sábado, 22 de setembro de 2012

Poderia Ser Pior!

Praticamente todas as crianças com as quais convivo são bastante imediatistas e pragmáticas. Muitas delas têm dificuldade em lidar com imprevistos e quaisquer outras situações inesperadas que interrompam ou retardem os planos que fizeram. Nesse sentido, ficam super ultra mega emburradas se chover bem no dia em que a escola faria um piquenique; ficam super ultra mega boladas se não forem à festa de aniversário porque tiveram que estudar para a prova do dia seguinte; chegam a ficar revoltadas se perderem a sessão de cinema porque o pneu do carro furou. De certa forma, isso é natural, afinal elas ainda estão aprendendo a lidar com frustrações, imprevistos, limitações e com a necessidade de mudar os planos e se adaptar.
Mas estas crianças vão crescer e terão a chance de perceber que nem todas as coisas que antes consideravam muito ruins são tão ruins assim. Perceberão também que certas situações adversas ou contrárias ao que nós queremos podem contribuir para a realização de outras conquistas importantes. Chegarão ao ponto de, diante de algo bem desagradável, identificar aspectos positivos, consoladores e até motivadores. Neste momento compreenderão e aplicarão a sua própria vida alguns ditados que as pessoas mais experientes costumam falar, como, por exemplo, “há males que vêm para bem” ou “Deus escreve certo por linhas tortas” ou ainda “poderia ser pior”. Isto é um dos aspectos da maturidade.
Penso que o auge dessa maturidade acontece quando a pessoa vai além dos ditados populares já mencionados e mergulha de corpo e alma naquilo que está escrito em Romanos 8.28, onde o apóstolo Paulo faz a seguinte afirmação: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus; daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Em poucas palavras, o texto revela que Deus pode fazer com que tudo, inclusive as coisas super ultra mega desagradáveis, tenha algum proveito e contribua com o propósito que Ele tem para nós.
Vejo isso na vida de muita gente, inclusive na vida do próprio apóstolo Paulo que, numa certa ocasião, desejava muito ir para Roma, mas o navio em que viajava naufragou por causa de um furacão. Foram dias e noites à deriva, açoitados violentamente pelas ondas. Todos os que estavam a bordo foram ao mar e, é claro, a viagem foi interrompida. Isso foi horrível! Porém, todos se salvaram e se refugiaram numa pequena ilha que era habitada por um povo desconhecido, onde os náufragos foram tratados muito bem, com singular humanidade, e onde Deus operou milagres através da vida do Apóstolo. Os habitantes da ilha acolheram a pregação do Evangelho e, dias depois, providenciaram um novo navio para que Paulo e seus companheiros seguissem viagem para Roma. Deus fez com que todas as coisas cooperassem. Ninguém planejou nem desejou aquele naufrágio. Foi horrível, mas poderia ser pior!
Coisas desse tipo também aconteceram comigo, e um dos melhores exemplos que eu poderia compartilhar é o nascimento do nosso filho, que veio à luz com menos de sete meses de gestação, depois de minha esposa ter ficado três meses de cama, em repouso absoluto a fim de preservar a gravidez. Foram momentos muito difíceis e tensos. Quase todos os dias havia ameaça de aborto e outros riscos para o bebê e sua mãe. Nesse tempo, recebemos o amor, o carinho e a solidariedade de muita gente; foi transbordante e transformador; fomos tratados com singular humanidade, assim como aconteceu com o apóstolo Paulo na ilha de Malta. E no meio disso tudo, aprendi que, nascendo de nove meses ou a qualquer hora, meu filho precisaria de Deus do mesmo jeito (e nós também). Por fim, ele nasceu prematuramente, passou alguns dias na UTI neonatal, onde também teve algumas complicações. Lembro-me de uma pessoa que me disse: “Como você consegue se manter em paz sendo que seu filho está na UTI em estado grave?” Então eu respondi: “Eu não sei se realmente estou em paz, mas sei que a UTI é para nós o que a ilha de Malta foi para o apóstolo Paulo. A UTI não é o que nós planejamos; não é o que nós queríamos; mas poderia ser pior. Eu espero que Deus cuide do meu filho na UTI assim como cuidou de Paulo naquela ilha, e depois nos  permita seguir viajem”. Felizmente, ele saiu do hospital e nós estamos há oito anos navegando e conquistando coisas novas juntos.
Minha intensão com este artigo é dizer pra você que existem situações que, mesmo sendo adversas, podem cooperar para o nosso bem. Existem situações que, mesmo sendo apavorantes, podem ser transformadas e apaziguadas. E existem momentos que funcionam como uma ilha em nosso trajeto, isto é, não é bem onde a gente queria chegar, mas é o lugar onde nossa vida está sendo preservada; é onde podemos descansar um pouco e aprender coisas novas para depois seguir viagem rumo ao que sonhamos. Se você está numa ilha, aproveite o que for possível, e lembre-se: Poderia ser pior!

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