segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sertanejo Universitário

Gosto não se discute, e a diversidade cultural merece ser respeitada. Mesmo tendo esta convicção, até agora não consegui assimilar direito o significado do termo “sertanejo universitário”, atribuído a um gênero musical muito presente nos dias de hoje. Digo isto porque, em minha opinião, tal gênero parece  ter  pouquíssima coisa de sertão e de universidade.
Meu desconforto principal não tem a ver com os ritmos ou com as letras, mesmo porque esse tipo de expressão cultural existe há muito tempo no Brasil; já estamos acostumados. São iguais ou muito semelhantes ao que, há décadas, pode-se encontrar no vanerão, no xote, no baião, no axé, no country e, especialmente, nas músicas que antes eram consideradas bregas. São melodias e letras que, por serem ultra básicas, quase infantis, são bastante animadas e fáceis de memorizar, cantar, dançar, pular etc. São excelentes para ajuntar os amigos e promover diversão. É até legalzinho! Portanto, o estilo chamado “sertanejo universitário” não constitui uma novidade cultural e também não precisa ser motivo de preconceito ou repúdio. Além do que, embora eu não curta nem recomende os conceitos difundidos neste tipo de música, reconheço nele um valor muito positivo: O "sertanejo universitário" favoreceu à música brasileira conquistar mais espaço nos meios de comunicação e entretenimento em nosso país, gerando mais emprego, renda e outras oportunidades para os brasileiros, reduzindo assim o espaço e o consumo exagerado de músicas estrangeiras, especialmente, norte americanas.
Isto posto, importa dizer que minha principal estranheza quanto ao “sertanejo universitário” é justamente a sua nomenclatura. Por que “sertanejo”? Qualquer pessoa pode perceber que não há quase nada de “sertanejo” nesse tipo de música. Ora, o ambiente sertanejo de verdade é muito natural e  rural, chega a ser rústico e hostil. Não há boates, baladas, piscinas, luxúrias, facilidades, carrões e ociosidades que aparecem nas músicas “sertanejas universitárias”. No mesmo sentido, o povo sertanejo costuma ser um povo simples, modesto, muitas vezes humilde. Não tem nada a ver com os personagens ambiciosos, inconsequentes, fanfarrões, arrogantes, narcisistas e excêntricos que aparecem nas músicas do “sertanejo universitário”. O homem sertanejo não anda de Camaro amarelo, geralmente ele anda a pé, a cavalo ou de carroça. No sertão, quando “as mina pira”, é de tanto moer café, cuidar dos animais ou cortar cana; elas não piram porque encheram a cara de cerveja ou uísque. No mesmo sentido, o povo sertanejo não fica na balada até o amanhecer, pois ele não tem tempo nem dinheiro para fazer estas coisas que as músicas “sertanejas universitárias” apresentam. Então, enquanto os adeptos do “sertanejo universitário” saem da farra de manhazinha e vão dormir, o autêntico homem sertanejo já se levantou,  fez sua marmita e foi pra roça. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. É uma ilusão. É só marketing.
Tão equivocado quanto o termo “sertanejo” é o termo “universitário”. Eu que passei por duas universidades e uma faculdade,  sei que a maioria dos alunos do ensino superior e seus familiares dão um duro danado pra pagar os estudos, a moradia, o material escolar etc; e que tem muita gente estudando com crédito educativo e outros tipos de financiamento. Quase ninguém tem dinheiro sobrando para esbanjar nas baladas e nos rodeios. Também sei que quase todos os alunos universitários passam horas e horas se empenhando para aprender, tirar boas notas e dominar as matérias do curso. Não são jovens compulsivos e alienados. E as garotas não são promíscuas ou levianas como algumas músicas “sertanejas universitárias” sugerem. A maior parte  das meninas quer encontrar o amor da sua vida e sonham em se casar. Ao contrário do que dizem as músicas, elas não têm “cara de santa”, mas também não são endiabradas como alguns cantam por aí. E o que talvez seja a pior constatação em relação ao termo “universitário” é que existe um número enorme de adeptos desse gênero musical, quem sabe a maioria deles, que não frequentam e nunca frequentaram uma universidade. Esta é mais uma ilusão promovida pelo marketing “sertanejo universitário”.
Sendo assim, vejo apenas dois fundamentos que justificam  empregar a expressão “sertanejo universitário” às músicas em questão. O primeiro motivo é atrair o público jovem, tanto do campo quanto da universidade, para que sejam consumidores fiéis por muitos anos de vida. O segundo motivo é atrair comercialmente os demais públicos jovens servindo-se da caricatura, da depreciação e da banalização do homem sertanejo e do jovem universitário, pessoas que merecem mais respeito de todos nós.
Conforme já mencionei, não tenho preconceito e não sinto repulsa a nenhuma forma de expressão musical, portanto, não se faz necessário mudar nem o ritmo nem a letra do chamado “sertanejo universitário”, mas, por favor, mudem o nome, inventem outro, façam qualquer coisa para corrigir a mutação que o sentido de " sertanejo" e "universitário" vem sofrendo. Que tal fazer um concurso para escolher um novo nome? Se você tiver alguma sugestão, compartilhe com a gente.




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