A maioria de nós já afirmou pelo menos uma vez na vida que as aparências enganam. Embora eu veja alguns limites nesta afirmação, admito que ela tem muito sentido e fundamento, conforme passo a descrever agora.
Certa manhã, uma amiga solicitou que eu a ajudasse numa determinada situação que se desenrolaria às 15h daquele mesmo dia, mas como eu já tinha compromisso com outra pessoa no escritório da igreja no mesmo horário, expliquei a minha amiga que não poderia atendê-la conforme ela havia solicitado, mas que poderia fazê-lo no dia seguinte. Beleza. Acontece que a pessoa com a qual eu tinha compromisso às 15h não compareceu, então aproveitei aquele breve período de tempo que ficou livre para dar um pulinho numa loja do shopping a fim de fazer mais um furo no cinto que eu ganhara de presente no dia anterior. Chegando ao shopping, pouco depois das 15h, quem eu encontro? Isso mesmo, aquela amiga que eu não ajudei porque eu disse que tinha compromisso com outra pessoa no escritório da igreja às 15h. Não poderia ser pior. Imagine o clima ruim que pintou quando eu dei de cara com ela na escada rolante. Fiquei super constrangido com a situação, especialmente por perceber a expressão de surpresa e decepção em seu rosto. Mesmo sem falar nada, foi como se ela estivesse gritando pra todo mundo ouvir: “Bonito, hein, seu Flávio?! Mentiroso... Inventou que tinha compromisso com outra pessoa só pra não me ajudar, né?!”. Estava instaurada a aparência do mal. No dia seguinte, minha amiga e eu conversamos sobre o que havia acontecido e finalmente pude esclarecer o mal entendido. Ficou tudo bem.
Mais curioso do que este caso é aquele que eu chamo de “havia um poste no meio do caminho”, parafraseando o poema de Carlos Drumond. Este episódio se deu quando eu percorria um dos bairros da cidade onde moro e, ao virar numa determinada rua, perto de um cruzamento, dei de cara com um poste elétrico bem no meio da via pública. Instintivamente, pensei: “Que absurdo! Que ideia de jerico! Onde já se viu colocar um poste no meio da rua?!” Antes que eu falasse alguma coisa e disparasse algumas palvras contra a prefeitura, a pessoa que estava comigo esclareceu que o poste foi colocado ali bem antes que aquela rua fosse feita, e que a tal via só foi aberta naquele local e daquela maneira estranha para suprir uma necessidade emergencial do bairro, mas que já há estudos para adequar melhor a situação. Ufa! Que susto! Dito isto, desfez-se a aparência de completa incompetência das autoridades públicas.
Por último, quero compartilhar o exemplo que, em minha opinião, melhor expressa o quanto as aparências enganam. Refiro-me ao que está escrito em 1 Coríntios 1.18-25, de onde se conclui que, para os gregos da época, especialistas em sabedoria e ciência, a cruz de Cristo tinha aparência de loucura, coisa sem sentido, sem lógica, sem razão. E para os judeus daquele tempo, especialistas em legalismo e moralismo, a cruz aparentava vergonha, escândalo, condenação. Mas para Deus, especialista em nos amar e abençoar, a cruz de Cristo é prova de amor incondicional e oportunidade de nova vida para os que creem e enxergam além das aparências humanas. Bem, entre o que o pensam os judeus, os gregos e Deus, eu fico com Deus. Mesmo porque Ele não se deixa levar pelas aparências, e por causa disso pode nos ajudar a discernir bem as coisas, como está muito claro em 1 Samuel 16.6-7: “Disse Deus a Samuel: Não atentes para a aparência dele.... porque o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior; Deus, porém, vê o coração”.
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