sábado, 29 de setembro de 2012

Acredite se Quiser!!!

Acreditar na mentira é mais antigo do que andar pra frente. Além de antigo, parece ser tentador, inevitável e prazeroso. Adão e Eva, por exemplo, não perderam a chance de serem os primeiros a cair numa boa lábia quando se depararam com a serpente. Branca de Neve então, coitada, caiu fácil, fácil na lorota da madrasta malvada disfarçada de velhinha bondosa. E o que dizer do povo brasileiro, que acreditou que o ex-presidente Collor não iria confiscar o dinheiro da Poupança? Pois é... Confiscou! Quantas surpresas! O pior é saber que a mentira tem prevalecido não apenas na literatura ou nos grandes micos da humanidade, mas também em nosso dia a dia, nas simples e pequenas coisas, como eu mesmo já testemunhei várias vezes.
Conheci uma pessoa que estava com problemas na documentação do seu automóvel em função de algumas divergências de informações que, vale enfatizar, não foram causadas por ela, mas sim por órgãos de trânsito, instituições financeiras, despachantes etc. Na época, tal pessoa passava por sérias dificuldades financeiras e por isso precisava muito vender o carro, mas não podia fazê-lo em função da documentação irregular. Acredite se quiser, ela tentou regularizar a situação várias vezes; argumentou da melhor maneira possível; provou que a sua história era verdadeira e que não havia razão para aquele impasse; insistiu muito, mas não conseguiu fazer com que o Detran, o Denatran e outros orgãos acreditassem nela e dessem uma solução. Um belo dia, seu automóvel foi roubado; simplesmente desapareceu... pufft!!! Que azar, não? Ninguém sabe direito como isso aconteceu. A única coisa que se sabe é que ela recebeu o dinheiro do seguro e então pode resolver seus problemas financeiros. Olha que sorte! Dizem as más línguas que tal pessoa precisou inventar essa história porque ninguém lhe dava crédito enquanto falava a verdade.
Outro caso que me marcou muito foi o de uma professora que tentou se proteger ao ser agredida dentro da escola e acabou se dando mal. Testemunhas contam que um aluno de outra turma invadiu a sala dos professores e mordeu a mão da professora de maneira profunda e contínua. Ao perceber que o garoto se mantinha com os dentes cravados em sua mão, e que a dor ficava cada vez mais insuportável, a professora segurou com muita firmeza no menino até conseguir se desvencilhar dele. Eu mesmo vi as marcas profundas da mordida na mão daquela mulher, que ficou em dúvida se faria um boletim de ocorrência a fim de se prevenir de eventuais problemas ou não. Ela não fez o boletim e, dias depois, acredite se quiser, duas pessoas que nem presenciaram o incidente a acusaram de ter agredido o aluno que a mordera. Pasmem! A professora foi aconselhada a deixar a escola com base nas afirmações e conclusões de pessoas que nem sequer viram o que aconteceu na sala dos professores naquela tarde infeliz. A profissional que foi agredida, e depois acusada, tentou argumentar e provar sua inocência, mas os proprietários da escola preferiram acreditar nos enganos e nas calúnias que falaram sobre ela. Dizem as más línguas que as pessoas responsáveis pelas falsas acusações já haviam feito isso em outras ocasiões, e que já era hábito dos donos da escola acreditarem nelas. Eita!
Moral da história: Quer que os outros acreditem em você? Então minta! Mas lembre-se que a história costuma não acabar aí, e que assim como aconteceu com a serpente do Éden e com outras serpentes da humanidade, a mentira é como um bumerangue violento e perigoso que uma hora pode voltar pra você. Pode ser como um veneno que você toma pra tentar matar outra pessoa, como eu também já testemunhei algumas vezes. Acredite se quiser!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Melhor Filme Estrangeiro

Fiquei muito contente ao saber que o filme “O Palhaço”, dirigido por Selton Mello, será o representante brasileiro para concorrer ao próximo oscar de melhor filme estrangeiro. Gostei do enredo, das imagens, das interpretações e de outros aspectos que observei nas poucas cenas que pude ver. Além de parecer um filme interessante e engraçado, penso que esta é nossa melhor chance de conquistar a estatueta.
Minha empolgação é tão grande que gostaria de sugerir ao Selton começar a pensar no filme “O Palhaço 2”, podendo usar como enredo as cenas circenses que aconteceram comigo recentemente, especialmente nas vezes em que visitei o set da Previdência Social a fim de solicitar o auxílio doença. Dentre os muitos episódios cômicos, vou destacar apenas dois.
O primeiro aconteceu quando fiz minha estreia na perícia médica visando o benefício em questão. Uma das coisas pastelonas que o médico disse foi que as deformidades congênitas da minha coluna vertebral aconteceram porque eu cresci muito e rápido demais. (ha ha ha). Engraçadinho, né?  Bonitinho mas ordinário (agora eu me lembrei do Nelson Rodrigues). Ora, qualquer mico de circo sabe que deformidades congênitas acontecem bem antes da gente crescer. Até porque, mesmo se não fosse um caso congênito, os meus 1,79m não justificariam as hemivértebras, os blocos vertebrais, as espinhas bífidas e outras anormalidades da minha coluna.
O segundo episódio típico de uma boa comédia aconteceu na minha segunda perícia médica, quando o médico disse que, pelo fato de eu ser pastor evangélico, os comprometimentos da minha coluna vertebral não me impedem de trabalhar porque, em tese, a Previdência Social entende que eu só uso a boca e a voz em minha atividade laboral. (rs rs rs rs rs rs rs rs rs  rs rs). Essa foi ótima! Eu me senti contracenando com o Charles Chaplin no filme “O Circo”. Embora seja engaçado, tal comentário do perito me fez lembrar de outro filme: “O Massacre da Serra Elétrica”. Imaginei meu corpo todo mutilado solto por aí nos mais diversos afazeres. Enquanto minha boca e minha voz estão pregando e aconselhando os fiéis, meus pés estão fazendo caminhada num parque, meus olhos estão assitindo um filme no shopping, minhas mãos estão tocando violão na sala de casa, minha coluna vertebral está internada num hospital e minha bunda está numa privada qualquer; tudo ao mesmo tempo. Nem o filme "Jack, o Estripador" é tão esquartejante assim.
Concluindo, estou desconfiado que os profissionais responsáveis pelas perícias médicas no INSS são peritos em piadas. O problema é que são piadas de mau gosto. Além disso, são anedotas que a gente não entende direito, e em vez de rir a gente chora. Mas independente disso, boa sorte ao Selton Mello e a todos os contribuintes que são feitos de palhaços no picadeiro da Previdência Social. Penso que a história destes cidadãos também poderia concorrer a uma estatueta de Holywood, só não sei se seria no gênero drama, terror ou comédia mesmo. Em todo caso, deve ser mais fácil um contribuinte da Previdência receber o oscar de melhor filme estrangeiro do que conseguir um benefício do INSS, basta a gente ver as centenas de brasileiros figurantes amontoados nas agências da Previdência "a espera de um milagre" vivendo um verdadeiro "dia de fúria".

sábado, 22 de setembro de 2012

Poderia Ser Pior!

Praticamente todas as crianças com as quais convivo são bastante imediatistas e pragmáticas. Muitas delas têm dificuldade em lidar com imprevistos e quaisquer outras situações inesperadas que interrompam ou retardem os planos que fizeram. Nesse sentido, ficam super ultra mega emburradas se chover bem no dia em que a escola faria um piquenique; ficam super ultra mega boladas se não forem à festa de aniversário porque tiveram que estudar para a prova do dia seguinte; chegam a ficar revoltadas se perderem a sessão de cinema porque o pneu do carro furou. De certa forma, isso é natural, afinal elas ainda estão aprendendo a lidar com frustrações, imprevistos, limitações e com a necessidade de mudar os planos e se adaptar.
Mas estas crianças vão crescer e terão a chance de perceber que nem todas as coisas que antes consideravam muito ruins são tão ruins assim. Perceberão também que certas situações adversas ou contrárias ao que nós queremos podem contribuir para a realização de outras conquistas importantes. Chegarão ao ponto de, diante de algo bem desagradável, identificar aspectos positivos, consoladores e até motivadores. Neste momento compreenderão e aplicarão a sua própria vida alguns ditados que as pessoas mais experientes costumam falar, como, por exemplo, “há males que vêm para bem” ou “Deus escreve certo por linhas tortas” ou ainda “poderia ser pior”. Isto é um dos aspectos da maturidade.
Penso que o auge dessa maturidade acontece quando a pessoa vai além dos ditados populares já mencionados e mergulha de corpo e alma naquilo que está escrito em Romanos 8.28, onde o apóstolo Paulo faz a seguinte afirmação: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Em poucas palavras, o texto revela que Deus pode fazer com que tudo, inclusive as coisas super ultra mega desagradáveis, tenha algum proveito e contribua com o propósito que Ele tem para nós.
Vejo isso na vida de muita gente, inclusive na vida do próprio apóstolo Paulo que, numa certa ocasião, desejava muito ir para Roma, mas o navio em que viajava naufragou por causa de um furacão. Foram dias e noites à deriva, açoitados violentamente pelas ondas. Todos os que estavam a bordo foram ao mar e, é claro, a viagem foi interrompida. Isso foi horrível! Porém, todos se salvaram e se refugiaram numa pequena ilha que era habitada por um povo desconhecido, onde os náufragos foram tratados muito bem, com singular humanidade, e onde Deus operou milagres através da vida do Apóstolo. Os habitantes da ilha acolheram a pregação do Evangelho e, dias depois, providenciaram um novo navio para que Paulo e seus companheiros seguissem viagem para Roma. Deus fez com que todas as coisas cooperassem. Ninguém planejou nem desejou aquele naufrágio. Foi horrível, mas poderia ser pior!
Coisas desse tipo também aconteceram comigo, e um dos melhores exemplos que eu poderia compartilhar é o nascimento do nosso filho, que veio à luz com menos de sete meses de gestação, depois de minha esposa ter ficado três meses de cama, em repouso absoluto a fim de preservar a gravidez. Foram momentos muito difíceis e tensos. Quase todos os dias havia ameaça de aborto e outros riscos para o bebê e sua mãe. Nesse tempo, recebemos o amor, o carinho e a solidariedade de muita gente; foi transbordante e transformador; fomos tratados com singular humanidade, assim como aconteceu com o apóstolo Paulo na ilha de Malta. E no meio disso tudo, aprendi que, nascendo de nove meses ou a qualquer hora, meu filho precisaria de Deus do mesmo jeito (e nós também). Por fim, ele nasceu prematuramente, passou alguns dias na UTI neonatal, onde também teve algumas complicações. Lembro-me de uma pessoa que me disse: “Como você consegue se manter em paz sendo que seu filho está na UTI em estado grave?” Então eu respondi: “Eu não sei se realmente estou em paz, mas sei que a UTI é para nós o que a ilha de Malta foi para o apóstolo Paulo. A UTI não é o que nós planejamos; não é o que nós queríamos; mas poderia ser pior. Eu espero que Deus cuide do meu filho na UTI assim como cuidou de Paulo naquela ilha, e depois nos  permita seguir viajem”. Felizmente, ele saiu do hospital e nós estamos há oito anos navegando e conquistando coisas novas juntos.
Minha intensão com este artigo é dizer pra você que existem situações que, mesmo sendo adversas, podem cooperar para o nosso bem. Existem situações que, mesmo sendo apavorantes, podem ser transformadas e apaziguadas. E existem momentos que funcionam como uma ilha em nosso trajeto, isto é, não é bem onde a gente queria chegar, mas é o lugar onde nossa vida está sendo preservada; é onde podemos descansar um pouco e aprender coisas novas para depois seguir viagem rumo ao que sonhamos. Se você está numa ilha, aproveite o que for possível, e lembre-se: Poderia ser pior!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Cor de Rosa com Cheirinho de Morango

Há mais ou menos oito anos assisto desenhos animados e filmes infantis com certa frequência. Além de serem um entretenimento interessante, geralmente apresentam lições importantes sobre autoestima, determinação e caráter, aspectos significativos para o desenvolvimento das crianças. Assim, vários desenhos e filmes infantis também trabalham questões éticas e morais, ajudando também o público a definir melhor suas concepções e decisões pessoais. Tenho muitas experiências legais pra contar a este respeito, visto que alguns destes personagens e suas histórias já me ajudaram a compreender melhor certos acontecimentos ao meu redor bem como as atitudes mais adequadas a serem tomadas neste ou naquele momento. A grande maioria das experiências são positivas, situações que me animaram ou motivaram a seguir em frente apesar das adversidades, como aconteceu com aquela musiquinha que os personagens do filme “Procurando Nemo” cantam nos momentos de dificuldade e desânimo: Continue a nadar, continue a nadar, pra encontrar a solução...” São experiências tão prazerosas que eu gostaria de tratar apenas desses aspectos  positivos e motivadores, porém, já faz algum tempo que um personagem do filme Toy History 3 me inspira a compartilhar algo preocupante e alarmante, que pode estar presente bem ao nosso lado sem que a gente perceba, colocando em risco nossos sonhos, nossa segurança, nossa paz. Refiro-me ao personagem Lotso, um ursinho cor de rosa com cheirinho de morango.
Pra quem não conhece ou não lembra direito da história, o  Lotso é um ursinho de pelúcia da brinquedoteca de uma creche. Num primeiro momento, ele se manifesta muito generoso, amável e solidário aos novos brinquedos que chegam ao local, mostrando-se prestativo, hospitaleiro e disposto a amparar e proteger os novos moradores da brinquedoteca. Em poucas palavras, o  Lotso se apresenta como uma espécie de anfitrião e guardião do bem, e assim vai ganhando a confiança e a simpatia de todos. Naturalmente, os novos brinquedos da creche passam a admirá-lo e confiar nele.
Mas aos poucos, os novatos começam a descobrir algumas coisas estranhas e presenciar determinadas situações que revelam as verdadeiras motivações do Lotso. Eles percebem que por trás daquele brinquedinho de pelúcia aparentemente inofensivo, de cor meiga e cheirinho acima de qualquer suspeita, estava um cara dissimulado, manipulador, centralizador, mentiroso, frio, maquiavélico, egoísta e ciumento. Desta maneira, eles concluem que toda a amabilidade e discurso politicamente correto do  Lotso serviam apenas para atrair os demais brinquedos a fim de controlá-los, manipulá-los e usá-los para satisfazer sua vontade pessoal, sem que os brinquedos percebessem, é claro. No final da história, o Lotso é definitivamente desmascarado e os brinquedos ficam livres da opressão e do engano em que viviam.
Não sei se você concorda comigo, mas parece que tem muito ursinho cor de rosa com cheirinho de morango solto por aí. Gente com aparência de bom menino, que parece ser um amor de pessoa, que dá a impressão de que tá junto com você pro que der e vier, mas que visa apenas suas próprias conquistas. Gente manipuladora e dissimulada. Pessoas que te acompanham e te apoiam desde que você faça tudo exatamente como elas querem. Pessoas que te amam e te valorizam desde que você se submeta aos seus caprichos e sirva aos seus interesses. Como afirma o cantor e compositor Flávio Venturini, “gente que está do mesmo lado que você mas deveria estar do lado de lá”. É preciso discernir isso. É importante resistir a esse mal e promover a verdade, como os brinquedos recém chegados na creche fizeram.
Além de estar atento a estas situações, é fundamental crer que Deus conhece todas as coisas, e que nada está encoberto aos seus olhos.  Portanto, importa esperar no Senhor, que não desampara os que nele confiam, e que há de trazer à tona tudo o que está em oculto, livrando-nos dos males que  alguns ursinhos de pelúcia cor de rosa com cheirinho de morango costumam fazer.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uns Iguais Aos Outros

Não faz muito tempo, sentei-me próximo a dois jovens numa poltrona do shopping e, mesmo sem querer, ouvi o desabafo que faziam sobre seus próprios sentimentos. Percebi que um deles estava meio constrangido e um pouco apreensivo, então imaginei que estivesse contando algo muito sério, um grave problema ou um tipo de confissão. E, de certo modo, era mais ou menos isso. Ele estava em dúvida se algumas de suas atitudes secretas eram normais ou se havia alguma coisa muito errada em seu comportamento. Em outras palavras, o moço queria  saber o seguinte: “Será que só eu faço as coisas esquisitas que faço? ”.
A primeira revelação que o jovem fez ao amigo me deixou estarrecido logo de cara. Ele disse que, de vez em quando, limpa caca de nariz debaixo de algum móvel ou no lençol da cama ou na parede ou até mesmo nas poltronas do shopping. Que horror! Fiquei tão impactado que quase passei a mão no meu nariz pra ver se tinha alguma caca dando sopa. Disfarcei bem, dei uma boa olhada na poltrona em que eu estava sentado e continuei ouvindo seu relato em silêncio. Mas de repente bateu uma certa curiosidade: Será que existem mais pessoas neste mundo cometendo o mesmo crime com a caca do próprio nariz? Será que o nobre leitor ou leitora que agora medita nestas palavras já cometeu tal delito algum dia? Quanto a mim, sou inocente até que se prove o contrário. Tenho o direito de ficar calado. Falarei sobre isso na presença do meu advogado.

A segunda revelação do moço foi mais bombástica ainda. Ele contou que, pelo menos umas três vezes na sua vida, soltou pum em um corredor do supermercado e logo correu para o outro corredor a fim de ter o álibi de que não estava no local do crime, mesmo porque o repositor que trabalhava bem perto dali parecia já sentir algo diferente no ar. Quando ele contou isso, por pouco eu não caí da poltrona. Na verdade, eu fiquei tão pasmado que quase soltei um pum ali mesmo e saí correndo pro outro lado do shopping a fim de não levantarem suspeita contra mim. E finalmente entendi porque às vezes eu sinto cheiro de pum em algum corredor de supermercado completamente vazio: Ou alguém soltou pum ali e logo mudou de corredor, ou eu andei em círculo e não percebi. Mas o que fazer diante dessa situação delicada? O que dizer para uma pessoa que solta pum no supermercado e não assume? O que dizer para um jovem que fez aquilo que eu também já fiz mas pensava que ninguém mais o fizesse? E foi aí que quase pirei: “Será que existem mais peidorreiros entre a terra e o céu do que a nossa vã filosofia poderia admitir?”, parafraseando Shakespeare. E agora? Como ir ao supermercado a partir de hoje sem imaginar que todos estão mudando de corredor apenas para não deixar pistas? A única perspectiva que me consola em matéria de soltar pum em público é ver a autenticidade e a inocência do meu filho soltando ”pum do sovaco”; parece pum de verdade. Outro dia ele fez isso em pleno supermercado, foi engraçado. Só não entendi porque ele mudou de corredor rapidamente e me deixou sozinho próximo ao repositor...

A terceira e última bomba que o rapaz compartilhou com seu amigo foi dizer que quando ele passa em frente ao motel, mesmo sem querer, e como quem não quer nada, ele dá uma olhadinha só pra ver se tem alguém entrando ou saindo de lá. Ao ouvir isso fiquei até trêmulo. Foi como o mundo desabasse sobre mim! Eu não sabia onde enfiar a cara! Lembrei que eu passo em frente a um motel praticamente duas ou quatro vezes por dia, e quase sempre eu vejo carros dando seta no meio da rua indicando que vão entrar no recinto. No mesmo sentido, quase todos os dias vejo os pneuzinhos dos carros por baixo do portão de saída aguardando o portão abrir para que possam ir embora do estabelecimento.  Então vem a dúvida: “Olho ou não olho?” E se for alguém conhecido entrando ali? E se for um daqueles caras casados que vivem dando uma de santão saindo de lá com outra mulher? E se for um daqueles caras casados que vivem dando uma de santão saindo dali com outro cara casado que também dá uma de santão? Seria uma chance em um milhão de flagrar alguma coisa. Que curiosidade! O mais interessante é notar que, além de ter muita gente que passa de carro olhando para as fachadas dos motéis, tem muitos outros que ficam vigiando se os motoristas que passam por ali vão olhar na direção do motel ou não. Parece que todos se vigiam mutuamente. Ora, se a expectativa é grande do lado de fora, imagine do lado de dentro. Isso mesmo! Imagine a expectativa de quem está saindo do motel sem saber quem vai encontrar lá fora... ainda mais se for os caras casados com ar de santão. Que stress! Tem que ficar de olho em todo mundo que está passando na rua, nos motoristas, nos que vigiam os motoristas, nos pedestres, nos automóveis estacionados próximo ao local, nos ambulantes, no varredores de rua, nos carros de propaganda eleitoral, no helicóptero da polícia etc.

Poucos minutos depois de falarem sobre esse assunto, os dois amigos saíram dali rapidamente e foram embora. Não sei se soltaram um pum e evadiram do local ou se foram passar em frente a algum motel pra tentar flagrar alguma coisa interessante. Mas isto também não faz diferença. O que importa é que eu pude perceber que, de modo geral, somos  uns iguais aos outros em diversas coisas símplices, toscas e periféricas do dia a dia. Isso é normal.  Mas seria muito bom se também fôssemos uns iguais aos outros em atitudes mais nobres, edificantes e relevantes para nossa vida, para o próximo e para a sociedade como um todo. Seria  excelente se,  além de limpar a caca do nariz sem cerimônia, nós também cooperássemos com a justiça, com a paz e com o bem comum com a mesma naturalidade com que uma criança solta pum do sovaco, como podemos conferir no link   //youtu.be/Dd139JzotVE .

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sertanejo Universitário

Gosto não se discute, e a diversidade cultural merece ser respeitada. Mesmo tendo esta convicção, até agora não consegui assimilar direito o significado do termo “sertanejo universitário”, atribuído a um gênero musical muito presente nos dias de hoje. Digo isto porque, em minha opinião, tal gênero parece  ter  pouquíssima coisa de sertão e de universidade.
Meu desconforto principal não tem a ver com os ritmos ou com as letras, mesmo porque esse tipo de expressão cultural existe há muito tempo no Brasil; já estamos acostumados. São iguais ou muito semelhantes ao que, há décadas, pode-se encontrar no vanerão, no xote, no baião, no axé, no country e, especialmente, nas músicas que antes eram consideradas bregas. São melodias e letras que, por serem ultra básicas, quase infantis, são bastante animadas e fáceis de memorizar, cantar, dançar, pular etc. São excelentes para ajuntar os amigos e promover diversão. É até legalzinho! Portanto, o estilo chamado “sertanejo universitário” não constitui uma novidade cultural e também não precisa ser motivo de preconceito ou repúdio. Além do que, embora eu não curta nem recomende os conceitos difundidos neste tipo de música, reconheço nele um valor muito positivo: O "sertanejo universitário" favoreceu à música brasileira conquistar mais espaço nos meios de comunicação e entretenimento em nosso país, gerando mais emprego, renda e outras oportunidades para os brasileiros, reduzindo assim o espaço e o consumo exagerado de músicas estrangeiras, especialmente, norte americanas.
Isto posto, importa dizer que minha principal estranheza quanto ao “sertanejo universitário” é justamente a sua nomenclatura. Por que “sertanejo”? Qualquer pessoa pode perceber que não há quase nada de “sertanejo” nesse tipo de música. Ora, o ambiente sertanejo de verdade é muito natural e  rural, chega a ser rústico e hostil. Não há boates, baladas, piscinas, luxúrias, facilidades, carrões e ociosidades que aparecem nas músicas “sertanejas universitárias”. No mesmo sentido, o povo sertanejo costuma ser um povo simples, modesto, muitas vezes humilde. Não tem nada a ver com os personagens ambiciosos, inconsequentes, fanfarrões, arrogantes, narcisistas e excêntricos que aparecem nas músicas do “sertanejo universitário”. O homem sertanejo não anda de Camaro amarelo, geralmente ele anda a pé, a cavalo ou de carroça. No sertão, quando “as mina pira”, é de tanto moer café, cuidar dos animais ou cortar cana; elas não piram porque encheram a cara de cerveja ou uísque. No mesmo sentido, o povo sertanejo não fica na balada até o amanhecer, pois ele não tem tempo nem dinheiro para fazer estas coisas que as músicas “sertanejas universitárias” apresentam. Então, enquanto os adeptos do “sertanejo universitário” saem da farra de manhazinha e vão dormir, o autêntico homem sertanejo já se levantou,  fez sua marmita e foi pra roça. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. É uma ilusão. É só marketing.
Tão equivocado quanto o termo “sertanejo” é o termo “universitário”. Eu que passei por duas universidades e uma faculdade,  sei que a maioria dos alunos do ensino superior e seus familiares dão um duro danado pra pagar os estudos, a moradia, o material escolar etc; e que tem muita gente estudando com crédito educativo e outros tipos de financiamento. Quase ninguém tem dinheiro sobrando para esbanjar nas baladas e nos rodeios. Também sei que quase todos os alunos universitários passam horas e horas se empenhando para aprender, tirar boas notas e dominar as matérias do curso. Não são jovens compulsivos e alienados. E as garotas não são promíscuas ou levianas como algumas músicas “sertanejas universitárias” sugerem. A maior parte  das meninas quer encontrar o amor da sua vida e sonham em se casar. Ao contrário do que dizem as músicas, elas não têm “cara de santa”, mas também não são endiabradas como alguns cantam por aí. E o que talvez seja a pior constatação em relação ao termo “universitário” é que existe um número enorme de adeptos desse gênero musical, quem sabe a maioria deles, que não frequentam e nunca frequentaram uma universidade. Esta é mais uma ilusão promovida pelo marketing “sertanejo universitário”.
Sendo assim, vejo apenas dois fundamentos que justificam  empregar a expressão “sertanejo universitário” às músicas em questão. O primeiro motivo é atrair o público jovem, tanto do campo quanto da universidade, para que sejam consumidores fiéis por muitos anos de vida. O segundo motivo é atrair comercialmente os demais públicos jovens servindo-se da caricatura, da depreciação e da banalização do homem sertanejo e do jovem universitário, pessoas que merecem mais respeito de todos nós.
Conforme já mencionei, não tenho preconceito e não sinto repulsa a nenhuma forma de expressão musical, portanto, não se faz necessário mudar nem o ritmo nem a letra do chamado “sertanejo universitário”, mas, por favor, mudem o nome, inventem outro, façam qualquer coisa para corrigir a mutação que o sentido de " sertanejo" e "universitário" vem sofrendo. Que tal fazer um concurso para escolher um novo nome? Se você tiver alguma sugestão, compartilhe com a gente.




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Que Venham os Feriados!

Chegou o feriadão de Páscoa. E como acontece em quase todos os feriados, tem coisa que ajuda bastante a curtir esta data tão esperada e tem coisa que compromete os planos, o que costuma dar aos feriados uma agenda toda especial e, de certa forma, paradoxal.
Tudo começa bem de manhã, quando a maioria das pessoas aproveita para dormir até mais tarde. Que soninho gostoso! Que delícia!  Ao mesmo tempo, o dia de folga também anima muita gente a levantar cedo para cortar a grama, podar as árvores, lavar o carro, fazer reparos na casa e uma série de outras coisas que produzem barulhinhos irritantes e aparentemente intermináveis, uma verdadeira tortura para quem fez planos de ficar na cama até o meio dia. Bem, mesmo que eu não consiga levantar tão tarde assim, fico doido quando algum vizinho resolve limpar seu enorme quintal às sete da manhã, em pleno feriado, varrendo copinhos descartáveis, garrafas pets vazias e folhas secas pra lá e pra cá até a gente perder o sono de vez. Pior do que isso só o tesourão do jardineiro: cleck, clekc, clekc... Feriado é assim mesmo.
Uma vez de pé, vai chegando a hora de dar um passeio de carro com a família e, quem sabe, almoçar fora, ir ao pesqueiro, fazer um pique nique, enfim, qualquer coisa descontraída no momento da refeição. É aí que muitos dizem: Hoje é feriado! Oba! Esperamos tanto por isso! Que legal!” Realmente é bom. Melhor seria se o carro não quebrasse ou não tivesse um curto circuito na fiação dos faróis bem no meio do caminho, como se deu com a gente no feriado passado. Quando isso acontece, geralmente alguém logo se manifesta: Hoje é feriado! Que droga! Não tem nenhuma oficina aberta. Que roubada passear de carro justo num dia como este”. É meio paradoxal, mas feriado é isso aí.
E, finalmente, pra aproveitar o dia de folga em grande estilo e estar descansado para o dia seguinte, fica bem aquela deitadinha na rede quase no final da tarde. Aí sim! Que feriadão abençoado! Vida boa, hein? Então, quando o sujeito começa a relaxar embalado pelo movimento da rede, chega um dos filhos todo eufórico: “Papai! Papai! Quero fazer alguma coisa legal com você! Vamos brincar de bola ou jogar vídeo game?” O cara dá uma olhada pro filho e diz: “Não vai dar, filho! Preciso descansar, senão eu acabo não descansando nem nos dias normais nem no feriado”. Sem pensar duas vezes, o menino surpreende o pai: “Pô, pai, mas hoje é feriado, é dia da gente brincar. Desse jeito a gente não brinca nem nos dias normais nem nos feriados”. É comum o sujeito entrar em crise a partir dessa hora. Se ele levanta e vai brincar, seu feriado termina ali. Por outro lado, se ele permanece esticadão na rede e não atende ao pedido do filho, começa um gotejante peso na consciência acompanhado de um sussurante sentimento de culpa. Isso é o feriado!
E pra quem acha que é ruim com ele, eu digo que é pior sem ele. Imagine se nossos vizinhos resolvessem infernizar nossa vida cortando a grama, podando as árvores e arrastando copinhos descartáveis e garrafas pets vazias às sete horas da manhã todos os dias úteis da semana. Imagine se nosso carro sempre quebrasse ao meio dia de uma segunda-feira nervosa bem no centro da cidade. Imagine se nossos filhos não quisessem brincar com a gente nem nos dias de folga. Então, não há dúvida, viva o feriado! Que venham os feriados! É feriado, uhuuu!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Carta

Recentemente, meu colega procurou uma agência da Previdência Social para solicitar o auxílio doença, visto que há muito tempo vinha sofrendo fortes dores e sérias limitações em sua coluna vertebral, fato que levou seu ortopedista a encaminhá-lo ao INSS a fim de pleitear o benefício social, fazer a perícia médica etc. Lamentavelmente, e de modo bisonho, ele saiu da agência da Previdência sem ter certeza do que realmente se passou lá dentro, isto é, conforme mencionei no artigo anterior, meu colega não soube me dizer se a conversa que ele teve com um senhor aparentemente simpático foi apenas uma espécie de triagem ou se aquilo era a tal perícia médica que ele tanto esperava. Ele me disse: "Não parecia perícia, tinha tudo pra ser triagem. Afinal, o senhor de aparência simpática e inofensica que me atendeu fez apenas sete perguntinhas corriqueiras que as secretárias e atendentes fazem nos hospitais ao preencherem formulários". A situação só não foi mais bizarra porque o senhor com aparência de atendente informou que tudo seria esclarecido através de uma cartinha que o INSS enviaria para meu colega dentro de alguns dias. Resumindo, somente a tal carta poderia desvendar o mistério: O que aconteceu com meu colega na sala do perito da Previdência Social foi perícia médica, triagem ou apenas um bate papo informal e despretensioso?  Dias atrás, a carta chegou e as dúvidas que tínhamos foram resolvidas.  Vou contar como foi.
A carta enviada pelo INSS informava que o auxílio doença solicitado pelo meu colega lhe fora negado. Por um lado, é claro, fiquei triste pelo fato do seu pedido ser indeferido. Que pena... Ele está sofrendo tanto! Por outro lado, fiquei feliz ao ver a agilidade da Previdência Social, pois meu colega nem fez a perícia e o resultado já saiu. Que rápido, hein? Puxa! Parece até que o resultado estava pronto antes mesmo dele entrar na agência do INSS pela primeira vez e solicitar o benefício. Alegrei-me com tamanha eficiência do sistema. Mas esta alegria durou pouco. Ao saber outros detalhes do caso, fiquei decepcionado e mais confuso ainda.
Pelo que está escrito na carta, acho que a perícia médica do meu colega  foi feita no mesmo dia e horário em que ele conversou com aquele senhor simpático e agradável. Ora, neste caso, só há duas alternativas: Ou meu colega entrou na sala errada quando foi chamado ou aquelas sete perguntinhas marotas eram a própria perícia. Considerando que a segunda alternativa é a mais provável, ainda temos outro enigma para resolver: Se meu colega realmente entrou na sala certa e aquilo que aconteceu com ele era mesmo a perícia médica, então quem era o tal  senhor que lhe fez aquelas sete perguntinhas travessas? Hein? Hein? Seria uma secretária disfarçada de médico? Ou um médico disfarçado de atendente? Seria ele um impostor? Não sei, mas confesso que cheguei a pensar que aquele cara pudesse ser um médico disfarçado de senhor simpático e agradável (mas também não posso afirmar isso).
Bem, diante da situação embaraçosa, faltam-me palavras para consolar meu colega. Até pensei em lhe dizer algumas frases de efeito, do tipo: “A vida tem dessas coisas... Pra frente é que se anda... Não adianta chorar o leite derramado... Há males que vem para bem... Um dia a gente vai rir de tudo isso... O que vem de baixo não me atinge... Um dia da caça, outro do caçador... Pra morrer basta estar vivo... Nossa! Assim você me mata!”. Mas acho que isso não iria funcionar.
Seja como for, meu colega precisa da nossa ajuda. A lei lhe dá o direito de fazer o pedido de reconsideração e se submeter à nova perícia, mas ele me disse que está com medo de fazer isso. Esta semana eu lhe perguntei: “Você tem medo que seu pedido de auxílio doença seja negado novamente?” Ele respondeu: “Não. Estou com medo desse negócio demorar muito”. Então eu o acalmei, dizendo: “Quanto a isso, pode ficar tranquilo. Vai ser rápido! O resultado já deve até estar pronto. Talvez tenha ficado pronto antes mesmo de você ficar doente. A Previdência Social tem sido cada vez mais ligeira e sapeca pra essas coisas”. Danadinha essa Previdência, né gente?!
Concluindo, quero dizer que os leitores também podem ajudar meu colega a resolver seu problema. Se você quiser cooperar com ele, dê sua opinião: Você acha que a reconsideração da perícia é um dispositivo sério e digno de confiança? Ou você também desconfia que esse dispositivo é apenas um artifício para dar a impressão que a Previdência Social valoriza as pessoas? Todos podem participar, inclusive as secretárias e atendentes, que são peritas em preencher fichas, cadastros, formulários etc. Ouvi dizer que até perícia médica elas estão fazendo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Secretárias e Atendentes - Parte 1

Conheço alguém que há mais de dez anos apresenta muitas dores nas costas e sérias limitações físicas por causa de problemas na coluna vertebral. Seu quadro de saúde vem se agravando a cada ano, e, ao longo desse período, alguns ortopedistas concluíram e atestaram que ele não tem mais condições de manter suas atividades habituais. Recentemente, um dos médicos o encaminhou para o INSS solicitando afastamento ou auxílio doença a fim de investir em tratamentos e promover-lhe melhor qualidade de vida. Mas aí aconteceu algo meio esquisito.
Meu colega chegou à agência da Previdência Social para fazer a perícia médica, pegou a senha e, uma hora depois, foi chamado para entrar numa sala. Sentou-se na cadeira e foi atendido por um senhor aparentemente simpático e agradável que lhe fez as seguintes perguntas: Qual é o seu nome? O que você faz? Onde você trabalha? O que você está sentindo? Onde é a dor? Há quanto tempo você tem essa dor?  Você fez alguma cirurgia? Após fazer estas sete perguntas básicas que secretárias e atendentes costumam fazer nos hospitais, o senhor de aparência simpática e agradável dispensou meu colega informando que em poucos dias ele receberia uma carta com o resultado daquela breve conversa.
Bem, quando eu soube da história, fiquei um tanto surpreso e fiz mais algumas perguntas básicas para o meu colega: Quem é o cara que te atendeu? Ele respondeu: Não sei. Só sei que ele fez as mesmas coisas que as secretárias e atendentes costumam fazer.  Em seguida, indaguei: O cara que te atendeu fez algum exame, teste ou outro tipo de avaliação física em você? A resposta foi essa: Não, ele só fez aquelas perguntas corriqueiras e preencheu uma espécie de ficha, como as secretárias e atendentes fazem. Por último, quase indignado, perguntei-lhe: Ué, e a perícia? Por que não fizeram a perícia em você? Pra minha decepção, ouvi a seguinte resposta: Não sei não; eu devia ter perguntado isso para alguma secretária ou atendente antes de sair da agência. Depois dessa, despedi-me dele e desejei-lhe boa sorte – tudo indica que ele vai precisar bastante.
Mais tarde, ainda intrigado e curioso com a situação, fiquei me perguntando: Qual será o conteúdo da cartinha que meu colega vai receber da Previdência Social? Será que é o agendamento da perícia? Então pensei: Só pode ser! Afinal, parece que a triagem já foi feita por aquele senhor aparentemente simpático e agradável. Acho que vai dar tudo certo. Não há com o que me preocupar.
Mas no dia seguinte, quando minhas dúvidas estavam se aquietando, alertaram-me que aquelas sete perguntas triviais que fizeram para meu colega na agência da Previdência Social talvez sejam a perícia médica que ele estava esperando. Fiquei  incomodado novamente. Será que uma perícia dessa importância poderia mesmo se resumir àquelas sete  perguntinhas primárias e rotineiras? Esquisito, né?
Bem, resta aguardar a carta do INSS chegar para matar nossa curiosidade; a menos que alguma secretária ou atendente simpática e agradável possa nos explicar se essas coisas de perícia médica funcionam assim mesmo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

As Aparências Enganam

A maioria de nós já afirmou pelo menos uma vez na vida que as aparências enganam. Embora eu veja alguns limites nesta afirmação, admito que ela tem muito sentido e fundamento, conforme passo a descrever agora.
Certa manhã, uma amiga solicitou que eu a ajudasse numa determinada situação que se desenrolaria às 15h daquele mesmo dia, mas como eu já tinha compromisso com outra pessoa no escritório da igreja no mesmo horário, expliquei a minha amiga que não poderia atendê-la conforme ela havia solicitado, mas que poderia fazê-lo no dia seguinte. Beleza.  Acontece que a pessoa com a qual eu tinha compromisso às 15h não compareceu, então aproveitei aquele breve período de tempo que ficou livre para dar um pulinho numa loja do shopping a fim de fazer mais um furo no cinto que eu ganhara de presente no dia anterior. Chegando ao shopping, pouco depois das 15h, quem eu encontro? Isso mesmo, aquela amiga que eu não ajudei porque eu disse que tinha compromisso com outra pessoa no escritório da igreja às 15h. Não poderia ser pior. Imagine o clima ruim que pintou quando eu dei de cara com ela na escada rolante. Fiquei super constrangido com a situação, especialmente por perceber a expressão de surpresa e decepção em seu rosto. Mesmo sem falar nada, foi como se ela estivesse gritando pra todo mundo ouvir: “Bonito, hein, seu Flávio?! Mentiroso... Inventou que tinha compromisso com outra pessoa só pra não me ajudar, né?!”. Estava instaurada a aparência do mal. No dia seguinte, minha amiga e eu conversamos sobre o que havia acontecido e finalmente pude esclarecer o mal entendido. Ficou tudo bem.
Mais curioso do que este caso é aquele que eu chamo de “havia um poste no meio do caminho”, parafraseando o poema de Carlos Drumond. Este episódio se deu quando eu percorria um dos bairros da cidade onde moro e, ao virar numa determinada rua, perto de um cruzamento, dei de cara com um poste elétrico bem no meio da via pública. Instintivamente, pensei: “Que absurdo! Que ideia de jerico! Onde já se viu colocar um poste no meio da rua?!” Antes que eu falasse alguma coisa e disparasse algumas palvras contra a prefeitura, a pessoa que estava comigo esclareceu que o poste foi colocado ali bem antes que aquela rua fosse feita, e que a tal via só foi aberta naquele local e daquela maneira estranha para suprir uma necessidade emergencial do bairro, mas que já há estudos para adequar melhor a situação. Ufa! Que susto! Dito isto, desfez-se a aparência de completa  incompetência das autoridades públicas.
Tão hilário quanto  o “poste no meio do caminho” foi a experiência que um casal amigo nosso teve ontem à tarde. Eles seguiam de carro por uma das avenidas da cidade quando, de longe,  avistaram a seguinte frase na fachada de um imóvel: “Fala comigo!” A primeira impressão que tiveram foi que aquele local pudesse ser um templo religioso, visto que a expressão “fala comigo” é muito usada no meio cristão, especialmente no segmento evangélico, onde muitos compositores  utilizam tal expediente em músicas de louvor. O casal achou aquilo muito bonito e profundo, mas quando se aproximaram do prédio foram surpreendidos ao constatarem que se tratava de um bar, onde várias pessoas consumiam bebida alcoólica, fumavam etc . Achei a história tão interessante que não resisti. Hoje pela manhã fui até o local para checar a informação. Então li com meus próprios olhos: “Bar Fala Comigo!”. Maneiríssimo! De fato não é um templo religioso, embora não deixa de ser um lugar onde algumas pessoas vão em busca de consolo, paz, alegria, solução de problemas, alívio e, especialmente, afogar as mágoas.
Por último, quero compartilhar o exemplo que, em minha opinião, melhor expressa o quanto as aparências enganam. Refiro-me ao que está escrito em 1 Coríntios 1.18-25, de onde se conclui que, para os gregos da época, especialistas em sabedoria e ciência, a cruz de Cristo tinha aparência de loucura, coisa sem sentido, sem lógica, sem razão. E para os judeus daquele tempo, especialistas em legalismo e moralismo, a cruz aparentava vergonha, escândalo, condenação. Mas para Deus, especialista em nos amar e abençoar, a cruz de Cristo é prova de amor incondicional e oportunidade de nova vida para os que creem e enxergam além das aparências humanas. Bem, entre o que o pensam os judeus, os gregos e Deus, eu fico com Deus. Mesmo porque Ele não se deixa levar pelas aparências, e por causa disso pode nos ajudar a discernir bem as coisas, como está muito claro em 1 Samuel 16.6-7: “Disse Deus a Samuel: Não atentes para a aparência dele.... porque o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior; Deus, porém,  vê o coração”.
É isso! Tem coisas que não são boas ou más como parecem.

domingo, 9 de setembro de 2012

Ninguém me Ama, Ninguém me Quer...

Antes de tecer qualquer comentário específico sobre o assunto de hoje, faço questão de dizer que tenho muito respeito pelo sentimento de abandono, inferioridade e rejeição que algumas pessoas têm em sua alma. Penso que não se deve desprezar ou subestimar a dor daqueles que não se sentem amados, aceitos ou compreendidos, mesmo porque qualquer um de nós pode passar por situações semelhantes a estas a qualquer momento, uma ou muitas vezes na vida. Por isso, quero manifestar desde já meu respeito aos leitores que estão enfrentando esse tipo de adversidade, e desejo que estes superem tais sofrimentos e tenham bom êxito em sua caminhada. Porém, mesmo respeitando a dor e a história de cada um, e justamente por respeitar tudo isso,  ouso compartilhar pelo menos duas dicas que podem nos fortalecer quando sentimos que “ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me aceita, ninguém me compreende...", frases que tenho ouvido com certa frequência no decorrer de vários anos de ministério (e que eu mesmo já falei em determinados momentos difíceis da minha história).
Indo direto ao assunto, e sem pretensão de explorar a complexidade das questões, a primeira dica é esta: Saiba que você é amado, aceito e compreendido pelas pessoas que estão ao seu redor. Se você não fosse aceito pelas pessoas que fazem parte do seu convívio, todas elas já teriam saído da sua vida e você já teria sido excluído da vida delas há muito tempo; a estas alturas, você estaria absolutamente sozinho ou sozinha. Saiba que existem pessoas que se dispõem a conviver com você apesar das suas mancadas, chatices, agressões, indiferenças, pecados, manias, enfermidades e loucuras. Ou você acha que as pessoas estão ao seu lado porque você é muito bom? Perceba que as pessoas convivem com você mesmo conhecendo seus defeitos. Ou você pensa que elas participam da sua vida porque você sempre é agradável, nunca erra e só faz o bem? Se aqueles que estão ao seu redor não te aceitassem ou não te amassem como você é, todos eles já teriam caído fora, vazado, picado a mula, enfim, deletado você mais cedo do que você possa imaginar. Admita isso: Existem pessoas que te aceitam e te compreendem, e, ainda que você não perceba ou não queira reconhecer, algumas delas te amam mesmo sofrendo com as tuas lambanças. Em poucas palavras, enquanto você fala que ninguém te ama, tem muita gente se dedicando bastante para viver com você. Mas pode ser que um dia elas se cansem da dureza do teu coração ou da tua ingratidão (quem sabe isso já começou a acontecer).
A segunda dica tem a ver com Deus. Só Deus pode te amar, aceitar e compreender de modo pleno. Então não espere que os outros sejam como só Deus pode ser. Não espere dos outros aquilo que só Deus pode dar: amor incondicional e eterno, perdão eficaz, misericórdia e bondade que não têm fim etc. Se nutrirmos uma expectativa elevada demais em relação às pessoas, certamente vamos nos frustrar ou nos decepcionar a qualquer hora, e não poucas vezes. Primeiro, porque os outros têm fragilidades, limitações, pecados e demais falências como nós também as temos; ninguém consegue acertar em tudo o tempo todo. Segundo, porque só Deus é completo, portanto, só Ele pode nos completar, amparar e encorajar com excelência. Isso quer dizer que o conhecimento que temos de Deus bem como o relacionamento de confiança e amor que temos com Ele ajudam a determinar o quanto nos sentimos amados, aceitos e compreendidos. Considere sobre isso: No amor de Deus é que podemos encontrar os melhores suprimentos para a nossa alma. Tanto é verdade que se um dia as pessoas se cansarem das nossas trapalhadas e se afastarem de nós, Deus ainda terá disposição para continuar ao nosso lado até o fim, e por toda a eternidade.
Há muitas outras perspectivas a serem levadas em conta, mas se eu as apresentasse aqui extrapolaria os objetivos principais dessa reflexão e tornaria o texto extenso demais. Por hora, faço votos de que todos aqueles que não se sentem amados, aceitos e compreendidos possam perceber a grandeza do amor de Deus e admitir que existem pessoas ao redor empenhadas em demonstrar que “alguém te ama, alguém te quer, alguém te aceita, alguém te compreende...”.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Salve a Pátria!

A Semana da Pátria começou bombando e, pelo jeito, as comemorações da Independência do Brasil prometem.
Digo isso porque nesta segunda-feira, dia 03 de setembro, já se pode ver muita gente nas ruas com bandeiras,  faixas e cartazes, cantando, fazendo caminhada etc. Parece que o patriotismo está à flor da pele, como nos velhos tempos, tanto no interior quanto nas grandes capitais e, é claro, na capital federal.
Em Presidente Prudente, no interior paulista, foram os bancários que abriram as comemorações da semana realizando um ato singelo, porém, notado por toda a população. Muitos funcionários das agências bancárias pararam suas atividades normais cerca de uma hora, tempo suficiente para os prudentinos refletirem sobre as virtudes da Pátria e prestarem  sua homenagem a ela. Durante a paralização, eu ouvi muitas pessoas expressando seus sentimentos pelo Brasil, inclusive um sujeito que me disse que o ato dos bancários não tem nada a ver com as comemorações da Independência, e sim com protestos pela valorização da categoria e por mais dignidade salarial. É bem possível que ele esteja certo, mas, de um jeito de outro, isso também tem a ver com a Pátria e com a necessidade de refletirmos sobre seus problemas por pelo menos uma hora.
Na capital paulista, em vez de paralização, o começo da Semana da Pátria foi marcado por muita movimentação. O que mais chamou minha atenção foi a grande concentração e marcha dos sem-teto, que saiu da Praça Princesa Isabel na direção da Avenida Prestes Maia, onde está a Secretaria de Patrimônio da União. De acordo com algumas agências de notícias, o propósito desse ato comemorativo é abrir um canal de diálogo com o governo e promover um encontro com as autoridades públicas. Ora, o Brasil talvez seja o único país em que governo e sem-teto se reúnam na Semana da Pátria para refletirem juntos sobre o futuro da nação.  Segundo seus organizadores, a marcha contou com a presença de 1.750 pessoas, além de muitos policiais. Embora eu tenha ficado feliz com o possível encontro entre governo e sem-teto por ocasião do Dia da Independência, dizem por aí que esta marcha não tem nada a ver com protocolo de comemorações cívicas e patrióticas, mas sim com protestos de pessoas que não têm onde morar e que provocaram uma série de invasões na cidade de São Paulo na madrugada e na manhã de hoje. Talvez aqueles que estão dizendo isso tenham razão, mas, independente da motivação, os sem-teto e o governo precisam mesmo se encontrar para discutir os problemas de moradia no Brasil. Tomara que mais seguimentos da sociedade sejam convidados. Que tal no feriado?
Por último, penso que uma das melhores homenagens que se poderia prestar à Pátria é o que os ministros do Supremo Tribunal Federal pretendem fazer esta semana: intensificar a faxina nos porões da nação. Em todo lugar se comenta que o combate à corrupção tende a aumentar e que estamos caminhando para um tratamento mais rigoroso em relação ao mensalão e outros esquemas semelhantes. Porém, os mais pessimistas ou escaldados comentam que isso tudo vai dar em nada. Pode até ser que eles acertem na previsão, mas penso que vale a pena a gente tentar. Viva o Brasil! Salve a Pátria!

sábado, 1 de setembro de 2012

O Urso (bi) Polar

A vida do urso polar é bastante interessante. Não é à toa que existem inúmeras figuras, desenhos animados, propagandas e outras imagens deste animalão veiculadas no cinema, internet, televisão, enfim, na mídia como um todo.
Dentre os aspectos que poderiam explicar o grande interesse pelo urso polar, penso que o mais marcante seja a ambiguidade de seu comportamento, com atitudes que muitas vezes parecem opostas e até contraditórias entre si. Neste sentido, quando por um lado o urso polar se mostra violento e ágil ao atacar uma determinada presa, por outro ele se mostra lento  e delicado ao caminhar e brincar carinhosamente com seus filhotes.  Ao mesmo tempo em que este animal pode gerar medo por causa de seu tamanho e de suas garras, parecendo tão pesado, forte e assustador, também pode despertar simpatia e afeto quando se levanta para cheirar uma flor, parecendo tão leve, inocente e romântico. E talvez os principais extremos ou opostos deste urso se revelam quando, pela própria natureza, ele passeia livre, disposto e animado em determinados dias do ano, quando então se pode vê-lo com facilidade deslizando na neve e fazendo outras performances para quem quiser fotografá-lo, mas pouco tempo depois desaparece da frente das câmaras, dando a impressão que foi para o outro polo ou sumiu do mapa, passando a hibernar em uma cavernar qualquer, longe de tudo e de todos. Penso que tal característica faz do urso polar um ser um tanto quanto parecido com a gente, e talvez por isso mesmo desperta interesse, curiosidade e admiração.

Assim, penso que todos nós temos um pouquinho de urso polar. Seja por influência de fatores culturais, patológicos ou quaisquer outros fatores, uma hora estamos felizes da vida, cheios de amor para dar e com um milhão de amigos, mas horas depois nos comportamos com se odiássemos a existência, nada presta, queremos ficar sozinhos e não sabemos o motivo (não sabemos, não queremos saber e temos raiva de quem sabe). De manhã, podemos ser azedos e agir como um furacão; à tarde, podemos nos tornar doces e leves como uma brisa. Na calmaria, podemos estimar e considerar algumas pessoas como “anjos de Deus”; mas nos instantes de conflitos e das contas pra pagar podemos atribuir a estas mesmas pessoas outras conotações, como “meu carma”, “minha cruz”, “tentação” etc. Vamos de um polo ao outro, do verão ao inverno, do céu ao inferno, do norte ao sul em poucos minutos, horas ou dias. Será que é porque moramos num planeta bipolar, isto é, que existe e vive entre dois polos há bilhões de anos? Será que é por isso que seus habitantes também se acostumaram a bi polarizar as coisas, as emoções e seu dia a dia?

Bem, seja qual for a explicação ou explicações, científicas ou imaginárias, o que mais importa é que tanto no inverno quanto no verão, na alegria e na tristeza, nos momentos de brisa ou de furacão, fazemos parte do ciclo da vida, assim como o urso polar. Portanto, seja quando hibernarmos seja quando fizermos performances públicas e notórias, façamos isto para promover a vida e cooperar com os propósitos do Criador de um polo ao outro – e mesmo além deles – afinal a vida é muito mais do que as nossas bipolaridades.