir no seu linchamento para defendê-lo significaria entrar em conflito com a elite e com a opinião pública, sem que houvesse qualquer lucro ou vantagem nisso. Nesse contexto é que Saulo, autoridade responsável por promover a ordem e a segurança, prefere se omitir e deixar que Estevão fosse visto como responsável pelo tumulto e culpado pelo seu próprio linchamento. Afinal, se Estevão tivesse calado a boca e ficado no seu canto nada daquilo teria acontecido e tudo seria evitado. Mas as suas roupas ensanguentadas aos pés do soldado falam por si mesmas, e, assim, revelam que Estevão foi uma vítima inocente e indefesa, molestada e assassinada covardemente por um grupo de pessoas sob a proteção e conivência de outras, o que poderia configurar, nos dias de hoje, formação de quadrilha, lobby ou cartel, facções que agridem os outros, enganam as pessoas e distorcem os fatos para mascarar suas próprias falências, coibir as possibilidades de mudanças e, a qualquer preço, preservar as vantagens pessoais, como emprego, lucratividade, proeminência, enfim, todo o status em vigor.

Bem, como essas coisas não mudam e nunca vão mudar, e uma vez que as portas da liberdade e da justiça parecem fechadas aqui na terra, resta aos inocentes que são apedrejados injustamente curtir a visão das portas abertas nos céus, como aconteceu na morte de Estevão. Ufa! Pelo menos isso! Ter a chance de subir aos céus e viver aos pés de Deus depois de sofrer e morrer aos pés de um soldado ou de qualquer outra autoridade. Ainda bem que as quadrilhas, lobbys e cartéis não estão no céu para apedrejar a gente!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Halloween à Brasileira

Sempre que nos aproximamos do Halloween ou outra festa semelhante, lembro-me das noites de lua cheia em que nos assentávamos em círculo para ouvir histórias de terror e suspense, incluindo os contos inusitados de um vizinho que um dia adoeceu e, conforme seu relato, teve que entrar na mansão mal assombrada da Previdência Social em busca  de  algum auxílio. Geralmente, tais histórias de terror vinham acompanhadas de uivos e gemidos a respeito das manifestações sombrias da Previdência na vida dos contribuintes, isto é, o modo macabro através do qual a instituição governamental lhes negava o benefício a que tinham direito. Um horror! Mesmo sem compreender muito bem o que se passava no casarão da Previdência Social, eu dizia: “Sinistro! Eu hein! Cruz Credo! Tomara que eu nunca precise entrar lá!” Pra quê eu fui abrir minha boca? Anos depois eu fiquei doente e tive que visitar o porão do INSS em busca de assistência. Foi assim que a maldição da Previdência Social passou a rondar a minha vida todas as noites e todos os dias. É apavorante! Em contrapartida, vi coisas de outro mundo que agora podem servir de inspiração para os leitores que querem se programar para o Halloween ou outro evento de caráter funesto. Então, preparem suas abóboras e curtam uma história de terror genuinamente brasileira.
O pavor começou quando percebi que a mansão da Previdência parecia um labirinto subterrâneo. A gente entra lá com um problema, vai pra um lado, segue por outro, dá mais umas três ou quatro voltas e, quando parece que vai encontrar a saída, tem que começar tudo de novo. Ficamos com a sensação de que estamos andando em círculos, arrastando correntes, documentos, exames, feridas, dores e muletas sem chegar a lugar algum. Como se isso não bastasse, a gente se sente perdido e completamente abandonado. É um labirinto escuro e deserto onde nem o Minotauro liga pra nós, muito menos o Governo. Dá medo e vontade de vomitar.
Minha situação ficou ainda mais sombria no momento em que virei num corredor estranho e dei de cara com uma múmia, isto é, uma pessoa toda enfaixada e imobilizada tentando provar para o INSS que ela estava sem condições de trabalhar. Pasmem! Mesmo sendo notório que tal contribuinte não conseguiria trabalhar nem mesmo no sarcófago de um museu egípcio, os técnicos da Previdência alegavam que sua condição não justificava a liberação do benefício. Eu até virei o rosto para não ver aquela cena horripilante, e isso foi a pior coisa que eu fiz, pois do outro lado do salão jazia uma multidão de mutilados que mais pareciam zumbis com os olhos vidrados no painel eletrônico esperando sua senha. Eram como mortos-vivos, mais mortos do que vivos, gemendo e suspirando por um serviço social decente. Pense no clip da música Triller, do Michael Jackson. Pensou? Agora multiplica por dez. Cemitério maldito. É daí pra pior.
Pouco antes de sair da casa mal assombrada da Previdência Social, e depois de ter visto muita coisa mórbida, confesso que senti falta dos vampiros. Olhei por todos os lados mas não os vi em lugar algum. Achei muito esquisito e fiquei um tanto apreensivo com isto. Então um senhor bem velhinho que frequenta a mansão há muitos anos me tranquilizou dizendo que os vampiros nunca aparecem. Eles costumam ficar de longe, atrás de suas mesas e de seus cargos, sugando o sangue da gente através dos impostos, taxas, contribuições, leis etc. Assim a gente vai secando e, sem defesa, vai perdendo a alegria, a esperança, a saúde, o emprego e a vida; até morrer sem o benefício.
Por essas e outras, sempre que nos aproximamos do Halloween, festa tipicamente norte-americana, eu penso no pânico que milhares de brasileiros enfrentam nas catacumbas do INSS, onde não há nada de travessuras muito menos gostosuras, sendo uma festa tipicamente nacional na qual só o governo se diverte. Buu!!!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ponto Cego

Foto: PONTO CEGO
Mesmo atentos ao retrovisor do nosso carro, corremos o risco de não perceber aquela motocicleta ao nosso lado porque alguma coisa encobriu a nossa visão naquele exato momento. O retrovisor não registra. A moto existe e está ali, bem pertinho, mas nós não a vemos. No trânsito, isso se chama "ponto cego". Situação semelhante acontece em vários aspectos da nossa vida, não só no trânsito. Volta e meia a gente se depara com algum "ponto cego", quando a gente não consegue discernir direito o que acontece ao nosso redor naquele momento. Mas, nessa hora, Deus pode nos dar livramente e ajudar a ver o que está encoberto.
Em breve, no blog Feira Livre:
Mesmo atentos ao retrovisor do carro que dirigimos, corremos o risco de não perceber aquele outro veículo em movimento bem ao nosso lado. O retrovisor não registra, mas o outro carro está ali, muito perto de nós, porém não o enxergamos. No trânsito, isso recebe o nome de “ponto cego”.
Situação semelhante pode acontecer em diversas perspectivas da nossa vida, não apenas ao dirigir um automóvel. Volta e meia a gente se depara com algum “ponto cego” na hora de tomar determinadas decisões. São momentos em que não discernimos bem o que está acontecendo ao nosso redor nem o rumo que devemos tomar. Muitas vezes, temos dificuldade para enxergar até o que se passa dentro de nós mesmos.
Existem diversos fatores que podem limitar nossa visão, confundir nossa mente e assim provocar algum tipo de acidente em nossa história pessoal, dentre os quais quero destacar apenas um, a ira. Quando estamos irados com alguma situação ou com determinada pessoa, nem sempre enxergamos com precisão os perigos e as possíveis consequências negativas dos nossos atos, o que naturalmente aumente a chance de nos envolvermos em uma colisão grave com muitas perdas e danos. Fato como este aconteceu com Davi alguns anos antes de se tornar rei de Israel, quando se sentiu ofendido por um homem chamado Nabal, que se negou a repartir da sua comida e ainda levantou suspeita sobre a origem e a dignidade de Davi. Ao se sentir desonrado por Nabal, Davi ficou muito irado e se propôs a atacar sua propriedade e matar as pessoas que ali viviam e trabalhavam, incluindo o próprio Nabal, é claro. O futuro rei de Israel fora cegado pelo seu ego ferido e pela consequente ira, e estava prestes a fazer uma grande besteira. Mas Deus levantou uma mulher chamada Abigail para ir ao seu encontro e mostrar o erro que ele cometeria se derramasse tanto sangue apenas porque ficou nervoso ao tomar conhecimento das palavras de um tolo, referindo-se a Nabal. Um dos auges deste episódio foi o que Davi disse a Abigail no final da conversa que tiveram: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que, hoje, te enviou ao meu encontro. Bendita seja a tua prudência, Abigail, e bendita seja tu mesma, que me poupaste de derramar sangue e que por minha própria mão me vingasse. Se Deus não te enviasse, e se tu não viesses ao meu encontro, não ficaria um só homem vivo na propriedade de Nabal até o amanhecer” 1 Samuel 25.32-35. Davi recobrou a lucidez, enxergou os perigos que estavam encobertos pela ira e então não cometeu a carnificina que estava planejando, fato que o credenciou ainda mais como rei de Israel.
Considerando que ninguém está imune ao “ponto cego”, sugiro que você, leitor, aproveite a ocasião para refletir se existe alguma situação ou sentimento te atrapalhando a enxergar as coisas de maneira clara e tomar as decisões que você precisa tomar de modo saudável e seguro. E, acima de tudo, considere que Deus pode te ajudar nessa hora, fazendo você enxergar os riscos e as possibilidades diante das circunstâncias. Se for o caso, peça pra Deus remover os obstáculos que impedem sua visão ou enviar alguma “Abigail” para abrir os olhos do seu coração e te livrar de grandes colisões.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eleições no Sítio do Pica-Pau

De ontem pra hoje sonhei que houve eleições no Sítio do Pica-Pau Amarelo. E, semelhante ao que vejo na vida real, coisas muito interessantes também aconteceram na terra da Dona Benta, especialmente o debate entre os candidatos.
Havia muitos candidatos presentes no encontro, porém, os que mais chamaram minha atenção foram o Saci-Pererê, a Mula Sem Cabeça e o Rabicó, que compareceram ao único debate promovido pela TV Narizinho e se destacaram perante os demais candidatos. Quero repartir com o leitor os dois momentos mais importantes deste evento ímpar.
O primeiro destaque aconteceu quando o moderador do encontro perguntou aos candidatos: “Por que vocês querem concorrer à eleição?”. O Rabicó logo tomou a frente e respondeu: “Por que o povo do chiqueiro já está cansado de levar no traseiro com o descaso que há em nossa sociedade!”. Tinha que ser o Rabicó pra falar em “traseiro”. Penso que esta foi uma forma dele conquistar a atenção do eleitor, como muitos candidatos fazem no programa eleitoral gratuito, visto que, nas últimas pesquisas, o Rabicó sempre esteve atrás. Embora o seu palavreado tenha provocado risos na plateia, o programa seguiu normalmente, mesmo porque o moderador já sabia que o Rabicó tem a boca meio suja mesmo. Logo na sequência, a Mula respondeu ao moderador: “Eu me candidatei porque já tive muita enxaqueca com estes políticos de sempre!” (???). Todos ficaram em silêncio por alguns segundos; dava até pra ouvir os grilos do sítio neste momento. Como a Mula Sem Cabeça poderia ter enxaqueca? Mas ninguém a questionou por isso, pois todos tinham conhecimento de que a Mula sempre foi desmiolada e costuma ter essas ideias de jerico.
Constrangido com a situação, o moderador do debate se apressou para transferir a palavra para o Saci, que não deu nenhuma mancada diante das câmeras quando disse: “Mesmo eu sendo folclórico, decidi me candidatar porque talvez esta seja minha única chance de não ser mais ridicularizado ou marginalizado por causa da minha origem e dos meus hábitos; é a melhor oportunidade de ser alguém na vida. Penso que seu eu me tornar um político terei acesso a vários benefícios e direitos que os políticos atuais nunca conquistaram por mim e por outros que vivem em situação semelhante a minha, como é o caso da Mula e do Rabicó, por exemplo, que são meio desmiolados e nem sempre estão cheirosinhos e limpinhos como alguns engomados das Câmaras e Congressos”. Nem precisa dizer que todos ficaram admirados com essa resposta, não é mesmo?.
O outro momento de destaque se deu quando um jornalista perguntou ao Saci: “Você acha que tem alguma chance de ser eleito? E por quê?” O Saci se ajeitou na cadeira, cruzou a perna e, olhando nos olhos do repórter, disse: “É bem possível que eu seja eleito porque o povo já não acredita mais nas fábulas e lendas contadas por pessoas aparentemente verdadeiras e sérias que vivem fazendo traquinagem nos bastidores da política; gente que dá nó em pingo d’água e faz outras manobras tão inacreditáveis quanto os contos da carochinha. Além disso, os eleitores estão cansados de votar em pessoas aparentemente saudáveis ou perfeitas, mas que depois se mostram doentes e perigosas, sempre cheias de desculpas perante a opinião pública. E você sabe como são as coisas: Desculpa de aleijado é muleta”, disse o Saci.
Nesse ponto, que pena, eu acordei e conclui que aquilo só poderia ser sonho mesmo, pois não havia os vários montes de propaganda eleitoral jogados pelo sítio e ninguém fora preso no dia da eleição.
Bem, mesmo sabendo que se trata apenas de um sonho, passei o resto do dia me lembrando das respostas do Saci Pererê e então pensei: Pode ser que as coisas que o Saci disse ajudem a gente a entender porque muitos personagens folclóricos da nossa cidade se candidatam e são eleitos na vida real. (Depois dessa colocação, talvez a gente ouça os grilos do sítio novamente).

sábado, 6 de outubro de 2012

Obsoleto e Fora de Linha

O destino dos tablets já está traçado: Eles ficarão obsoletos e fora de linha, é só uma questão de tempo. Mas ninguém precisa se inquietar por isso, afinal, situações como esta já aconteceram várias vezes ao longo da história humana. Foi assim com as tabuletas de argila que os sumérios usavam na época da escrita cuneiforme; foi assim com os papiros nos quais os hebreus e os babilônios registravam seus textos religiosos há centenas ou milhares de anos; e é o que está acontecendo agora com os bloquinhos de papel e cadernos onde meu filho ainda faz suas anotações, mas que já começam a cair em desuso inclusive nas escolas, dando lugar a sensação do momento, o tablet, que, por sua vez, será o próximo item a ficar ameaçado de extinção.
Faz- se necessário destacar que os apaixonados por tecnologia não precisam ficar com dó dos tablets, eles vão ficar bem. Aliás, eles ficarão ótimos. Depois que se tornarem obsoletos e fora de linha serão ainda mais reverenciados e valorizados. Se alguém duvida disso, é só observar como se encontram hoje as tabuletas de argila que os sumérios usavam. Algumas delas custam muito mais que um tablet. Na verdade, valem uma fortuna e vivem em museus luxuosos, cercadas de pompa e forte esquema de segurança. Portanto, se você possui um tablet saiba que você tem muito mais do que um simples tablet nas mãos, você tem uma relíquia valiosíssima. Então, quando ele cair em desuso, não o jogue fora, unte-o com formol e guarde a sete chaves.
É muito bom saber que não precisamos nos inquietar com o destino dos tablets tão pouco sentir pena deles pelo fato de ficarem obsoletos e fora de linha. Como já mencionei, eles ficarão bem. Precisamos, sim, nos preocupar com o destino da humanidade sem eles, especialmente se sofremos algum tipo de crise e caos mundial, como uma guerra nuclear, por exemplo, que pode deixar o planeta totalmente destruído, desolado e, portanto, caótico, sem as comodidades que temos hoje. Então me pergunto: Como as futuras gerações viverão ou sobreviverão sem os smartphones e sem a infinidade de coisas automáticas, virtuais e que funcionam com um simples comando da voz? Como viveremos ou sobreviveremos sem os tablets? Nós, que nos tornamos tão dependentes de todas essas coisas e que já não conseguimos ser tão naturais sem elas. E ainda assim, num eventual caos, se com um pouco de sorte a gente encontrar um bloquinho de papel no meio das ruínas, certamente vai dar um trabalhão pra gente aprender a escrever de novo e sermos alfabetizados outra vez. Neste caso, quem talvez fique obsoleto e fora de linha seja o ser humano. A menos que restem alguns analtabletizados que possam nos ajudar a reescrever a história.

sábado, 29 de setembro de 2012

Acredite se Quiser!!!

Acreditar na mentira é mais antigo do que andar pra frente. Além de antigo, parece ser tentador, inevitável e prazeroso. Adão e Eva, por exemplo, não perderam a chance de serem os primeiros a cair numa boa lábia quando se depararam com a serpente. Branca de Neve então, coitada, caiu fácil, fácil na lorota da madrasta malvada disfarçada de velhinha bondosa. E o que dizer do povo brasileiro, que acreditou que o ex-presidente Collor não iria confiscar o dinheiro da Poupança? Pois é... Confiscou! Quantas surpresas! O pior é saber que a mentira tem prevalecido não apenas na literatura ou nos grandes micos da humanidade, mas também em nosso dia a dia, nas simples e pequenas coisas, como eu mesmo já testemunhei várias vezes.
Conheci uma pessoa que estava com problemas na documentação do seu automóvel em função de algumas divergências de informações que, vale enfatizar, não foram causadas por ela, mas sim por órgãos de trânsito, instituições financeiras, despachantes etc. Na época, tal pessoa passava por sérias dificuldades financeiras e por isso precisava muito vender o carro, mas não podia fazê-lo em função da documentação irregular. Acredite se quiser, ela tentou regularizar a situação várias vezes; argumentou da melhor maneira possível; provou que a sua história era verdadeira e que não havia razão para aquele impasse; insistiu muito, mas não conseguiu fazer com que o Detran, o Denatran e outros orgãos acreditassem nela e dessem uma solução. Um belo dia, seu automóvel foi roubado; simplesmente desapareceu... pufft!!! Que azar, não? Ninguém sabe direito como isso aconteceu. A única coisa que se sabe é que ela recebeu o dinheiro do seguro e então pode resolver seus problemas financeiros. Olha que sorte! Dizem as más línguas que tal pessoa precisou inventar essa história porque ninguém lhe dava crédito enquanto falava a verdade.
Outro caso que me marcou muito foi o de uma professora que tentou se proteger ao ser agredida dentro da escola e acabou se dando mal. Testemunhas contam que um aluno de outra turma invadiu a sala dos professores e mordeu a mão da professora de maneira profunda e contínua. Ao perceber que o garoto se mantinha com os dentes cravados em sua mão, e que a dor ficava cada vez mais insuportável, a professora segurou com muita firmeza no menino até conseguir se desvencilhar dele. Eu mesmo vi as marcas profundas da mordida na mão daquela mulher, que ficou em dúvida se faria um boletim de ocorrência a fim de se prevenir de eventuais problemas ou não. Ela não fez o boletim e, dias depois, acredite se quiser, duas pessoas que nem presenciaram o incidente a acusaram de ter agredido o aluno que a mordera. Pasmem! A professora foi aconselhada a deixar a escola com base nas afirmações e conclusões de pessoas que nem sequer viram o que aconteceu na sala dos professores naquela tarde infeliz. A profissional que foi agredida, e depois acusada, tentou argumentar e provar sua inocência, mas os proprietários da escola preferiram acreditar nos enganos e nas calúnias que falaram sobre ela. Dizem as más línguas que as pessoas responsáveis pelas falsas acusações já haviam feito isso em outras ocasiões, e que já era hábito dos donos da escola acreditarem nelas. Eita!
Moral da história: Quer que os outros acreditem em você? Então minta! Mas lembre-se que a história costuma não acabar aí, e que assim como aconteceu com a serpente do Éden e com outras serpentes da humanidade, a mentira é como um bumerangue violento e perigoso que uma hora pode voltar pra você. Pode ser como um veneno que você toma pra tentar matar outra pessoa, como eu também já testemunhei algumas vezes. Acredite se quiser!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Melhor Filme Estrangeiro

Fiquei muito contente ao saber que o filme “O Palhaço”, dirigido por Selton Mello, será o representante brasileiro para concorrer ao próximo oscar de melhor filme estrangeiro. Gostei do enredo, das imagens, das interpretações e de outros aspectos que observei nas poucas cenas que pude ver. Além de parecer um filme interessante e engraçado, penso que esta é nossa melhor chance de conquistar a estatueta.
Minha empolgação é tão grande que gostaria de sugerir ao Selton começar a pensar no filme “O Palhaço 2”, podendo usar como enredo as cenas circenses que aconteceram comigo recentemente, especialmente nas vezes em que visitei o set da Previdência Social a fim de solicitar o auxílio doença. Dentre os muitos episódios cômicos, vou destacar apenas dois.
O primeiro aconteceu quando fiz minha estreia na perícia médica visando o benefício em questão. Uma das coisas pastelonas que o médico disse foi que as deformidades congênitas da minha coluna vertebral aconteceram porque eu cresci muito e rápido demais. (ha ha ha). Engraçadinho, né?  Bonitinho mas ordinário (agora eu me lembrei do Nelson Rodrigues). Ora, qualquer mico de circo sabe que deformidades congênitas acontecem bem antes da gente crescer. Até porque, mesmo se não fosse um caso congênito, os meus 1,79m não justificariam as hemivértebras, os blocos vertebrais, as espinhas bífidas e outras anormalidades da minha coluna.
O segundo episódio típico de uma boa comédia aconteceu na minha segunda perícia médica, quando o médico disse que, pelo fato de eu ser pastor evangélico, os comprometimentos da minha coluna vertebral não me impedem de trabalhar porque, em tese, a Previdência Social entende que eu só uso a boca e a voz em minha atividade laboral. (rs rs rs rs rs rs rs rs rs  rs rs). Essa foi ótima! Eu me senti contracenando com o Charles Chaplin no filme “O Circo”. Embora seja engaçado, tal comentário do perito me fez lembrar de outro filme: “O Massacre da Serra Elétrica”. Imaginei meu corpo todo mutilado solto por aí nos mais diversos afazeres. Enquanto minha boca e minha voz estão pregando e aconselhando os fiéis, meus pés estão fazendo caminhada num parque, meus olhos estão assitindo um filme no shopping, minhas mãos estão tocando violão na sala de casa, minha coluna vertebral está internada num hospital e minha bunda está numa privada qualquer; tudo ao mesmo tempo. Nem o filme "Jack, o Estripador" é tão esquartejante assim.
Concluindo, estou desconfiado que os profissionais responsáveis pelas perícias médicas no INSS são peritos em piadas. O problema é que são piadas de mau gosto. Além disso, são anedotas que a gente não entende direito, e em vez de rir a gente chora. Mas independente disso, boa sorte ao Selton Mello e a todos os contribuintes que são feitos de palhaços no picadeiro da Previdência Social. Penso que a história destes cidadãos também poderia concorrer a uma estatueta de Holywood, só não sei se seria no gênero drama, terror ou comédia mesmo. Em todo caso, deve ser mais fácil um contribuinte da Previdência receber o oscar de melhor filme estrangeiro do que conseguir um benefício do INSS, basta a gente ver as centenas de brasileiros figurantes amontoados nas agências da Previdência "a espera de um milagre" vivendo um verdadeiro "dia de fúria".

sábado, 22 de setembro de 2012

Poderia Ser Pior!

Praticamente todas as crianças com as quais convivo são bastante imediatistas e pragmáticas. Muitas delas têm dificuldade em lidar com imprevistos e quaisquer outras situações inesperadas que interrompam ou retardem os planos que fizeram. Nesse sentido, ficam super ultra mega emburradas se chover bem no dia em que a escola faria um piquenique; ficam super ultra mega boladas se não forem à festa de aniversário porque tiveram que estudar para a prova do dia seguinte; chegam a ficar revoltadas se perderem a sessão de cinema porque o pneu do carro furou. De certa forma, isso é natural, afinal elas ainda estão aprendendo a lidar com frustrações, imprevistos, limitações e com a necessidade de mudar os planos e se adaptar.
Mas estas crianças vão crescer e terão a chance de perceber que nem todas as coisas que antes consideravam muito ruins são tão ruins assim. Perceberão também que certas situações adversas ou contrárias ao que nós queremos podem contribuir para a realização de outras conquistas importantes. Chegarão ao ponto de, diante de algo bem desagradável, identificar aspectos positivos, consoladores e até motivadores. Neste momento compreenderão e aplicarão a sua própria vida alguns ditados que as pessoas mais experientes costumam falar, como, por exemplo, “há males que vêm para bem” ou “Deus escreve certo por linhas tortas” ou ainda “poderia ser pior”. Isto é um dos aspectos da maturidade.
Penso que o auge dessa maturidade acontece quando a pessoa vai além dos ditados populares já mencionados e mergulha de corpo e alma naquilo que está escrito em Romanos 8.28, onde o apóstolo Paulo faz a seguinte afirmação: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Em poucas palavras, o texto revela que Deus pode fazer com que tudo, inclusive as coisas super ultra mega desagradáveis, tenha algum proveito e contribua com o propósito que Ele tem para nós.
Vejo isso na vida de muita gente, inclusive na vida do próprio apóstolo Paulo que, numa certa ocasião, desejava muito ir para Roma, mas o navio em que viajava naufragou por causa de um furacão. Foram dias e noites à deriva, açoitados violentamente pelas ondas. Todos os que estavam a bordo foram ao mar e, é claro, a viagem foi interrompida. Isso foi horrível! Porém, todos se salvaram e se refugiaram numa pequena ilha que era habitada por um povo desconhecido, onde os náufragos foram tratados muito bem, com singular humanidade, e onde Deus operou milagres através da vida do Apóstolo. Os habitantes da ilha acolheram a pregação do Evangelho e, dias depois, providenciaram um novo navio para que Paulo e seus companheiros seguissem viagem para Roma. Deus fez com que todas as coisas cooperassem. Ninguém planejou nem desejou aquele naufrágio. Foi horrível, mas poderia ser pior!
Coisas desse tipo também aconteceram comigo, e um dos melhores exemplos que eu poderia compartilhar é o nascimento do nosso filho, que veio à luz com menos de sete meses de gestação, depois de minha esposa ter ficado três meses de cama, em repouso absoluto a fim de preservar a gravidez. Foram momentos muito difíceis e tensos. Quase todos os dias havia ameaça de aborto e outros riscos para o bebê e sua mãe. Nesse tempo, recebemos o amor, o carinho e a solidariedade de muita gente; foi transbordante e transformador; fomos tratados com singular humanidade, assim como aconteceu com o apóstolo Paulo na ilha de Malta. E no meio disso tudo, aprendi que, nascendo de nove meses ou a qualquer hora, meu filho precisaria de Deus do mesmo jeito (e nós também). Por fim, ele nasceu prematuramente, passou alguns dias na UTI neonatal, onde também teve algumas complicações. Lembro-me de uma pessoa que me disse: “Como você consegue se manter em paz sendo que seu filho está na UTI em estado grave?” Então eu respondi: “Eu não sei se realmente estou em paz, mas sei que a UTI é para nós o que a ilha de Malta foi para o apóstolo Paulo. A UTI não é o que nós planejamos; não é o que nós queríamos; mas poderia ser pior. Eu espero que Deus cuide do meu filho na UTI assim como cuidou de Paulo naquela ilha, e depois nos  permita seguir viajem”. Felizmente, ele saiu do hospital e nós estamos há oito anos navegando e conquistando coisas novas juntos.
Minha intensão com este artigo é dizer pra você que existem situações que, mesmo sendo adversas, podem cooperar para o nosso bem. Existem situações que, mesmo sendo apavorantes, podem ser transformadas e apaziguadas. E existem momentos que funcionam como uma ilha em nosso trajeto, isto é, não é bem onde a gente queria chegar, mas é o lugar onde nossa vida está sendo preservada; é onde podemos descansar um pouco e aprender coisas novas para depois seguir viagem rumo ao que sonhamos. Se você está numa ilha, aproveite o que for possível, e lembre-se: Poderia ser pior!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Cor de Rosa com Cheirinho de Morango

Há mais ou menos oito anos assisto desenhos animados e filmes infantis com certa frequência. Além de serem um entretenimento interessante, geralmente apresentam lições importantes sobre autoestima, determinação e caráter, aspectos significativos para o desenvolvimento das crianças. Assim, vários desenhos e filmes infantis também trabalham questões éticas e morais, ajudando também o público a definir melhor suas concepções e decisões pessoais. Tenho muitas experiências legais pra contar a este respeito, visto que alguns destes personagens e suas histórias já me ajudaram a compreender melhor certos acontecimentos ao meu redor bem como as atitudes mais adequadas a serem tomadas neste ou naquele momento. A grande maioria das experiências são positivas, situações que me animaram ou motivaram a seguir em frente apesar das adversidades, como aconteceu com aquela musiquinha que os personagens do filme “Procurando Nemo” cantam nos momentos de dificuldade e desânimo: Continue a nadar, continue a nadar, pra encontrar a solução...” São experiências tão prazerosas que eu gostaria de tratar apenas desses aspectos  positivos e motivadores, porém, já faz algum tempo que um personagem do filme Toy History 3 me inspira a compartilhar algo preocupante e alarmante, que pode estar presente bem ao nosso lado sem que a gente perceba, colocando em risco nossos sonhos, nossa segurança, nossa paz. Refiro-me ao personagem Lotso, um ursinho cor de rosa com cheirinho de morango.
Pra quem não conhece ou não lembra direito da história, o  Lotso é um ursinho de pelúcia da brinquedoteca de uma creche. Num primeiro momento, ele se manifesta muito generoso, amável e solidário aos novos brinquedos que chegam ao local, mostrando-se prestativo, hospitaleiro e disposto a amparar e proteger os novos moradores da brinquedoteca. Em poucas palavras, o  Lotso se apresenta como uma espécie de anfitrião e guardião do bem, e assim vai ganhando a confiança e a simpatia de todos. Naturalmente, os novos brinquedos da creche passam a admirá-lo e confiar nele.
Mas aos poucos, os novatos começam a descobrir algumas coisas estranhas e presenciar determinadas situações que revelam as verdadeiras motivações do Lotso. Eles percebem que por trás daquele brinquedinho de pelúcia aparentemente inofensivo, de cor meiga e cheirinho acima de qualquer suspeita, estava um cara dissimulado, manipulador, centralizador, mentiroso, frio, maquiavélico, egoísta e ciumento. Desta maneira, eles concluem que toda a amabilidade e discurso politicamente correto do  Lotso serviam apenas para atrair os demais brinquedos a fim de controlá-los, manipulá-los e usá-los para satisfazer sua vontade pessoal, sem que os brinquedos percebessem, é claro. No final da história, o Lotso é definitivamente desmascarado e os brinquedos ficam livres da opressão e do engano em que viviam.
Não sei se você concorda comigo, mas parece que tem muito ursinho cor de rosa com cheirinho de morango solto por aí. Gente com aparência de bom menino, que parece ser um amor de pessoa, que dá a impressão de que tá junto com você pro que der e vier, mas que visa apenas suas próprias conquistas. Gente manipuladora e dissimulada. Pessoas que te acompanham e te apoiam desde que você faça tudo exatamente como elas querem. Pessoas que te amam e te valorizam desde que você se submeta aos seus caprichos e sirva aos seus interesses. Como afirma o cantor e compositor Flávio Venturini, “gente que está do mesmo lado que você mas deveria estar do lado de lá”. É preciso discernir isso. É importante resistir a esse mal e promover a verdade, como os brinquedos recém chegados na creche fizeram.
Além de estar atento a estas situações, é fundamental crer que Deus conhece todas as coisas, e que nada está encoberto aos seus olhos.  Portanto, importa esperar no Senhor, que não desampara os que nele confiam, e que há de trazer à tona tudo o que está em oculto, livrando-nos dos males que  alguns ursinhos de pelúcia cor de rosa com cheirinho de morango costumam fazer.